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Aramis

Curitiba, o cemitério dos sonhos artísticos

Terra de todas as gentes - conforme o título do musical que o jornalista Adherbal Fortes e o compositor (e hoje publicitário) Paulinho Vitola criaram para o espetáculo que inaugurou o auditório Bento Munhoz da Rocha Neto - Curitiba, nunca exigiu atestado de paranaense para nenhum músico que aqui chegasse. Graças a isto, instrumentistas de várias partes do país - e alguns até de outros países - aqui sempre foram bem recebidos, deram sua contribuição mas, infelizmente poucos permaneceram - por uma simples razão: falta de melhores chances profissionais. Apesar de tudo, ainda há artistas que se apaixonaram pelas boas coisas (que existem!) nesta Cidade Sorriso - mas que musicalmente fica cada vez mais esvaziada. O pianista Lázaro, uruguaio de versatilidade tão grande quanto seu humor, já passou por quase todos os pianos de restaurantes e bares da cidade e hoje está num sofisticado (e caro) bar da moda - o Jordan's. Sofreu um enfarte no ano passado, recuperou-se para alegria de seus muitos amigos e viajou neste verão a Europa. xxx O carioca Roberto Nascimento, 51 anos, quilometragem sonora que inclui mais de 200 composições e parcerias ilustres que incluem até Carlos e Radamés Gnatalli, vive em Curitiba há 18 meses. Razões do coração - a paixão por uma bela psicóloga (Simone) e as esperanças de aqui encontrar espaço para quem, há mais de três décadas, trabalha com música, shows, palavras e muita criatividade, após vivências no Exterior (México, entre 1967/73, Itália, França, Inglaterra etc) o levaram a trocar o calor e a violência carioca por uma experiência curitibana. Só que apesar de um gordíssimo (e comprovado) curriculum, músicas gravadas, um marcante elepê e anos de trabalho na Rede Globo, inclusive organizando eventos, não foram suficientes, até hoje, para lhe abrir oportunidades profissionais. Com muito custo teve uma breve passagem na programação artística na Rádio Porto Alegre-AM, no período em que Bayard Osna e Enéas Faria tentaram viabilizar aquela AM (pertencente ao locutor Rogério Wolff) e, para a frustrada montagem "O Guerrilheiro da Inconfidência", feita pelo TCP, criou uma trilha sonora original. Jinglilsta experiente, mostrou talento em trabalhos em alguns dos estúdios de som da cidade - especialmente no Audisom - "mas o mercado ainda é pequeno". Com muitos sonhos e projetos - inclusive um ballet ("Morador num coração sem moradia"), vontade de mostrar, "da forma que me permitirem" o que sabe fazer, Roberto Nascimento ainda conserva "um rastolho de esperança". Mas a cada dia, se entristece mais em ver uma Capital tão badalada promocionalmente esvaziar-se em termos artístico-musicais. Como ele muitos outros criadores conscientes, que não façam parte das panelinhas com a proteção da FUCUCU e adjacências - sofre uma discriminação profissional que só faz com que a nossa cidade perca cada vez mais em termos de vida artística e animação musical.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
01/02/1992

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