Curitiba Merece os Espetaculos Internacionais?
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de janeiro de 1973
Curitiba tem condições de assistir espetáculos internacionais/? A pergunta tem sua razão, pois até hoje poucas vezes alguém encorajou-se a promover a vinda à nossa Cidade dos grandes atrações que anualmente passam pela Guanabara e São Paulo a caminho de Buenos Aires - ainda a grande metrópole cultural da América do Sul. Com exceção de duas ou três iniciativas mais corajosas da Pró-Música )orquestras de Utah e da Rádio e Televisão Francesa, em 71/72, respectivamente), normalmente os dirigentes de nossas entidades culturais desperdiçam excelentes oportunidades, com a alegação de que "o curitibano não prestigia". Mas a realidade é que nas raras oportunidades o público tem comparecido para aplaudir espetáculos de real valor. E uma nova chance vem aí: o empresário Valter Santos Filho, diretor de Aules - agência carioca especializada na apresentação no Brasil dos melhores espetáculos de música erudita, balé e jazz, chaga a Curitiba na quinta-feira, para propor a inclusão de nossa cidade no roteiro das apresentações das duas grandes atrações que trará este ano: o The Modern Jazz Quartet e o Bill Evans Trio. Walter vem conversar com os dirigentes de todas as entidades culturais, com propostas claras e objetivas: a vinda ao Brasil do MJQ e Bill Evans ficará em muitos mil dólares, divididos entre os espetáculos que dará na Guanabara, São Paulo e Porto Alegre - cidades já confirmadas. Curitiba, que deixou de aplaudir em 1971/72 espetáculos com Oscar Peterson, Ella Fitzerald, Sarah Vaughan e outros monstros sagrados da música internacional, poderá mais uma vez ficar de fora se houver coragem otimismo e desprendimento para que se ofereça à população inteligente dois espetáculos do mais alto nível. O Modern Jazz Quartet foi criado em 1952, por quatro antigos membros da grande orquestra de Dizzy Gillespie: MiltJackson, Ray Brown, Percy Heath e Kenny Clarke. Posteriormente, John Lewis substituiu a Brown e, em 1954, Connie Kay a Kenny Clarke A partir de então, o MJQ formou-se como o mais importante quarteto de jazz, anualmente excursionando pela Europa e Estados Unidos e, agora, pela segunda vez, vindo à América do Sul, Já Bill Evans, é considerado por muitos como o mais criativo e pessoal pianista de jazz, tendo influenciado toda uma geração de músicos que apareceram a partir dos anos 50. Com seu trio, tem aparecido com destaque em vários festivais principalmente Montreaux, na Suíça. São dois grupos do mais alto nível musical, que mesmo ligados ao Jazz - o que pode ser visto com restrições pelos puristas acadêmicos de nossa chamada música erudita - têm contribuído enormemente na evolução musical contemporânea. Sua vinda ao Brasil - e a possibilidade de se apresentarem em Curitiba - e tema que deve ser pesado muito bem pelos dirigentes culturais da cidade, antes de, julgando todo um público, recusarem qualquer proposta sob a alegação tantas vezes repetida de que << jazz não é importante" ou "o público curitibano não sabe prestigiar espetáculos culturalmente elevados".
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