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Aramis

Crocodilo australiano e os jovens do Rio Grande

Mais uma semana de poucas estréias. Na verdade, apenas dois novos filmes estréiam esta semana: a comédia "Crocodilo Dundee", produção australiana, de Peter Faiman e que foi o maior sucesso de bilheteria nos EUA nos últimos meses (Cine Plaza) e a produção gaúcha "Quero Ser Feliz", de Sérgio Lerrer, que, a rigor, já deveria ter sido lançada na semana passada no Groff - mas que acabou sendo adiada devido ao prestigiamento que Francisco Alves deu a "A Opção", de Ozualdo Candeias. Assim, esta produção jovem do cinema gaúcho, estréia agora no Luz, em substituição a "Suspeita", de Hitchcock. O bom senso prevaleceu e João Aracheski e Aleixo Zonari, comandantes da Fama Filmes, decidiram manter em cartaz, por mais uma semana, o excelente "Depois de Horas", de Martin Scorcese - o primeiro grande filme de 1987. Uma obra marcante, profunda e envolvente, que merece ser vista por todos que sabem apreciar o bom cinema introspectivo e de idéias. Agora há um risco: dependendo da renda de "After Hours" nos próximos dias, talvez na próxima quinta-feira, 256, seja substituído por "Tangos - O Exílio de Gardel", de Fernando Solnas, um dos mais belos filmes dos últimos anos! Grande prêmio de Festival de Veneza - 1985 e tendo também sido premiado pela Unicef, Sindicato dos Críticos Italianos, pelos Cinemas de Arte e de Ensaio e em Biarritz, esta obra maravilhosa mereceria um lançamento especial - e não ser estreada às vésperas do Carnaval, tradicionalmente a pior época do ano. Esperava-se, mesmo, que pela sua importância artística, beleza estética e densidade dramática, "Tangos - o Exílio de Gardel" fosse reservado para a reabertura do Cine Bristol, que deve acontecer dentro de 8 semanas. Este filme encerrou o II Festival Internacional de Cinema, Televisão e Vídeo do Rio de Janeiro, em novembro de 1984, emocionando o público. Adquirido pela Alvorada (ex-Gaumont), foi pessimamente lançado em São Paulo (que falta Jean Gabriel Albicoco e Rose de Carvalho fazem na empresa), mas assim mesmo permaneceu várias semanas no Cine Belas Artes. Pela sua qualidade e sensibilidade, "Tangos" poderia motivar várias faixas de público, inclusive as academias de dança (há notáveis sequências de ballet). Para isto, bastaria que houvesse um trabalho prévio e a escolha de uma data mais oportuna. Exibí-lo ás vésperas do Carnaval, sem maior promoção, é queimar uma obra-prima de cinema. Aliás, é bom lembrar que foi uma véspera de Carnaval, no antigo Ópera, que se triturou o magnífico "Os Maridos", de John Cassavetes. Há cinco anos, a UIP também desperdiçou o excelente "A Chama Que Não se Apaga", de Alan Parker, lançando-o no Lido na semana de Carnaval. Esperamos que Aracheski, com sua experiência de 35 anos de programação cinematográfica, não cometa este erro e sacrifique a carreira de "Tangos - O Exílio de Gardel". CONTINUAÇÕES - "Berlin Affair", de Liliana Cavani, emplacou mesmo e continua em exibição no Itália. Um exemplo de filme que cresceu de público na base da propaganda boca-a-boca. Se tivesse havido pressa em retirá-lo de cartaz a Paris perderia um excelente filme em termos de bilheteria. O "menage-a-trois" de Gudrun Landgreeb, Kevin McNally e Mio Tanaki continua a atrair um grande público. Também com bom público, "Labirinto - A Magia do Tempo", de Jim Benson, em versão dublada, continua no Cinema I. Um filme com toques de magia e que traz ao lado do cantor/ator David Bowie, a bela Jennifer Connely, um rosto encantador do cinema deste final de década. Uma dupla dose de bom cinema mineiro: no Groff, em reprise, "Noites do Sertão", que Carlos Prates Correa realizou em 1984, inspirado em um conto de Guimarães Rosa - e que foi premiadíssimo no Festival de Cinema de Gramado, em 1985. Uma maravilhosa fotografia em cores, inspiradíssima trilha sonora de Tavinho Moura (lançada em disco independente) e um elenco reunindo Débora Bloch (seu primeiro grande papel no cinema), Cristina Aché, Tony Ramos e, em participação especial, Milton Nascimento. No sábado à meia-noite e domingo, às 10 horas, a chance de conhecer outro filme do mesmo diretor - "Cabaré Mineiro", igualmente premiado num festival de Gramado e com a bela trilha sonora de Tavinho Moura (editada pela EMI-Odeon, mas há muito fora de catálogo). São dois filmes, com uma sensível e profunda visão mineira de personagens em belos cenários, que merece revisões atentas. Para quem curte o terror, além de "Poltergeist II", de Brian Gibson continuar no Condor, temos ainda hoje no Lido II (à noite) "Fome de Viver" (The Hunger), o barroco filme de Tony Scott, de Catherine Deneuve maravilhosa como uma vampira e David Bowie envelhecendo séculos em poucos minutos. No São João, volta "A Hora do Pesadelo" (A Nightmare On Elm Street), de Wes Craven, com John Sacon e Heater Longenkamp, volta ao cartaz. No Lido I continua "Carona Para a Morte" e no Lido II, a partir de amanhã, à noite, retorna "Flash Dance", um filme-dança que faturou os tubos há dois anos. Nas sessões da tarde continua "As peripécias de um ratinho detetive". LEGENDA FOTO - Paul Hackett (Griffin Dunne) e Mark (Robert Plunket) em "Depois de Horas", o melhor filme em exibição (Astor), na cidade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Cinema
20/02/1987

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