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Aramis

"Coronel Redl" e "Trem", os dois bons lançamentos

Poucas vezes estrearam tantos filmes atraentes. Nunca faltaram tanto espectadores. A crise de público nos filmes brasileiros (ver comentário em "Tablóide", nesta mesma edição) é altamente preocupante e produções recentes, apresentados em festivais - ganhando com isto um ótimo espaço promocional - nem assim conseguem despertar o grande público. Que, no máximo, prefere "As Bruxas de Eastwick", de George Miller (Astor, 2ª semana) ou "Robocop" (Plaza), os únicos filmes de boa bilheteria. "Veludo Azul", de David Lynch - que reabriu o Bristol - tinha previsto mais uma semana de exibição, então no Cinema I. Mas frente aos fracos borderaux da casa da Rua Mateus Leme, os "tycons" do escritório da Raposa, no Rio, decidiram remeter a cópia que estava em Curitiba para outra praça e assim, inesperadamente, Aleixo Zonari teve que programar outra fita para o cinema da Rua Saldanha Marinho. Ganha o público que não tem vídeo-cassete: ali está em exibição "Coronel Redl", de István Szabó, apresentado no II FestRio (1985) e que há meses vem sendo visto em cópias (legalizadas) em vídeo. Entretanto, para quem aprecia cinema de verdade, nada como apreciar as belíssimas imagens de Lojal Koltai na tela ampla. Famoso por "Mephisto" (que o astuto Chico Alves reprisa no cine Luz), o cineasta húngaro István Szabó baseou-se em fatos reais para contar em "Coronel Redl" a trajetória de um jovem ambicioso, que faz sua carreira militar repleta de traições para alcançar os postos mais elevados. O excelente Klaus Maria Brandauer, o mesmo intérprete de "Mephisto", cria uma nova interpretação segura, ao lado a alemã Gudrun Langbree, Armin Muller-Stahl e Dorottya Udvaros. "Coronel Redl" é a melhor estréia da semana. Lamentável apenas que tenha interrompido a exibição de "Conte Comigo" (Stand By Me), de Rob Reiner - um nostálgico e sentimental mergulho no mundo da adolescência, elogiado internacionalmente pela crítica, mas que, exibido no Cinema I, na semana passada, teve o mesmo destino de tantas outras obras-primas que aqui chegam: totalmente ignorado pelo público. O TREM DE CACÁ O press-book que a Embrafilmes preparou para "Um Trem para as Estrelas" tem nada menos que 64 páginas. São depoimentos, biografias, informações etc sobre este novo filme de Carlos Diégues, que representou o Brasil em Cannes e tem sido apresentado, hors-concours, em alguns festivais. Cacá Diégues é um dos nossos cineastas favoritos. Desde "Ganga Zumba", em 1964, vem realizando uma obra pessoal, inteligente e brasileiríssima em seus temas. Tem conseguido sensibilizar o público algumas vezes, mas sua penúltima realização - "Quilombo", foi um fracasso de bilheteria tão grande que amargou quatro anos para cobrir os prejuízos. "Um Trem para as Estrelas" o devolve ao ambiente urbano, que tão bem soube captar em "A Grande Cidade" e, especialmente, "Chuvas de Verão". Como Cacá não veio a Curitiba - uma gripe o impediu que estivesse quarta-feira, 14, na pré-estréia que o colunista Ruy Barroso promoveu de seu filme - vamos transcrever do robusto press-book do filme: "Um Trem para as Estrelas" é um filme sobre a barra pesada que é viver numa grande cidade brasileira, neste final do século XX, tenha você a idade que tiver. Mas, como esse filme é feito com amor e esperança, ele finalmente pega leve na barra pesada. Um filme que não é feito de idéias acabadas, mas de diferentes e autônomos acontecimentos simultâneos, como se fossem fotogramas coloridos, iluminados e tornados orgânicos na ordem da película. Um filme é confetes de luz. Esse é dedicado aos que acreditam na força moral da poesia". A trilha sonora (Gilberto Gil) é belíssima e o elenco primoroso: Guilherme Fontes, Milton Gonçalves, Taumaturgo Ferreira, a estreante Ana Beatriz Wiltgen, o veterano Zé Trindade, Miriam Pires. Uma participação especial: o performático Fausto Fawcett, que com sua música-happening é o novo "cult artist" da Zona Sul do Rio de Janeiro, já tendo um disco editado pela WEA. Participaram também do filme Tania Bôscoli, Flavio Santiago (que morou algum tempo em Curitiba), Iolanda Cardoso, Ezequiel Neves, Cazuza, Paula Lavigne, Daniel Filho, entre tantos outros. Um filme que merece ser visto. Inteligente, bem realizado. Não é justo ignorá-lo. OUTRAS OPÇÕES David Cronemberg, diretor de "Scaners", é o diretor de "A Hora da Zona Morta" (Dead Zone), novo filme de terror que chega no Palace Itália. No elenco, alguns intérpretes conhecidos: Martin Scheen, Christopher Wacken, Tom Skerritt e o veterano Herbert Lom. Na Cinemateca do Museu Guido Viaro, uma mostra de raridades do cinema francês. Neste fim de semana "As Grandes Manobras", de René Clair, que trouxe Brigitte Bardot num de seus primeiros papéis. Um clássico que merece ser revisto. A partir do dia 20, a Cinemateca exibe uma nova mostra organizada pelo Instituto Goethe, que inicia com "Nenhuma Saída, apenas passagem", de Reuner Wolffhardt e vai encerrar com o famoso documentário que Maximilian Schell realizou sobre a mitológica atriz Marlene Dietrich. Uma programação imperdível... se houver tempo. LEGENDA FOTO - Guilherme Fontes, Daniel Filho e Flávio Santiago em "Um Trem para as Estrelas": em exibição no Bristol.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
2
16/10/1987

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