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Aramis

Contrapontos da literatura

Uma das mais antigas editoras brasileiras, a Vozes tem um dos mais respeitados catálogos de obras destinadas ao público universitário. São centenas de títulos cobrindo as mais diferentes áreas. Agora, mais um bom lançamento abre uma nova coleção - a Debate Cultural: "Os Contrapontos da Literatura" (Arte, Ciência e Filosofia). Coube justamente à coordenação desta nova série, professora Sônia Salomão Khêde, organizar este volume de 134 páginas que procura, através de textos de vários autores, mostrar que o caráter interdisciplinar inerente ao estudo da literatura é responsável pela multiplicidade de abordagens desta forma de manifestação artística que trabalha com matéria-prima culturalmente simbolizada: a palavra. Quando se trata da literatura, portanto, é comum a confluência de discursos no que se refere à filosofia, ao teatro, à música, à cultura de massa, à psicanálise ou às ciências sociais, para fixar em alguns exemplos. E é desse contraponto que tratam os autores deste volume, a partir da ótica das disciplinas com que trabalham, escolhidas em razão das imagens relações que têm mantido com a literatura ao longo dos tempos. O conjunto desses textos que, de certo modo dialogam entre si, interessará a todos que tenham a ver direta ou indiretamente com essas formas de conhecimento, e principalmente a todos que se mobilizam com o debate sobre a "razão instrumental" que nos conduziu ao mundo automatizado, funcionalista e hiper especializado de hoje. Para dar um sentido abrangente à sua proposta, Sônia buscou autores da maior competência, que oferecem enfoques dos mais interessantes em torno do tema proposto: Pedro Lyra ("Ciência, Filosofia e Arte"), Ronaldo Lima Lins ("Literatura e Cinema: Ruína e construção no universo do impasse"), Yan Michalski ("Literatura e teatro: o conturbado mas indissolúvel casamento"), André Bueno ("Literatura e música: a palavra escrita, a palavra falada, a palavra cantada"), Gustavo Barbosa ("Literatura e Comunicação de Massa: Fragmentos para a Reflexão"), Lúcia Lippi Oliveira ("Literatura e Ciências Sociais: Literatura e Sociedade/Teoria Literária e análise sociológica"), Gerd Bornheim ("Literatura e Filosofia/O Espaço da Estética"), Wilson Chegabi ("Literatura e Psicanálise; o que a psicanálise deve à literatura") e Elilana Yunes ("Literatura e Educação"). Sônia Salomão ainda fez o capítulo "A Literatura como Arte na Contemporaneidade". xxx A mesma Vozes faz outro lançamento interessante: "De baixo Para Cima/A Utopia no Brasil" de Carlos Aveline. No prefácio, dom José Maria Stroher, bispo auxiliar de Porto Alegre (cidade em que reside o autor) diz que este livro é "fruto da inquietação de um jovem: uma busca de alternativas para a sociedade hoje. Parte da experiência própria e busca luzes nas experiências dos outros". Realmente, Aveline é um autor inquieto. Jornalista, 32 anos, se orgulha de não possuir qualquer título acadêmico e, bem humorado, lembra Mark Twain: - "Nunca permiti que a escola atrapalhasse meus estudos". Aos 16 anos, em 1968, era presidente de um grêmio estudantil fechado pelo DOPS de São Paulo. Na década de 70 morou em Buenos Aires e Lima, onde escreveu sobre política internacional enquanto vivia a tentativa de socialização dos grandes jornais peruanos (1974-76). Mais tarde, em Porto Alegre, foi revisor, redator de TV, repórter e professor de inglês. Em seu livro procura traçar uma vasta fotografia do surgimento de um novo modelo econômico, político, social e cultural baseado na participação. Mas reflexão positiva sobre o destino do homem neste final de século. Uma leitura atraente para o desenvolvimento de uma proposta utópica de fraternidade - mas bem mais viável do que a prolongação indefinida da crise atual.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Leitura
22
03/03/1985

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