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Aramis

Conheça Taylor, um mestre das baquetas

Entre tantos méritos que fazem a Barclay (ex-Ariola) merecer cumprimentos pela corajosa produção jazzística que colocou ao alcance dos brasileiros no segundo semestre de 1984 está o de mesclar suas edições entre nomes consagrados, de público certo, a talentosos instrumentistas que apesar de uma obra já firmada são praticamente desconhecidos entre nós, justamente pela pobreza de nossa discografia jazzística. O mundo do jazz é tão grande, com tantos instrumentistas de méritos, que se torna difícil, mesmo a especialistas como Armando Aflalo (Rádio Eldorado, Jornal da Tarde, SP) e José Domingos Raffaelli (Jornal do Brasil) manterem uma informação up to date, tal o número de edições existentes internacionalmente. O que dizer, então, do público brasileiro, impossibilitado de ter acesso as gravações importadas (hoje custando mais de Cr$ 50 mil a unidade) e contando com poucas edições nacionais? Mesmo com todo o esforço que gravadoras como a Polygram com sua básica "The Verve Years", WEA (com sua série "Jazz Odissey"), e, especialmente, a Barclay tem feito, os discos de jazz que aparecem no Brasil representam uma gota d'água num oceano de opções do que há internacionalmente. Mas antes isto do que nada e portanto tem que se curtir o som renovador e inteligente que traz, por exemplo o baterista Arthur Taylor no interessantíssimo elepê "Taylor's Wailers". Quando se fala na bateria em jazz, dois nomes, naturalmente, afloram: Max Roach (Brooklyn, Nova Iorque, 10-01-1025), e Buddy Rich, também nova-iorquino, só que oito anos mais velho. Entretanto, é extensa a galeria dos drumers que marcaram o jazz - e que até os anos 60 praticamente eram exclusivos nesta categoria rítmica. Hoje, os percussionistas dividem com os bateristas o equilíbrio musical numa simbiose bem absorvida, especialmente com o ritmo latino, que a partir da chegada do catarinense (quase paranaense) Airto Guimorvan Moreira, abriu caminho para tantos outros brasileiros que conseguiram seus espaços nos Estados Unidos. Arthur Taylor (Nova Iorque, 16 de abril de 1929) não chega a ser, apesar de sua longa carreira, um nome popular fora dos Estados Unidos. Tem, entretanto, um curriculum expressivo que começa nos distantes anos 40, quando começou a fazer música, inicialmente em grupos de jovens da vizinhança do Harlen, onde passou sua infância, até se unir ao saxofonista Jackie McLean (outro músico importante, com um elepê agora editado no Brasil pela Barclay), o pianista Kenny McGhee e, por um ano, com Coleman Hawkins (1950-51) - com quem teve sólida aprendizagem. Trabalhou depois com o clarinetista Buddy De Franco (1952), Bud Powell (1953), George Wallington - Art Farmer - Gigi Gry (1954) e, posteriormente, Miles Davis. Em 1956, Taylor era um nome conhecido em Greenwich Village, e nesta época desenvolveu um trabalho com instrumentistas evoluídos, que buscavam novas formas de expressão - como os sax-tenoristas Charlie Rouse e John Coltrane; o pistonista Donald Byrd; os pianistas Ray Bryant e Red Garland; o saxofonista alto Jackie McLean e os baixistas Wendell Marshall e Paul Chambers. Este encontro resultou nos chamados Taylor's Wailers, que enchendo, musicalmente, as noites do Greenwich Village dos esplendorosos anos 50, viriam a terem algumas sessões de gravações no prestigioso selo Prestige - o que documenta o álbum agora colocado ao alcance do público brasileiro. Sente-se nas seis faixas deste LP todo o vigor criativo de uma das fases mais brilhantes do jazz nova-iorquino. Partindo de temas de Thelonious Monk ("Off Minor", "Well, You Needn't") Arthur Taylor e seus companheiros oferecem momentos de mágicas improvisações. Por exemplo, em "C. T. A." (Jimmy Heath) o solo é do antológico John Coltrane (1926-1969), no qual também participa o baixista Paul Chambers (substituído nas outras faixas por Wendell Marshall). "Exhibit A" e "Batland" são composições de Lee Sears, enquanto "Cubano Chant" revela o pianista Ray Bryant como compositor. Uma reunião interessantíssima de virtuoses jazzísticos, num disco inovador e criativo. Produzido há 29 anos, transmite a sensação de que foi feito agora. Ou melhor ainda, amanhã.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
19
17/02/1985

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