Login do usuário

Aramis

Com novos parceiros, João entra na Zona de Fronteira

Para comemorar 20 anos de carreira, João Bosco (Mucci), mineiro de Ponte Nova, 46 anos completados dia 13 de julho, está pensando num grande espetáculo "de avaliação, de reflexão desta caminhada". Em agradável entrevista telefônica, dos estúdios da Sony, no Rio de Janeiro - pela qual acaba de sair o seu 14º elepê ("Zona de Fronteira"), João fala com entusiasmo não só deste novo trabalho - desenvolvido com dois novos parceiros - o baiano Wally Salomão, diretor dos shows "Fatal" e "Plural" de Gal Costa e o carioca Antônio Cícero, mais conhecido como irmão e habitual parceiro de Marina (embora tenha ficado de fora do seu último elepê, recém-lançado pela EMI-Odeon) - mas também de um novo parceiro instrumental. É o guitarrista Vicente Amigo, 24 anos, que conheceu recentemente no festival da guitarra de Córdoba, na Espanha. - "Ele é fantástico ao violão. Leva bem mais audaciosamente as experimentações de Paco de Lucia". Com Vicente Amigo e mais os músicos com quem vem trabalhando habitualmente - Nico Assunção no baixo e o percussionista Armando Marçal, João viajará novamente ao Japão e Europa, dentro de um roteiro que desde 1984 tem percorrido habitualmente. Com quase 300 músicas - metade das quais gravadas por ele próprio desde que estreou com "Agnus Dei" no pioneiro "Disco de Bolso" que seu amigo Sérgio Ricardo lançou em 1972 (no outro lado, tinha Antônio Carlos Jobim no primeiro registro de "Águas de Março") - João Bosco é um dos raros compositores brasileiros surgidos nos anos 70, que mantém uma admirável coerência e dignidade artística, embora, "como todo artista, investindo no que acredito, nunca deixei de refletir novos momentos de criação". Das primeiras parcerias com Vinícius de Moraes ("Samba do Pouso", "Rosa dos Ventos", "O Mergulhador"), quando o poeta passava as férias na casa do pintor Carlos Scliar em Ouro Preto - e ali conheceu o universitário João Bosco, que estudava Engenharia de Minas - esta tríplice parceria com Salomão e Cícero - ele vem deixando sua marca extremamente pessoal em nossa MPB nestes últimos 20 anos. Num breve retrospecto de suas parcerias, João Bosco lembra que "quando eu e o Aldir (Blanc, seu parceiro mais conhecido) começamos a compor a opção que tomamos foi pela comunicação direta, evitando metáforas para não cair num código hermetista - o que explica a aceitação popular de "Dois Prá Lá, Dois Prá Cá", "Kid Cavaquinho", "De Frente pro Crime" e tantas outras músicas daquela época. A partir de "Garabirô" (1986), João admite uma mudança: - "Assim como eu o Aldir nos separamos, cada um buscando sua obra individual - ou com outros parceiros, em novos caminhos, eu me encontrava com as veias negras, que intensificaria no disco "Cabeça de Negro". Em "Aiai ai de mim" (CBS, 1986), viria "aquela fase de internacionalização, do som e da palavra", proposta que se tornaria mais radical em "Bosco" (CBS, 1989); "criando palavras, assumindo alguns riscos conscientes" que, de certa maneira, traduzia em "Sassaô", homenagem ao romancista baiano João Ubaldo - e que, coincidentemente, viria a fazer parte da trilha da telenovela "O Sorriso do Lagarto", inspirado em seu livro: Na serra da Barriga eu ouço o sabiá Me banho na bacia do Recôncavo Me dano porque corto a jaca na banda Me ganham com perfume cataratas do amor. Embora já tenha muitas músicas aproveitadas em telenovelas - e como virtuose violonista ("é um caso de relação sensual: sempre que posso curto o meu instrumento por horas sem fim") e utilizando o scat (o canto sem letra) com maestria única, João tem sido pouco requisitado para criar trilhas sonoras para os filmes. Só por afetividade musicou um documentário de Antônio Carlos Fontoura sobre seu amigo Carlos Scliar e, anteriormente, desenvolveu alguns temas para um curta e Oswaldo Caldeira, "Trabalhar na Pedra". - foi uma relação muito estimulante e pretendo ainda voltar a criar a música em relação a imagem - já que tantos falam na cromatividade e desenhos de minhas criações sonoras. Casado há 17 anos com Angela, pai de Francisco, 15 e Julia, 11, considerando-se "um homem de sorte por que toco um instrumento", João admite que ainda não dá para viver só de direitos autorais. Um dos primeiros batalhadores da Sombrás - movimento criado em fins dos anos 70 em defesa dos autores musicais - e administrando sua obra através da Editora Zumbido, o mineiro Bosco garante que "a situação melhorou, mas está longe do ideal para o artista viver de sua obra". LEGENDA FOTO - João Bosco entre seus novos parceiros: o baiano Salomão e o carioca Antônio Cícero.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
24/10/1991

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br