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Columbia desperdiça três bons filmes do ano em festival secreto

Baseados em fatos reais - o assassinato do Padre Popieluszko, em 17 de outubro de 1984, devido a violenta repressão ao movimento do Sindicato Solidariedade, torna "Complô conta a liberdade, da cineasta polonesa Agnieszka Holland, exilada na França, daqueles filmes-documentos de visão obrigatória. Afinal, até agora, pouquíssimos filmes abordando as lutas sociais-trabalhistas na Polônia na primeira metade dos anos 80 foram realizados - e com exceção de "O homem de mármore"(1976) e, especialmente "O homem de ferro" (1981), de Andrzej Wajda, nenhum deles chegou ao Brasil. Assim, era de se esperar que este "Le Complot" (título que teve na França) ou "to kill a priest" - que ganhou na versão distribuída pela Columbia para os outros países - encontraram uma grande repercussão. Além da atualidade do tema - as lutas do Solidariedade ainda não acabaram - o filme tem no elenco dois nomes conhecidos - Christopher Lambert ("Tarzan", "Subway"), e Ed Harris ("Walker"). Na trilha sonora de Georges DeLeRue, o melhor dos compositores na atualidade na França, destaca-se inclusive uma canção ("The crimes of Cain") de Joan Baez, a mais conhecida defensora dos Direitos Civis nos anos 60 nos Estados Unidos. Por que, então, "Complô contra a liberdade" foi condenado a exibições praticamente "clandestinas" em Curitiba? Ontem e hoje, apenas em 10 sessões este filme importantíssimo, que poderia ter uma pré-estréia organizada com lideranças sindicais, agitando mesmo a comunidade polonesa, provocando polêmicas, foi escolhido (sic) para abrir um "Festival Columbia", que se realiza no Plaza. Um festival que deveria chamar-se de "Festival do desperdício", já que três filmes incluídos na programação são obras atuais, importantes que - como escrevemos ontem no "Tablóide" - poderiam fazer carreiras autônomas, no mínimo de uma semana cada. Como a programação do Plaza é decidida em São Paulo, não há condições de saber as razões que levam ao público ser castigado com um desperdício como este em termos de exibição. Assim, só hoje, para quem se dispuser a encontrar tempo, poderá assistir a "Complô contra a liberdade", este filme político, que durante meses esteve anunciado no Bristol e que, inesperadamente, é punido com uma exibição obscura, sem qualquer promoção. O mesmo acontece com os outros dois filmes deste festival de rejeitados. Amanhã a segunda-feira: "Incontrolável Paixão" (White Mischef), de Michael Radford, que há três anos representou a Inglaterra no V FestRio. Sarah Miles, uma das melhores atrizes inglesas é Alice, o excelente John Hurt ("O homem elefante") tem um papel marcante e neste filme foi que a atriz italiana Greta Scacchi (lançada pelos irmãos Taviani em "Bom dia, Babilonia") teve chance de mostrar sua beleza. Geraldine no elenco. O outro filme do Plaza, dirigido por Nick Castle, é "Tap - a dança de duas vidas", que conta a história de Max Washington (Gregory Hines), um dançarino num dilema entre seus dois passados - a herança de seu pai e a sua própria passagem pela prisão. Ao sair da cadeia, Max vai para Nova York e reingressa na vida de sua ex-namorada, Amy (Suzanne Douglas e do pai dela, Lil'Mo (Sammy Davis Jr., falecido há um mês, em sua última atuação), um veterano sapateador, que havia sido companheiro de seu pai. Max e Lil'Mo aprofundam os laços de amizade e juntos criam um novo estilo revolucionário de sapateado, misturando o tradicional com passos de rock e funk. Como se vê, uma história com ingredientes de fácil comunicação e que possibilitam um bom desenvolvimento do roteiro. Hines é um ator-bailarino negro já visto em filmes como "Cotton Club" e "O sol da meia noite" (ao lado de Barishnikov, também sobre danças) e que tem um carisma na tela. Outras opções Reaberto após dois meses em que teria passado por uma inadiável reforma, o Groff começou ontem a exibir "O Trovador Kerib", produção soviética, dirigida por Serguei Parakjancy e David Abachidze. Bonito formalmente - mas vazio intrinsecamente, aproxima-se mais de um conto de fadas e deverá permanecer algumas semanas em cartaz No Ritz estréia um curioso science fiction vindo da Nova Zelândia, apresentado há dois anos em mostra paralela do FestRio: "Navigator - uma odisséia do tempo", de Vicent Ward. Para quem gosta de ficção na máquina do tempo, este filme que revela uma cinematografia inédita no Brasil, vindo da Oceania, pode agradar. No mais, a programação continua a mesma. No Luz, vale a pena assistir "Contos de Nova York", com episódios de Scorcese, Coppola e, Woody Allen. Nos cinemas da CIC, continuam em exibição três filmes que merecem atenção: no Condor, o delicioso "Um toque de Infidelidade" (Cousins), de Joel Schumacher, com Isabela Rosselini encantadora; "Não somos anjos"(We're no Angels), do inglês Neil Penn, no Lido I e o másculo "A caçada ao outubro vermelho", de John McTiernan, no Lido II LEGENDA FOTO - Sammy Davis Junior: em uma de suas últimas atuações, em "Tap".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
08/06/1990

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