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Colorado e Não Agite, final sem "happy end"

A crônica do Carnaval curitibano oferece múltiplos aspectos para análises que, sem sociologuês, podem, entretanto, justificar teses acadêmicas. Por exemplo, como se explica que duas das mais tradicionais escolas de samba decaíram como aconteceu com a Não Agite - que este ano nem desfilou; e a Colorado, que não se tendo apresentado no ano passado, voltou agora, no melancólico terceiro grupo, na noite de terça-feira, com enredo "Voltei Para Ficar" - ao lado da Unidos de Colombo - única Escola de Samba da Região Metropolitana - e a Leão de Ouro. A Não Agite, que nos anos 50/60 acumulou troféus e premiações e foi a primeira a introduzir o samba-de-enredo (de forma imperfeita em 1965, com "Colhedores Do Café"; de forma correta em 1969, com "Ciclos Econômicos Do Paraná", de Paulo Vítola) é outro exemplo de decadência. Mesmo o esforço de alguns de seus velhos dirigentes - como Carlos Fernando Mazza, 42 anos, não conseguiram recuperá-la e este ano, para evitar acabar no grupo C, a escola nem veio à rua. Representativa da comunidade da Vila Capanema, formada na década de 40 especialmente por ferroviários, a Escola de Samba Colorado, fundada há 41 anos, teve, por mais de 20 anos, a melhor bateria, orgulho do mestre Maé (Ismael Cordeiro, 58 anos), afastado da escola há mais de seis anos, hoje se dedicando ao chamado "Mãe Samba Show" em casas noturnas. A Colorado sempre se preocupou exclusivamente com a bateria, pouca atenção dando aos outros quesitos - razão pela qual a Mocidade Azul, quando comandada por Afunfa (Osvaldo de Souza, 46 anos) chegou a ter nada menos do que oito primeiros-lugares. Por razões particulares, Afunfa deixou a escola e passou os últimos dois anos em Cuiabá, onde chegou a dirigir uma escola de samba. Agora, de volta a Curitiba, integrou-se na Deu Zebra no Batuk, pequena escola formada há apenas quatro anos e que já no ano passado conseguiu chegar ao terceiro lugar. Este ano, com 1.100 participantes, bonito samba-de-enredo (de Júlio César e Elson Oliveira), três carros alegóricos e uma esforçada bateria, não conseguiu, entretanto, concretizar o seu enredo ("A Zebra Deu Sorte"): com 67 pontos, ficou em penúltimo lugar entre as escolas do grupo A. A participação de Afunfa, carnavalesco experiente, com know-how de mais de 30 anos de folia, também não foi tão pacífica, ao ponto de, na tarde de terça-feira, quando os resultados foram anunciados, divergências com o presidente, Dirceu Dotti, afloraram e por pouco não acabaram engalfinhados num corpo-a-corpo defronte o Instituto de Educação. Coisa de carnavalescos de sangue quente. Afunfa, todos reconhecem, foi o primeiro dirigente de Escola de Samba, em Curitiba, a trazer uma mentalidade empresarial à agremiação. Com sólidos recursos - provindos de sua bem remunerada atividade de corretor zoológico (à qual está retornando agora), Afunfa estruturou a Mocidade Azul de uma forma economicamente viável, dando-se ao luxo de anualmente contratar "consultores", passistas, ritmistas, figurinistas e outros profissionais do Carnaval carioca. Com isto, a Mocidade Azul passou a oferecer belíssimos espetáculos visuais, atraindo público à avenida. Em compensação, o velho Maé da Cuíca, nunca perdoava a bateria, que mesmo com o enxerto de bons ritmistas cariocas, perdia para a do Colorado, em seus bons tempos. Hoje, a Dom Pedro II, é a escola com uma estrutura forte, graças à presença em sua diretoria do empresário Jackson Natal Jansen, 34 anos, proprietário da Jarpek - Construções e Empreendimentos. Enquanto o presidente Jubal de Azevedo condena a parte artística da escola nascida em 1959, Jackson - que também é o presidente da Associação das Escolas de Samba de Curitiba - procura estruturá-la, ao ponto de disciplinar o uso dos instrumentos musicais (conseguiu reduzir em mais de 80% a perda deste material), e formar duas microindústrias para a execução de guarda-roupa, adereços e mesmo carros-alegóricos, que, mantidos por ele, funcionam comercialmente durante 10 meses e, entre janeiro/fevereiro, seu custo para escola, permitem a fabricação de tudo que a mesma necessita. Assim, a ajuda de Cz$ 30 mil que a Prefeitura liberou este ano para as escolas do grupo "A", multiplicou cinco vezes. Também a Zebra do Batuk, graças a uma boa estrutura, também conseguiu mais de Cz$ 50 mil para apresentar o seu enredo, "e eu não coloquei nenhum tostão", garante Afunfa. Em compensação, muitas escolas não chegam nem a justificar a ajuda oficial recebida. Este ano, uma delas do grupo B, recebeu Cz$ 20 mil e, na sexta-feira, 27, comunicou a Glauco Souza Lobo que "não iria sair". O secretário de Turismo aceitou a desistência e deu prazo de 30 dias para a presidência da escola devolver os Cz$ 20 mil recebidos. Ironicamente, Glauco sabe que dificilmente este dinheiro reaparecerá, mas não se importa: - "Cz$ 20 mil não é muito para tirar do Carnaval curitibano uma escola desonesta e que só atrapalha o trabalho sério das outras".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
07/03/1987

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