Login do usuário

Aramis

Cinema

Poucos filmes oferecem aos espectadores mais lúcidos tantos enfoques para analisar quanto "Na Mira da Morte" (Cine Lido), primeiro longa-metragem de Peter Bogdanovich. De qualquer prisma que se queira analisar este trabalho realizado há sete anos, os resultados são fascinantes. Desde a crítica a própria estrutura de produção - foi Roger Corman, realizador de uma série de filmes de terror, a maior parte inspirada em obras de Edgard Alan Poe (1809-1849) que produziu "Torgets". Embora a ficha técnica atribua a Bogdanovich a produção-direção e as referências ao produtor Marshall Smith (Monty Landis) são das mais ácidas, "por sua série de filmes de terror"- até a atualidade do tema-2 do filme - a explosão de violência do jovem Bobby Thompson (Tim O`Kelly-foto), obsecado desde a infância pelo culto às armas - tudo faz de "Na Mira da Morte" o exemplo de filme que chega ao grande público, como um bom entretertimento ao mesmo tempo que oferece aos analistas, motivo para longas apreciações. E não é que se queria encontrar "coisas" neste filme de estréia de Bogdanovich, pois ele próprio - interpretando o diretor Sammy Michaels - aferece muitos dados claros, abre o jogo com o público, principalmente ao dizer, de porre, assistindo a uma sequência de "The Criminal Code (1931, de Howard Hawks) na televisão, no apartamento do velho ator Byron Orlok (Boris Karlof-1887-1969), que "todos os bons filmes já foram feitos". E, criticando o cinema, mostrando a realidade como mais assustadora do que os velhos monstros - como os criados durante toda a longa carreira do ator-personagem Orlok-Karloff - Bogdanovich já antecipava neste filme toda sua curtição ao cinema. Pois esta última sessão de horror - seria seguida do melancólico "A Ultima Sessão do Cinema" (The Last Pictures Show). 1971, e aos dois revivais": Esta Pequena é Uma Parada" (What`s Up Doc!, 1972) - inspirada em "Levada à Breca", também de Hawks - e o recentíssimo "lua de Papel" (Paper Moon, 1973), com muitas semelhanças a "Dada em Penhor" - outro clássico da comédia americana dos anos 30. Interrompendo no ano passado sua curtição ao "cinema americano dos melhores anos", ao se deslocar a Roma para filmar "Dayse Miller", inspirado num conto de Henry James (1843-1916). Bogdanovich já anunciou seu próximo projeto: um filme sobre a vida de Cole Porter (1892-1924), autor das mais belas músicas da Broadway durante três décadas e que embora já tenha merecido uma cinebiografia ("Night and Day", 1946 de Michael Curtiz (1888-1962), sem dúvida oferece material apropriado para a sensibilidade nostálgica de Bogdanovich. É se falando no cineasta, se afasta so menos neste registro, deste "Targets". Mas é que no seu caso, diretor-filme se integram num bloco único, o cinema dentro do cinema a realidade (exterior) influindo na ficção (interior), em que o modesto operador do cine drive-in adquire uma presença tão real - e ao mesmo tempo tão plasticamente cinematografica - como o astro Byron Orlok ou o "bandido" Bobby Thompson (Tim O`celley-foto) reduzido na verdade à condição de um desajustado de uma sociedade da violência, onde os velhos atores - e os monstros de um passado não tão distante - não tem mais lugar. Ver "Na Mira da Morte" é obrigação de todos que, ao menos uma vez na vida já amaram o cinema!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
1
07/03/1974

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br