Só agora, três meses após sua publicação, as teses levantadas pelo historiador José Joffily em "Londres/Londrina" (Editora Paz e Terra) começam a merecer polêmica. Primeiro foi uma entrevista do pioneiro Franz Licha, que, numa linguagem furibunda, procurou contestar - inutilmente, alias - aquilo que está em 117 documentos que ilustram o livro. No último domingo, outro pioneiro da colonização de Londrina, James Craig Smith, em longo arrazoado divulgado pelo jornal "Folha de Londrina", acusou Joffily de expor "claramente suas tendências ideológicas" e denegrir a imagem dos ingleses que fundaram a cidade. Joffily, 71 anos, ex-deputado federal pelo antigo PSD da Paraíba, há quase 20 anos radicado em Londrina, autor de uma dezena de obras em que tem revisado a história oficial, observa tranqüilo, essas "respostas". Democraticamente, espera mesmo que o debate prossiga, se possível com a participação dos professores do Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina, que até agora se mantiveram em vergonhoso silêncio. Em carta à imprensa, uma londrinense, Salma Grano, estranhou, aliás, a ausência de opinião dos 20 professores de História da UEL, me relação às questões que Joffily levanta em "Londres/Londrina", primeiro livro a propor uma revisão da história da cidade, com referência aos interesses multinacionais que levaram os ingleses ao Norte do Estado, na década de 20, fazendo bem fundamentadas e comprovadas denúncias. Protestando contra a ausência da opinião dos scholars londrinenses, Salma Grano diz[:] - "Essas pessoas que tiveram o privilégio de acumular conhecimento de história, não podem continuar como avestruzes, enfiando a cabeça na areia, depois que rústicos pioneiros tiveram a coragem de criticar o livro de José Joffily. Acabou-se a explicação do sábio mutismo dos mestres do Departamento de História da UEL. Convém lembrar que "Londres/Londrina" foi solenemente lançado a 29 de março último. Decorridos 2 meses, parece prazo razoável para que os intelectuais pudessem posicionar-se ao invés de procurar pioneiros, como quem busca agulha no palheiro". xxx Como já registramos em várias ocasiões nesta coluna, Joffily é um historiador que não aceita as versões oficiais. Assim, foi quem procurou contar a história da morte de João Pessoa (1878-1930) na ótica do assassino, João Dantas (1888-1930), e de sua noiva, Anayde Beiriz (1905-1930), produzindo dois livros interessantíssimos, que basearam o roteiro (preparado pelo filho) de "Paraíba: Mulher Macho", realizado em 1983, pela cineasta, Tizukí Yamazaki. Durante mais de oito anos, Joffily pesquisou documentos e coleções de jornais e revistas; através de colaboradores, fez pesquisas em bibliotecas e arquivos da Inglaterra, para fundamentar suas teses a respeito das reais motivações dos ingleses na colonização do Norte do Paraná. O resultado é um livro vivo, pleno de informações, inéditas e que constitui, no gênero, a primeira obra a questionar as versões até hoje tidas como únicas e verdadeiras nas publicações patrocinadas pela Companhia de Terras Norte do Paraná. xxx Quem entendeu a importância da obra de Joffily foi o jovem deputado Rubens Bueno, que, no último dia 30 de maio, apresentou proposição, sugerindo, a que o escritor paraibano de nascimento [se] torne cidadão honorário do Paraná. Na justificativa do projeto, Bueno lembrou que o livro "Londres/Londrina" surge no exato momento em que o professor Luiz Carlos Pereira Tourinho, presidente do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico do Paraná "está a exigir uma revisão crítica, pois a que temos é transmitida pela Companhia de Terras Norte do Paraná". Bueno destacou a importância de "Londres/Londrina" como obra de pesquisa e revelação, "verdadeiro documentário da sangria que a Casa Rotschild imprimiu no Paraná. Essa extorsão depois foi continuada pelos milionários paulistas até os dias atuais. A verdade histórica, sempre velada pelas informações de caráter promocional da Companhia de Terras Norte do Paraná, foi finalmente resgatada pelo espírito inabalável e agudo desse pesquisador". Outro deputado de Londrina, Márcio Almeida, associou-se à iniciativa do deputado Bueno, pois, "inegavelmente, o sr. José Joffily, residente em Londrina, traz com essa sua última produção, uma contribuição com muito conhecimento real da colonização do Norte do Paraná". xxx No último dia 24 de abril, Joffily ia lançar, em sessão na Assembléia Legislativa, esse "Londres/Londrina". Devido à morte do presidente Tancredo Neves, o evento foi transferido. Agora, ele voltará, para, em sessão solene da AL, receber o título de cidadão paranaense. Que merece, pelo amor que vem demonstrando ao Paraná - e pelo resgate de parte de nossa história.

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Nenhum

Coluna ou Seção: Tablóide

Data: 21/06/1985

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