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Aramis

Chico & Orlando no tempo das versões

A preocupação dos garimpeiros dos tesouros de nossa música popular ao se lançarem em reedições históricas é proporcionar a remixagem em elepês, com o mínimo de chiados, de gravações inéditas em elepê ou mesmo em disco. Por exemplo, Jairo Severiano, hoje o mais requisitado produtor de discos culturais da MPB (fez, entre outros, o álbum duplo de Tom e supervisionou a edição do elepê com as gravações de Pixinguinha, Cartola e outros a bordo do navio Uruguay, há 47 anos), selecionou para a Collector's dose temas nacionais e 12 versões de sucessos estrangeiros com Francisco Alves (1889-1952), utilizando músicas por ele apresentadas em programas da Rádio Nacional na década de 40 e nunca gravadas comercialmente. Dono de um acervo precioso, que orgulhosamente reputa como um dos dois ou três mais completos do País, Leon Barg, em Curitiba, montou cinco álbuns para apresentar o selo Revivendo, com logotipo criado por sua filha, Laís, desenhista industrial, ex-funcionária do IPPUC e que, herdando a paixão musical de seu pai, pensa em ampliar as atividades do selo, inclusive em São Paulo, onde se fixará após o seu próximo casamento. No primeiro elepê do selo Revivendo, que chegou em suas mãos (2 mil exemplares prensados na Odeon), Leon Barg selecionou doze versões de sucessos dos anos 30/40 nas vozes de Chico Alves e Orlando Silva (1915-1978). Assim, com o "Rei da Voz", temos a versão que David Nasser fez para "Besame Mucho", de Consuelo Velasquez, numa gravação de 02/03/43; as palavras que Jair Amorim encontrou para o "cult theme" de "As Time Goes By", de Herman Hupfeld (lançado em novembro de 43, com o título de "O Amor é Sempre Amor"), que até hoje, 45 anos depois, emociona tanto quanto o filme "Casablanca" (1943, de Michael Curtiz, reprisado ainda esta semana pela Globo); o tango "Mato Verde"(Yugu Verde), de Domingos Federico / Homero Expósito, gravado por Chico Viola em junho de 1945. Três outras músicas que fizeram sucesso em filmes dos anos 40 também ganharam versões gravadas por Francisco Alves: "Maria" (R. Luchesi / J. Feline), versão de Haroldo Lobo, do filme "Inquietação"; "Nunca Saberás" ("You'll never Know, Harry Warren / Mack Gordon), versão de Osvaldo Santiago, do filme "Aquilo Sim Era Vida" e - conhecidíssima e de gratas recordações - "Amada Mia" (Allan Roberts / Doris Fisher), versão de Ewaldo Ruy, fox que Allan Roberts cantava em "Gilda" (1946, de Charles Vidor). No lado B é Orlando Silva quem mostra seis versões que embalaram sonhos e romances nos anos 40: começa com o meloso "Sempre no Meu Coração" (Always in my Heart, Ernesto Lecuona / Kim Gannon), prossegue com "Minha Devoção" (My Devotion, Roc Hillman / Johnny Hampton), inclui um bolero ("Pecadora", Agustin Lara) e uma valsa ("Sempre / Always", Irving Berlim). Mas o melhor são dois temas cinematográficos: o standard "Begin the Begine" (Cole Porter) lançado em "Broadway Melody of 1940" e o educativo "Se Você Quer Ser Alguém" (Swinging on a Star), que Jimmy Heusen / Johnny Burke compuseram em 1943 para Bing Crosby (1904-1977) cantar em "O Bom Pastor" (Going my Way, de Leo McCarey) e que na versão de Haroldo Lobo teve duas boas gravações no Brasil: a de Orlando Silva, acompanhado pelo grupo 4 Ases e um Coringa, incluído neste elepê e, posteriormente, com Lúcio Alves. xxx Considerando o material que Barg selecionou para este primeiro volume (com notas de contracapa do pesquisador Abel Cardoso Júnior, autor de um livro sobre Carmen Miranda), o selo Revivendo promete muito. O segundo volume traz Gastão Formenti (1894-1974), Jorge Fernandes, (Rio de Janeiro, 05/06/1907), Castro Barbosa (1909-1975) e Carlos Galhardo (1913-1985). No volume 3, faixas com Carmem Barbosa, Odete Amaral (1917-1986) e Laís Marval, esta uma cantora menos conhecida, ainda viva e que praticamente foi esquecida na história da MPB. O quarto volume traz Silvio Caldas, Aurora Miranda, Jaime Vogler e outra cantora esquecida, Sônia Carvalho, hoje, septuagenária, residindo em Taubaté. Finalmente, o quinto volume é dedicado a Vicente Celestino (1894-1968). Leon Barg faz questão de frisar que a maioria das faixas destes elepês são de 78 rpm, tendo aproveitado apenas algumas canções anteriormente editadas em elepês, "mas todos fora de catálogo". Enfim, um material precioso, processado por Ayrton Pisco para eliminação de ruídos e que fará a delícia do público com mais de 50 anos. O entusiasmo de Barg é grande: já tem em fase de seleção material para discos de Mário Reis e Chico Alves, Ataulfo Alves, Trio de Ouro, a dupla Joel e Gaúcho e o grupo 4 Ases e 1 Coringa. - "Vamos fazer o Brasil ouvir novamente suas grandes vozes" - diz, orgulhosamente.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
08/01/1988

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