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Aramis

Chamas da vingança contra a burocracia dos governos

Na próxima semana, o atento secretário Mário Pereira, da Administração, deverá determinar ao Decom, que, afinal, sejam feitas as obras que há muito vêm sendo solicitadas pelo Corpo de Bombeiros na Biblioteca Pública do Paraná: troca de hidrantes e revisão do sistema de água e energia elétrica. Afinal, após mais uma tragédia em termos de perda do patrimônio público - o incêndio do Departamento de Arquivo e Microfilmagem do Estado - está na hora de vencer a burocracia e impedir que o pouco que resta de nossa memória seja destruído. Há dois anos - em 25 de agosto de 1987 - foi o Templo das Musas, com a preciosa biblioteca que o professor Dario Velloso reuniu ao longo de toda uma vida - e que incluía a única coleção completa da "Enciclopedie francesa" original, no Paraná - que se perdeu num grande incêndio na madrugada. Na época, houve grande emoção e algumas promessas, mas a reconstrução do templo só se fez graças aos pitagóricos que ainda sobrevivem na cidade - e que, anonimamente, se cotizaram para que o templo construído há 70 anos, fosse reerguido. xxx Agora foi o Arquivo Público do Estado. Desconhece-se ainda a extensão do prejuízo em termos de queima da memória do Estado - pois mesmo que parte da documentação tenha sido preservada em microfilmes depositados em câmaras a prova de fogo - se perderam milhões de documentos que continham a história do Paraná. Procuram-se responsáveis! Qual a razão do projeto arquitetônico não prever entradas de emergência numa sede construída especialmente para um órgão de características especiais como é o centro de armazenamento de toda a documentação histórica do Estado? Durante muitos anos, o arquivo era um amontoado de processos, livros, documentos etc., em algumas salas do antigo prédio que sediava a então Secretaria de Viação e Obras Públicas. Só a custas de muito esforço e dedicação foi que o incansável Mbá de Ferrante conseguiu a construção de um prédio adequado (adequado?) para preservar este patrimônio de nossa memória e iniciar o trabalho de microfilmagens. Diretor por mais de três décadas do Arquivo Público, Mbá lutou pela maior segurança do prédio e insistia sempre na necessidade da microfilmagem ser agilizada. Substituído no atual governo por Francisco Brito de Lacerda, outro apaixonado por nossa história, Mbá viria a morrer poucos meses depois de deixar o cargo. Chico Lacerda renunciaria à direção, por uma questão de fidelidade partidária - e não desejar criar constrangimentos ao governador Álvaro Dias. xxx O que resta da documentação do Paraná, em termos de periódicos, e mesmo alguns documentos, encontra-se hoje na Biblioteca Pública do Paraná. Há pelo menos dois anos que há um projeto para reforma e ampliação em mais dois pavimentos da Biblioteca - congelado devido a eterna desculpa da falta de recursos. Com melhores e mais seguras instalações, a Biblioteca poderá não só desenvolver melhor suas atividades como, também, suprir em parte a perda que significa o incêndio do Arquivo Público. Para que a Biblioteca ganhe mais dois andares - previstos já em 1952, quando o engenheiro Romeu Paulo da Costa desenvolveu o projeto - seriam necessários cerca de US$ 700 mil. Uma soma alta, sem dúvida, mas plenamente justificável em termos da importância cultural que tem instituições que preservam e difundem a cultura e o saber. Ontem foi o templo e a biblioteca do Templo das Musas. Na tarde de quarta-feira foi o Arquivo Público que quase desapareceu, em poucas horas, nas chamas assassinas. Será que tragédias como estas não convencerão aos donos do poder de que está na hora de estabelecer prioridades e canalizar para instituições como bibliotecas, museus etc., recursos suficientes para que se tenha a mínima segurança?
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
01/10/1989

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