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Ceará, um exemplar programa editorial

Enquanto o grupo de trabalho nomeado pelo secretário René Dotti ainda não definiu as linhas básicas para as propostas relacionadas a um objetivo e seguro programa editorial no Paraná, em outros Estados as publicações feitas sob o manto protetor de instituições oficiais se multiplicam. O próprio secretário Dotti, particularmente, tem se mostrado preocupado em que seja encontrada uma boa solução para a área, pois a simples criação de um Instituto ou mesmo Fundação do Livro, como propõem algumas pessoas, longe de representar um impulso para a área editorial pode, a curto prazo, transformar-se em mais uma onerosa unidade dentro da Secretaria - com o fantasma de estimular o empreguismo e gastos supérfluos, o que, com toda razão, o governador Álvaro Dias quer evitar. A bem sucedida programação editorial desenvolvida na administração de Luís Roberto Soares, primeiro secretário da Cultura que o Paraná teve, foi objetiva e deixou ótimos resultados. E toda a programação se fez graças a uma coordenação eficiente, ocupada pela professora Cassiana Lacerda Carolo, amparada num conselho em que havia respeitáveis nomes da dimensão do professor Newton Carneiro (falecido há alguns meses), Eduardo Rocha Virmond, Cecília Maria Westphalen e Aldo Almeida. Portanto, se provou que o Estado pode estimular ótimas edições, sem necessidade de unidades caras - muito pelo contrário. Claro que há muitos interessados em defender uma Fundação ou Instituto do Livro, pois há sempre candidatos a cargos de direção. xxx No Ceará, desenvolvem-se dois trabalhos editoriais que mostram bons resultados, incentivando autores, divulgando pesquisas e fazendo um intercâmbio nacional. De um lado, a Secretaria da Cultura, Turismo e Lazer do Estado do Ceará já fez, nestes últimos meses, mais de 120 publicações, cobrindo os mais diferentes gêneros: romance, ensaios, poesia, pesquisas sociológicas e antropológicas, cultura popular, etc. O secretário José Maria Barros Pinho, poeta com vários títulos publicados, vem dinamizando o programa editorial, do que é um exemplo o "Caderno da Cultura". Em formato simples, com textos objetivos, voltados à realidade nordestina, esta publicação sai através do Centro de Referências Culturais, dirigido pelo pesquisador e cineasta Rosemberg Cariry, realizador do filme "O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto", longa-metragem que aborda um episódio histórico, ocorrido naquele Estado, nos anos 30 - mas pouquíssimo divulgado mesmo nos livros de História. Cariry, 39 anos, começa a montar agora dois novos documentários, resgatando aspectos da música e cultura popular do Interior daquele Estado: "A Saga dos Irmãos Aniceto", sobre uma das últimas bandas de pífaros na região do Cariri e outro sobre o "Cego Oliveira", focalizando o famoso cantador de Juazeiro do Norte, 75 anos. Anteriormente, Cariry fez também um curta-metragem sobre o poeta Patativa do Assaré (Antônio Gonçalves da Silva, 77 anos), uma das imagens simbólicas da cultura popular nordestina. xxx A preocupação da área editorial é, como diz o professor Ary Leite, "registrar e divulgar manifestações regionais de cultura". No número 2 da "Revista de Cultura", há, por exemplo, um amplo relato de Francisco Otávio de Menezes sobre o Festival Nordestino de Cantores de Viola, realizado em Cedro, enquanto Rosemberg Cariry aborda o poeta Zé Matos, cuja obra destaca-se pela permanência dos versos e repentes na memória popular. Firmino Holanda, pesquisador e crítico de cinema, do Jornal "O Povo", de Fortaleza, faz um registro da cultura popular no cinema cearense, indexando todos os documentários que se voltaram a cultura popular. Enfim, uma preocupação valiosa em oferecer informações sobre a cultura não oficial, buscando em outras publicações. Por outro lado, a Editora da Universidade Federal do Ceará, conta hoje com um acervo de mais de 150 títulos (muitos esgotados), num trabalho que vem sendo impulsionado pelo reitor Hélcio Leite. Além de uma publicação regular - o jornal mensal "Cultura", com distribuição nacional - "no Paraná, há muitos assinantes", nos conta a jornalista Vânia Lucia Oliveira, coordenadora de promoção - a linha editorial é diversificada. - "Ao lado de trabalhos universitários - teses, dissertações de mestrados, obras científicas de professores, buscamos principalmente o registro das coisas do Nordeste". Isto explica, por exemplo, que ao lado de obras como "Óleos Essenciais de Plantas do Nordeste", saia uma simpática coletânea de "Velhas Receitas da Cozinha Nordestina", de Mozart Soriano Aeraldo - espécie de versão cearense do "Café com Mistura", da lapiana Maria Teresa Lacerda que a nossa Criar acaba de reeditar. O catálogo das Edições da Universidade Federal do Ceará é amplo e diversificado, num exemplo de como se pode ter uma linha editorial eclética (interessados podem fazer solicitações pelo Correio, Caixa Postal 2.600, Fortaleza). LEGENDA FOTO - Reitor Hélio Leite e professor Ary Leite; estímulo editorial no Ceará.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
20/08/1987

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