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Aramis

Carnaval curitibano: realidade ou ficção?

Existem muitas teorias que tentam explicar o fato do carnaval curitibano ser, tradicionalmente, tão triste e desanimado. Lembrar a formação étnica de Curitiba (poloneses, ucranianos, alemães etc), a falta de tradição, a pequena parcela da população negra, (historicamente mais relacionada ao rítmo afro-brasileiro), entre outros argumentos. O fato é que todos os anos, repete-se o mesmo fenômeno: só 7 ou 8 semanas antes da festa popular, é que as escolas de samba se decidem a agrupar motivadas principalmente pelas subvenções da Prefeitura, que tem crescido um mínimo de 20% ao ano. Proporcionalmente ao Rio de Janeiro, onde as escolas tem de 600 a 6 mil participantes, as de Curitiba, que no máximo atingem 400 integrantes (caso da Mocidade Azul, ex-Dom Pedro II), recebem ajuda oficial bem mais generosa. xxx Entretanto se - justiça seja feita - a Prefeitura nunca falha na concessão da ajuda financeira, as escolas não aceitam as sugestões feitas para organizarem-se de forma melhor. A Associação das Escolas de Samba e Blocos Carnavalescos de Curitiba, fundada há 5 anos, não sobreviveu e, com exceção da Mocidade Azul, subvencionada pelas gordas verbas pessoas do milionário Oswaldo Fernandes da Silva, o Afunfa, as escolas-de-samba não dispõe da mínima estrutura administrativa, capaz de fazê-las, funcionar autonomamente, fora do período carnavalesco. O resultado é que, naturalmente, somente a subvenção oficial não é suficiente para os elevados gastos com fantasia, instrumentos, alegorias etc. E começar então as reclamações e a corrida do comércio, em busca de ajuda financeira, sempre pequena e concedida mais na base da amizade pessoal de cada dirigente carnavalesco. xxx Se no Rio, São Paulo, Salvador e Recife - famosos por seus carnavais, as agremiações, iniciam os ensaios nos primeiros meses do semestre anterior, em Curitiba, há escolas que até agora ainda não possuem sequer o samba-de-enredo a ser apresentado na avenida, na noite de sábado, 19 de fevereiro. Se uma pequena e desestruturada Escola como a Ideais do Ritmo, tem em seu presidente, o estimado Chocolate (Mansuedem. Prudente dos Santos), um compositor inspiradíssimo, autor de antológicos sambas-de-enredo, a rica e organizada Mocidade Azul luta com a falta de compositores, embora no ano passado, pela primeira vez, o presidente Afunfa, tenha organizado um júri para selecionar o samba-de-enredo. Mas para os próprios integrantes das escolas conheçam os sambas-de-enredo, é necessário que o mesmo seja ensaiado por 2 ou 3 meses - e não entregue 10 dias antes de Carnaval, como ocorre sempre. xxx A Embaixadores da Alegria, fundada em 1949 pelo advogado José Cadilhe de Oliveira, que durante mais de 25 anos tentou, em vão conquistar o título de campeão do carnaval (nunca obtido), este ano tem apoio do homem de teatro Oracy Gemba, que está orientando a coreografia do enredo escolhido, "O Cerco da Lapa", tema de uma peça de Gemba. A Sapolândia, a escola que mais cresceu nos últimos anos, graças ao entusiasmo de seu dirigente, Júlio Cesar, parte para um tema simpático: "Viagem ao Reino Encantado das Histórias Infantis". xxx Até agora a comissão organizadora, dirigida pelo esforçado e jornalista Nelson Comel, ainda não decidiu como resolverá o problema do júri para as escolas de Samba. A tradição iniciada em 1972, de convidar nomes de expressão nacional, ligados ao Carnaval carioca, para julgarem nossas Escolas, está correndo o risco de ser interrompida: não há verba para pagamento das passagens e cachês dos jurados. Ontem, o coordenador Carlos Mazza, foi procurar o Guaíra, com uma proposta viável: patrocinar na 5a e 6a -feira que precedem o Carnaval um grande show no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, com nomes como de Mano Décio da Viola, Cartola, Ismael Silva etc., e aproveitá-los, no sábado, como júri. Maurício Távora, superintendente da Fundação Teatro Guaíra, mostrou recepção ao projeto que, é possível, seja concretizado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
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28/01/1977

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