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Aramis

Cantos de todos os cantos

Colonizadas por milhares de imigrantes do Sul do País, nas décadas de 30 e 50, as regiões Oeste e Sudoeste se constituem num excelente mercado nativista. Em Foz do Iguaçu, duas livrarias locais esgotam edições de "Rapo de Tacho", de Apparicio Silva Rillo, tradicionalista de Bagé - e o grande best-seller da Tchê Edições; - enquanto que em cascavel, a Discolândia é uma das lojas de maior faturamento - e entre as cinco maiores das gravadoras que editam música regionalista. Há milhares de churrascarias espalhadas pela região e artistas como Gaúcho da Fronteira, Leonardo, ou grupos como os Bertusi e Os Montanari estão entre os maiores vendedores de discos. Renato Borghetti, 21 anos - primeiro instrumentista brasileiro a ganhar o Disco de Ouro (100 mil cópias vendidas), apresentando-se no Tuiuti E.C., na 3 semanas, superlotou aquele clube. Enfim, o nativismo é uma realidade no Oeste e Sudoeste do Paraná. Só que, ao contrário do que acontece no Rio Grande do Sul, ali não foi assumido como manifestação cultural. Ao contrário, um preconceito elitista faz com que não se veja neste movimento de profundas raízes toda sua importância cultural. O [Fercapo] - o mais tradicional festival de música popular competitivo realizado no Paraná - já poderia ter um segmento nativista ao longo dos 13 anos que vem sendo realizado. Entretanto, reflete bem o comportamento urbano e que, preconceituosamente, afasta a música de raízes. Assim, em que pese sua ótima organização e preocupação de atingir uma esfera nacional, tornou-se um festival de música urbana - sem nenhuma integração ao nativismo. Muito pelo contrário, compositores e [intérpretes] regionais, de grande vigor, já nem cogitam mais em dele participar. Ivan Taborda, ex-integrante do grupo Os [Maragatos], quase 10 lps gravados pela Chantecler, trovador e cantor humorista, dificilmente seria aceito no Festival. Ramiro Rebouças, compositor de enorme vigor e que no início dos anos 60 chegou a ser acompanhante ao violão de Silvinha Telles (1934-1966), radicado há quase 20 anos em Cascavel, desde 1982 se afastou do Fercapo - no qual, por alguns anos, foi presença de destaque. Em compensação, hoje o Fercapo atrai compositores de outros Estados - como se observou no último fim-de-semana, quando ali estiveram talentos jovens desde Belém do Pará até Porto Alegre - Nilson Chaves e Denise Tonon, que com "O tempo e o Destino" e "Chuva Rueira", foram classificados em 3º e 4º lugar, respectivamente. O estabelecimento de uma identidade musical ao Fercapo é a preocupação dos entusiastas diretores do Tuiuti E.C., que desde 1971 realiza essa promoção. A premiação de duas músicas de compositores locais - "Palco"de [Sérgio] Kaszprczak, Beto Gauer e Ronaldo David, e "Mil Cores", de Luciano Veronese, nos dois primeiros lugares, foijustificada como "forma de estimular a continuidade do Festival". Uma questão discutível, já que em evento não pode se restringir ao paternalismo artístico - e, isto sim - deve ficar cada vez mais aberto nacionalmente. LEGENDA FOTO 1 - Rosina Binari, do Rio de Janeiro. LEGENDA FOTO 2 - Shirley Neide, de Ponta Grossa, defendeu a música do namorado César Nadal de Souza, "Faróis".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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04/08/1985

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