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Cannel, o inglês na guerra das estradas

Se não conseguiu convencer o engenheiro Alan Cannel a deixar o cargo de coordenador técnico do Programa de Segurança das Estradas, instituído pela Volvo, para ocupar a Diretoria de Trânsito, o prefeito eleito Jaime Lerner obteve ao menos, de seu ex-colaborador no IPPUC, a promessa de que terá toda a sua ajuda, "graciosa ou remunerada", na forma de consultoria junto a Secretaria Municipal dos Transportes. Coerentemente, Cannel em que pese sua amizade por Jaime Lerner - de cuja equipe participou não só nas duas administrações da Prefeitura, mas também em projetos desenvolvidos em outras cidades - não quis abandonar a Volvo, "na qual estou podendo desenvolver um programa de segurança com o qual sempre sonhei", explica. Inglês de Men's Insland, 39 anos, formado pela Universidade de Londres em 1970 - e desde então em Curitiba - onde casou "e nasceram seus dois filhos" (um terceiro está a caminho), Alan é um dos poucos especialistas em questões de trânsito e segurança. Não foi sem razão que quando a Volvo decidiu instituir o seu Programa de Segurança nas Estradas, foi buscá-lo para coordenar a parte técnica - enquanto a direção geral deste projeto está nas mãos do jornalista Jota Pedro, gerente de comunicações da multinacional sueca. Na manhã de quarta-feira, 14, a jornalista Maria Luiza Mendes, chefe da sucursal da Veja, entrevistou durante horas Alan Cannel, que possivelmente merecerá as páginas amarelas da próxima edição da revista semanal de maior circulação no Brasil. Alan tem muito a falar sobre os efeitos devastadores da violência no trânsito: 50 mil mortos, 500 mil feridos em mais de um milhão de acidentes por ano. Só para comparar: na guerra do Vietnã, em sete anos, morreram 50 mil americanos e 300 mil ficaram feridos. Portanto, a afirmação de que as estradas brasileiras são um Vietnã por ano é cértissima. xxx Jaime Lerner vai aproveitar o Programa da Volvo e integrar Curitiba no ano de segurança - só que no caso, no âmbito urbano. Afinal, todas as possibilidades para enfrentar este inimigo comum - a morte nos acidentes de trânsito - são válidas. Jota Pedro, coordenador geral do programa, não se cansa de repetir alguns dados que devem ser pensados: - "Com um dos mais altos índices de acidentes de trânsito do mundo, temos índices [in]compatíveis com a realidade de quem pretende ser a oitava economia do mundo. Com uma frota nacional estimada em 12 milhões de veículos e 50 mil mortos, matamos bem mais que os Estados Unidos, que tem uma frota 10 vezes maior que a nossa e quase o dobro de nossa população. Lá, em 1986, morreram 42 mil pessoas no trânsito." Acrescenta J. Pedro, hoje um expert na questão e que tem feito constantes viagens ao Exterior em busca de informações a respeito. - Para o Brasil o custo dos acidentes de trânsito é grande demais: quase 2 bilhões de dólares por ano em prejuízos materiais. E o pior é que o governo, em razão de suas limitações orçamentárias não investe sequer a metade desse valor na recuperação e conservação das estradas federais. xxx Excelente guitarrista, com influências que vão de John McLaughlin a Egberto Gismon, Alan Cannel trocou, nos últimos meses, o violão por um moderníssimo mini computador-impressor: - Estou apaixonado pela palavra escrita. Comecei fazendo releases, frases, slogans e estou cada vez mais identificado com a linguagem. Um dos resultados desta nova paixão de Cannel é o boletim Segurança no Trânsito, já em seu terceiro número, que tendo Carlos Bunn como editor responsável, contém informações das mais interessantes, em textos curtos e muitos gráficos. Por exemplo, ali está uma tabela das multas cobradas nos estados americanos dos motoristas que não utilizam - ou permitem passageiros sem o uso - dos cintos de segurança. Em cinco estados - Califórnia, New México, Nova York, Tennessee e Texas - a multa é de US$ 50. Já os estados de Colorado, Iowa, Kansas, Missouri, Pennsylvania, Utah e Wisconsin são mais tolerantes: a multa é de apenas US$ 10. Para adultos ou crianças acima de 1,30m, em 31 estados americanos, é obrigatório o uso de cinto de segurança, pelo menos nos bancos dianteiros. A grande maioria dessas leis são recentes - aprovadas entre 1984/1988. LEGENDA FOTO - Alan Cannel: entrevista nas páginas amarelas da "Veja".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
16/12/1988

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