As canções de esperança do poeta Paulo Pinheiro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de junho de 1992
Só o fato de já ter merecido um livro interpretativo sobre a sua obra - "O Poeta da Esperança", de José Maria Souza Dante - dá uma idéia da importância de Paulo César Pinheiro dentro da cultura musical brasileira. Poeta e letrista, antes de tudo, este carioca 43 anos, completados no dia 28 de abril, é hoje um dos nomes mais importantes da criação poética no Brasil. Como fez Vinícius que levou sua lírica a grandes públicos a partir de sua união musical - numa primeira fase com os irmãos Paulo e Haroldo Tapajós, depois, com as grandes parcerias da Bossa Nova - Antonio Carlos Jobim, Baden Powell, Carlos Lyra, Edu Lobo, Francis Hime e, nos últimos 12 anos de sua vida, com Toquinho, Paulinho Pinheiro também rompeu as limitações de uma poesia que, apesar de excelente nível, seria apenas consumida por uma faixa específica de leitores e, viajando nas harmonias de grandes parceiros, fez sua lírica, participante, emotiva e atual, se tornar conhecida no Brasil de Norte a Sul.
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Como o poeta Vinícius de Moraes, Paulinho Pinheiro não se deixou limitar pelo fato de não ter uma voz tão bela quanto o seu lirismo e assim, a partir de "É Importante Que a Nossa Emoção Sobreviva" - dividindo políticos shows ao lado de Márcia (uma grande cantora, injustamente esquecida) e Eduardo Gudin, fez espetáculos que ficaram, em seus registros lançados pela Odeon, como momentos de uma época (1974) difícil para todos. E é nesta condição - de intérprete de suas canções, do poeta mostrando a sua cara e voz, que Paulinho fez um novo show, dividido com um dos melhores violonistas da nova geração, Maurício Carrilho, com quem estará neste fim de semana em Curitiba (Teatro do Paiol, sábado e domingo, ingressos a apenas Cr$ 5.000), dentro de um roteiro que sua esposa e musa, a também (excelente) instrumentista, Luciana Rabello, grande executante de cavaquinho, organizou com todo carinho.
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De "Viagem" reconhecidamente uma das mais perfeitas letras que compôs quando tinha apenas 15 anos, em parceria com João D`Aquino, a sua produção mais recente, a obra de Paulo César Francisco Pinheiro é impressionante pela qualidade. Com Baden Powell, primo de João D`Aquino, a partir de "Lapinha" (1968, vencedora da primeira Bienal do Samba da TV Record), suas letras se espalhariam com sucesso - seja com o próprio Baden ("Samba do Perdão", "É de Lei", "Quaraquaquaqua", "Aviso aos Navegantes", "Até Eu", "Elogia", "Eu Sei Que Vou Chorar", "Vilão Vadio"), Francis Hime ("A Grande Ausente", defendida por Taiguara no III FMPB da Record); Miltinho ("De palavra em palavra"), Mauro Duarte ("Menino Deus"), Eduardo Gudin ("E lá se vão meus anéis", "O importante é que nossa emoção sobreviva", Edu Lobo ("Vento Bravo"), Antonio Carlos Jobim ("Matita Perê") e, especialmente, Maurício Tapajós, cujo "Pesadelo" (1972, auge da repressão) ficou como um hino de resistência ("Você corta um verso/Eu escrevo outro/Que medo você tem de nós").
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Apenas alguns títulos da imensa obra de Paulo César Pinheiro, que em parceria com Dori Caymmi (aliás, no CD "Brasilin Serenata", há 10 novas canções com Dori há 20 anos já fazia as canções do filme "Tati, a garota", primeiro longa de Brono Barreto. Autor de músicas para teatro, responsável por mais de uma dezena de sucessos perpetuadas pelo MPB-4, consciente de responsabilidade social do artista, Paulinho Pinheiro é uma das personalidades mais admiráveis de nossa vida cultural. Sua presença em Curitiba, neste fim de semana, para apenas duas apresentações, deve ser saudada como um verdadeiro evento - pois somando-se à sua obra, junto está este maravilhoso violonista - e querido amigo - que é Maurício Carrilho.
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