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Aramis

Briga de teatro é na base dos tapas

Não foi a primeira vez - e por certo não cerá a última - que os corredores da Secretária Cultura e do Esporte se transfomaram em ringue de boxe. Há tempos passados, o cineasta Sérgio Bianchi e o ator José Maria Santos ali tiveram cenas muito mais para o esportes do que para a cultura. Na semana passada, foi a vez do veterano e conhecido José Baraúna de Araújo, ator, homem de TV, mais de 30 anos de carreira, reagir aos tapas a uma provocação verbal do sr. Oraci Gemba, diretor-executivo da Fundação Teatro Guaíra. A turma do deixa-disso interveio e evitou que Gemba levasse a pior, já que Baraúna é bem mais atlético e experiente em defesa pessoal. xxx A briga entre Baraúna e Gemba começou há várias semanas, quando, após submeter-se a um "teste de capacidade" para integrar o elenco da montagem de "Zumbi" Baraúna foi humilhado, com a proposta de receber o menor salário (Cr$ 150 mil), atuando praticamente como extra nessa milionária produção do TCP. Baraúna, que, ao lado de Ary Fontoura, Glauco Flores de Sá Brito e outros pioneiros do teatro experimental do Guaíra já faziam um digno tetro nos anos 50, recusou a oferta e a discussão com Gemba esquentou. Como acredita que o Teatro Guaíra não é - nem pode ser - uma propriedade particular, em que preferência e amizades influam mais do que capacidade, Baraúna decidiu denunciar, em todos os escalões, a discriminação sofrida e a forma despótica com que Gemba vem agindo. xxx Na noite de segunda-feira, 2 , na abertura dos debates sobre teatro, no Solar do Barão, Baraúna de Araújo fez uma viril intervenção, lendo o corajoso texto-manifesto "Plumas e Paetês", redigido pela professora e crítica de arte, Adalice Araújo. Em 80 linhas, Adalice faz ácidas observações sobre "o estrelado do sr. Oraci Gemba, que comprova se servir do cargo de diretor do Teatro Guaíra para cobrar rancores passados; esquecendo, propositadamente, toda a longa tradição do teatro paranaense, onde não se respeitou sequer a memória de um diretor e ator magnífico, como foi o Antonio Carlos Kraide, em um dos ensaios que se realizou, em 1984, no Guaíra". Diz Adalice, no manifesto, que, ao ser lido por Baraúna, dividiu o auditório. "A primeira coisa que causa estranheza é que, sendo o sr. Gemba um dos diretores do corpo administrativo do Guaíra, arvore-se também em diretor de peças; não abrindo, assim, espaço para as novas grandes representações. Reafirmando sua obsessão por co-autoria, as peças que dirige continuam sendo pretexto para lançar os seus problemas pessoais que, melhor seria, fossem pessoalmente debatidos com o seu analista. Além de continuar subvertendo o sentido das peças, como anteriormente fez com "as Criadas ", de Jean Genet, voltou recentemente a remontar dentro do processo de co-autoria uma peça batida e rebatida como "Zumbi" que, embora de grande valor, há 15 anos atrás na ribalta brasileira, hoje é muito adotada em escolas de arte". Crítica de arte integrante de três associações nacionais, titular de História da Arte da Universidade Federal do Paraná e responsável pela coluna de artes visuais da "Gazeta do Povo", Adalice foi incisiva em seu artigo-manifesto: "Com a milionária remontagem de "Zumbi" em que pelo que se comenta - teriam sido gastos aproximadamente Cr$ 50 milhões (que poderiam ter coberto as custas de pelo menos cinco peças menos pretenciosas) ficou comprovada que o sr. Gemba tem tudo para dirigir teatros de revistas apoteóticos, cheio de plumas e paetês, mas que não possui garra para dirigir espetáculos mais sérios, como o atual momento brasileiro exige". "Além do mais - prosseguiu Adalice - o que é muito grave é que o sr. Gemba chegou ao disparate e desrespeito de fazer testes de capacitação com atores experientes e nacionalmente consagrados como uma Suzi Arruda que, se não bastasse a sua longa experiência no teatro brasileiro, seria suficiente citar a sua participação na TV Globo; o mesmo ocorrendo com Baraúna de Araújo que além de ter sido junto com Ari Fontoura, e Glauco Flores de Sá Brito, um dos fundadores do Teatro Experimental do Guaíra, foi agraciado por seu desempenho como ator com o bastão de ouro, pela Fundação Brasileira de Teatro, no mesmo ano em que Cláudio Corrêa e Castro ganhou como melhor diretor. Julgados que foram por gente do nível de Adolfo Celli, Ziembinski e Maria Clara Machado". xxx A leitura desta corajosa colocação de responsabilidade da crítica e professora Adalice Araújo, feitas justamente numa sessão de debates sobre a situação (caótica) de nosso teatro, provocaram a ira de Gemba. Baraúna de Araújo - que deverá se aposentar do serviço público estadual dentro de um mês - foi convocado a interronper suas férias regulares e, na última quinta-feira, pela manhã, nos corredores da Secretaria da Cultura, ao se encontrar com o sr. Oracy Gemba houve um flamejante bate-boca, terminando num confronto físico.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
11/07/1984

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