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Aramis

Bregas Bem Sucedidos

Impossível a quem acompanha jornalisticamente o setor musical fonográfico ignorar os seus aspectos comerciais. Assim, ao lado da produção que justifica realmente aquele antigo slogan Disco é Cultura existe toda a produção que, independente de elogios da mídia impressa - que, na maioria das vezes, simplesmente a ignora -, consegue uma extraordinária veiculação nas AMs (e mesmo FMs) e obtém pontos de vendas impressionantes. Alguns conseguem ultrapassar a barreira do milhão de cópias vendidas - como o goiano Amado Batista e ou a dupla de raízes paranaenses, Milionário e Zé Rico, ganhando, então destaque. Entretanto, a grande maioria contenta-se com o faturamento certo, o circuito específico de periferia das grandes cidades e Interior para encontrar o seu público - que lhes responde fiel nas vendas. Embora a Continental, pela sua própria limitação de ser uma gravadora exclusivamente brasileira e que não dispõe de catálogo internacional seguro, ser a que mais depende do elenco rurbano/brega, outras gravadoras também não dispensam este filão. Por exemplo, a Polygram tem acordos operacionais com etiquetas de várias regiões, que lhes garante uma grande parcela de faturamento. Carlos Santos, de Belém do Pará, empresarialmente um dos mais bem sucedidos artistas brasileiros (é dono de uma cadeia de lojas no Norte/Nordeste e tem seu próprio estúdio) está entre os bregas que mais grava e vende. Cada vez mais diminuem as fronteiras entre o rural, o rurbano e o brega - pois aquela linha caipira, que a partir de 1929, quando Cornélio Pires (1887-1958) produziu os primeiros discos independentes no Brasil há muito que foi englobada pela padronização nacional. Portanto, um estudo hoje sobre a música rural/brega traria informações bem diversas - idéia aliás que tentamos, há 5 anos, durante o seminário "Linguagens e Rumos da Canção Brasileira" (Curitiba, maio/82) e que merece uma continuação. Por exemplo, a dupla Chico Rey e Paraná ("Quem Será Seu Outro Amor?", Continental), nada possui de caipira: jovens, bem apessoados, elegantes, trazem canções que pelo próprio título já mostram a preocupação de ascensão social ("County Clube Sertão"), o romantismo ("Cinqüenta Graus de Amor", "Caros Amantes") e até pitadas sociais ("Grande Esperança/Reforma Agrária"). Também numa linha de brega chique - com trajes coloridos, colares dourados, Felipe e Falcão atacam com um repertório romântico, basicamente de uma autora (Fátima Leão), que busca temática contemporânea. Tony e Danilo ou João Paulo e Daniel ("Planeta Coração ", volume 2) mostram a preocupação de fazer uma música jovem, com pegadas em ritmos descartáveis. Valem, especialmente, como exemplo da descaracterização de toda uma nova geração que, desprezando valores autóctones, buscam apenas o consumo de faixas humildes, capazes de aceitar produtos tão ingênuos. Apesar dos nomes e da aparência lusitana (bigodões marcantes), Joaquim e Manoel ("Som Cristal", Continental) procuram mais o canto sofrido, falando de tragédias e separações ("Crucifica-me", "Não tenho inveja", "Casa Noturna, etc.)
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
23
22/11/1987

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