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Aramis

Boom do disco faz com que renasçam prêmios

Uma crise ao inverso. Assim é definido o problema que aflige a indústria fonográfica: há 7/8 anos, não havia clientela para a produção. Agora não há produção que chegue para atender os pedidos. Só a Xuxa já vendeu 2.500.000 cópias de seu disco, enquanto o novo elepê de Roberto Carlos, com pedidos acima de um milhão de cópias, terá que ser prensado na CBS argentina, já que a indústria nacional, mesmo trabalhando 24 horas por dia, não consegue vencer a demanda. Antonio Augusto Rodrigues, 44 anos, desde 1958 no Brasil, homem de vendas da Sigla no Paraná, lamenta-se: "Não há condições de atender a clientela por falta de produto". O disco de Chico Buarque e Caetano Velloso esgota-se em poucos dias. Outro experiente representante fonográfico, Roberto Berro, 49 anos, desde 1970, na Polygram no Paraná, dá um número impressionante: dos 1.500 ítens que normalmente constavam do catálogo, só estão sendo comercializados 25. Nada menos que 1.475 estão em falta - sem previsão de reposição. Gravadora que chegou, anos atrás, a fazer até 100 lançamentos, entre artistas nacionais e estrangeiros, num mês, neste final de ano tem mínimas novidades: a trilha de "Cidade Oculta", criada pelo compositor e cantor Arrigo Barnabé, 35 anos, paranaense de Londrina, o disco de estréia de Evandro Mesquita, os novos discos de Toquinho, Erasmo Carlos, Elton John e Noite Ilustrada - afora dois álbuns-montagens, com sucessos diversos. Clássicos e jazz, cuja vendagem raramente passa das 10 mil cópias, nem pensar. Hoje as gravadoras só querem saber dos "produtos" que vendam mais de 80 a 100 mil cópias, de Saída. xxx Frente a euforia do mercado, a Associação Brasileira de Produtores de Discos decidiu fazer retornar o prêmio Anual do Disco. Há quatro anos (1982) era entregue, pela última vez, esta distinção que consagrava os nomes que contribuem para a música e para a indústria fonográfica brasileira. Nos últimos 4 anos, o prêmio esteve desativado "mas o mercado - público e indústria amadureceram" diz Manuel Camaro - o Dom Manolo, ex-Top Tap, poderoso presidente da RCA - e um dos estimuladores pela volta da premiação. Explica dom Manolo: - "Foram mudanças profundas e marcantes que resultaram num crescimento tal da participação do Brasil no panorama geral da indústria fonográfica que a volta do Prêmio se tornou imperativa". André Midani, presidente da WEA, ex-Polygram, com sua visão do mercado explica: - Como qualquer coisa ligada a boom verdadeiro no Brasil a gente tem que ficar meio apavorado, porque várias vezes houve boom e depois veio um flop. O que está acontecendo, na realidade, é que com a reforma do cruzado as pessoas se orientaram para gastar tudo o que eles ganham. Então, de fato houve uma melhora muito sensível no mercado. As fábricas estão trabalhando a todo vapor, 24 horas por dia. Preferia que não fosse chamado apenas de boom. Chamaria de retomada de níveis de venda, que começou em 1978/79. Gostaria que essa retomada mostrasse a mesma curva ascendente que vinha mostrando entre 75/79 e que foi interrompida, a oitenta por cento, pela recessão e inflação. xxx Criado em 1974 e comedido até 1981, o Prêmio Anual do Disco voltará agora - concedido em duas grandes categorias de premiação: quantitativa (por vendas) e qualitativa (por avaliação). Na categoria quantitativa serão atribuídos aos produtos que alcançarem a maior venda unitária no período de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 1986, nas seguintes classificações: compacto simples ou mix; elepê e fita - de artistas masculinos e femininos, nacionais e estrangeiros. Na área dos prêmios qualitativos, ou seja, por avaliação e julgamento estão algumas novidades. Diversos grupos de jurados de todo o Brasil, incluindo jornalistas, críticos, radialistas, publicidade e vendas farão suas votações. Em janeiro de1987, os cinco nomes mais votados nas respectivas categorias serão considerados nominados. Haverá uma segunda votação, da qual sairá apenas um nome e, no melhor estilo da festa do Oscar, os vencedores só serão revelados ao vivo, na hora da entrega dos prêmios numa grande festa que terá lugar entre março/abril de 1987. LEGENDA FOTO - Camero e Midani; tycoons da fonografia fazem voltar o prêmio anual do discos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
19/11/1986

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