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Aramis

Bons programas que chegam e permanecem

A programação cinematográfica continua das mais atraentes, com estréias, reprises e continuações que justificam que o espectador troque o conforto doméstico pela ida ao cinema. Só que isto parece não acontecer, haja visto as bilheterias cada vez menores - com exceção de produções de grande apelo popular como "Robocop" (que continuará por várias semanas no Plaza), "As Bruxas de Eastwick" (agora no Bristol) e "Os Intocáveis" (Condor). Nem a merecida premiação de "Ele, o Boto", de Walter Lima Jr., no I Festival do Cinema Brasileiro de Natal, encerrado no último domingo, fez com que o filme ganhasse mais sete dias em exibição. Diga-se, a bem da verdade, que Aleixo Zonari, o big:boss da Fama, o manteve por três semanas. Em compensação, "Tigipió - Uma Questão de Amor e Honra", de Pedro Jorge de Castro, da novela de Herman Lima - rodado no Ceará, premiado internacionalmente - ficou apenas sete dias no cine Luz, que pertencendo a Fundação Cultural e portanto sem objetivos lucrativos, deve prestigiar mais os bons filmes brasileiros. Infelizmente, o filme de Pedro Jorge foi tirado de cartaz e substituído por uma nova reprise de "O Baile", o belo filme de Etore Scolla - mas já suficientemente conhecido do público. As surpresas Duas agradáveis surpresas, subindo nas bilheterias e que se mantém em cartaz. No Lido II, aquele que é, para nós, um dos melhores filmes do ano - e o mais sincero ensaio sobre a inquietação de adolescentes desde o clássico "Juventude Transviada" (Rebel Without a Cause, 54, Nicholas Ray): "O Selvagem da Motocicleta". Rodado há quatro anos, quase que simultaneamente a "Vidas Sem Rumo" (The Outsiders), "Rumble Fish" é uma prova de que Coppola acerta na mosca quando se volta para temas simples, dispensando a parafernália de superprodução. Tendo lançado um grupo de atores que se firmaram nesta década (Sean Penn, Mickey Rourke. Matt Dillon, etc.) tanto "The Outsiders" como "Rumble Fish" são obras de grande sensibilidade, examinando as angústias, inquietações e desejos de jovens. Pena que "Rumble Fish" tenha recebido o idiota título de "O Selvagem da Motocicleta", o que atrai uma cafajestada que imaginava ver aventura de motoqueiros, quando o filme tem uma preocupação muito maior. Belíssima fotografia em preto-e-branco, música de Steward Copland e inclusive a presença, em pequeno papel, de Tom Waitts, o novo compositor-intérprete que entra na moda no Brasil - 10 anos depois de aparecer nos EUA. "Meu Marido de Batom" (Tenuer de Soirée) é o exemplo do filme que mostra a mudança do comportamento: há 10 anos, ninguém aceitaria um filme tão amoralmente cínico como esta comédia de Bertrand Blier que valeu ao musculoso Garard Depardieu o prêmio de melhor ator em Cannes. Quem merecia, entretanto, prêmio era Michael Blanc, o marido de Miou-Miou que acaba transvestido pela paixão de Bobo (Depardieu). Debochado, amoral, "Tenuer de Soirée" tem um público em crescimento, que agora o verá no Cinema I. Estréias Destinado a repetir o sucesso de "Os Embalos de Sábado à Noite" de dez anos passados, "La Bamba" é o filme-ouro da temporada. Foi sucesso nos EUA e repete-se no Brasil, fazendo com que a música que o pioneiro Ruy Rey já havia gravado há 40 anos e que no início dos anos 60 emplacou a carreira de Trini Lopez, volte as paradas. Biografia do cantor e músico Ritchie Valens (1941-1958), "La Bamba" conquistou, nos EUA, a colônia hispano-americana e no Brasil tem um público imenso a conquistar. O diretor, Luiz Valdez, é desconhecido, mas a produção é do competente Taylor Jackford ("Laços de Ternura", "Sol da Meia Noite"). A trilha sonora, com Los Lobos, já está nas lojas, em edição Polygram. Em exibição no Astor. No Lido I, estréia uma comédia, "Sorte Danada", de Arthur Hiller, que tem na presença da sempre exuberante Beth Midler, sua maior atração. A verificar. Para quem gosta de terror, mais um programa do gênero no Palace Itália: "A Hora das Crianças", de Stephen Herek. Reprises Além de "O Baile", de Etore Scolla, outra boa reprise italiana: "Esposamante" (Mogliamente), de Marco Vicario, com Marcello Mastroianni em plena forma e Laura Antonelli mais linda do que nunca. Ambientada numa pequena cidade da Itália, no início do século, "Mogliamante" tem um roteiro bem desenvolvido e ótima trilha sonora de Armando Travaiolli. Merece ser revisto. Nas sessões extras, três reprises que merecem ser anotadas: "Mishima", de Paul Schrad (Groff, sábado meia noite e domingo, 10h30min). "Meu Tio", de Jacques Tati (Luiz, domingo, 10 horas) e "O Pagador de Promessas" (Morgenau, domingo, 10 horas). LEGENDA FOTO - A bela Laura Antonelli e Leonard Mann em "Esposamante"
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
2
30/10/1987

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