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Aramis

Blues em ascensão

Não será surpresa se dentro de algum tempo for anunciado um Blues Festival no Brasil. Afinal, com mais de 50 anos de atraso, começa a existir um marketing organizado para fazer com que se amplie o conhecimento em torno deste gênero musical - em cujas raízes se confundem desde nomes de jazz instrumental/vocal até os avós do rock´roll. Assim o blues é terra fértil, capaz de atingir amplos segmentos de público. Cada vez cresce mais o número de bluesmen em temporadas no Rio e São Paulo (até agora, exceto B.B. King, nenhum outro grande nome veio a Curitiba), e as etiquetas começam a descobrir as potencialidades comerciais do gênero. A Polygram lança os discos do guitarrista Robert Cray, a CBS trouxe até o histórico Robert Johnson - personagem citado no filme "A Encruzilhada" (cuja magnífica trilha sonora, editada pela WEA, está agora sendo novamente procurada) e a WEA deu a maior contribuição com duas coleções do gênero. O designer Vilmar Gross, 34 anos, curitibano, é, por exemplo, um apaixonado pelo gênero e todos os sábados vai à Savarin Discos em busca de novidades - especialmente dos lançamentos da Black & Blue (etiqueta distribuída pelo estúdio Eldorado) e da Bradisc, que, infelizmente, não tem sabido dar maior promoção aos lançamentos que faz em sua coleção Rarity, com gravações de Chuck Willis, Lloyd Price, Buddy Hollye, Carl Perkins, Memphis Slins - entre outros nomes pouco conhecidos, mas que, de uma forma ou outra, tiveram suas influências (e atividades) junto ao blues (passando do country ao rock´roll). B.B. King (Riley King, Mississipi, 1925), possivelmente uma das maiores influências nos grandes nomes do blues e do rock, vem tendo seus discos cada vez mais absorvidos no Brasil - estímulo para que por diferentes gravadoras (e etiquetas) saiam registros marcantes. Assim, Jonas Silva, da Imagem, descobriu uma série intitulada "The best of B.B. King", cujo segundo volume inclui jóias como "Blues For Me", " You Don´t Know" e "Blues At Sunrise". Nenhuma indicação de quando (e com quem) foram feitas estas gravações - mas agradáveis de serem ouvidas. Já a WEA traz "Live & Well", uma gravação ao vivo, sem identificação de data e local, mas ao menos com a relação dos músicos que participaram das duas sessões. Em "Live", estiveram juntos a King: o baterista Sonny Freeman, o saxofonista Lee Gatling, o baixista Val Patillo, o pistonista Patrick Williams e Charles Boles no órgão. Já em "Well", Gerald Jemmott no baixo, Hugh McCraken na guitarra e Paul Harris no piano. Robert Cray é, na nova geração de bluesmen, um dos mais admirados guitarristas. Já com dois elepês solos aqui editados, Cray esteve em julho último (temporadas no Hotel Nacional, RJ; Olympia, SP), razão para que a WEA editasse "Showdown", reunindo também Albert Collins (guitarra, harmônica e vocais) e Johnny Capeland - amparados no órgão de Allen Batts, baixo de Johnny B. Gayden e bateria de Casey Jones. Juntamente com "Been Talkin" (também editado no Brasil pela WEA), "Showdown" data do início da carreira de Cray, quando ainda era desconhecido e gravava num selo independente. Cray (Georgie, EUA, 01/08/53), filho de um oficial americano, viveu na Alemanha e ali teve influências de B.B. King, Eric Clapton, Sam Cooke e Jimi Hendrix, uma soma que mostra a característica de seu som - aproximando blues tradicional com a linguagem pop. Consagrado como autor da introspectiva trilha sonora de "Paris, Texas" (filme de Wim Wenders) - agora, finalmente, editado no Brasil (WEA, setembro/88), Ry Cooder tem feito muitos trabalhos para o cinema com seu estilo melancólico/melodioso, arrancando os melhores efeitos de guitarra. "The Long Riders", "Ruas de Fogo", "A Baía do Ódio" e, especialmente, "A Encruzilhada" e "Paris, Texas", foram obras marcantes em sua relação com o cinema. "Get Rhythm", seu 11º disco em 18 anos de carreira - e o primeiro álbum-solo nos últimos cinco anos - traz músicos que há anos dividem seus trabalhos, como o baterista Jim Keltner, e, em participações especiais, o vocalista do grupo Cameo, Larry Blackmon e, vejam que curiosidade, o ator Harry Dean Stanton (astro em "Paris, Texas"), agora surgindo como cantor. Todos são conduzidos habilmente por Cooder, num repertório em que estão três músicas antológicas do rock ("13 Question Method", de Chuck Berry; "All Shock Up", de Ottis Blackwell/Elvis Presley e a faixa título, de Johnny Cash). O lado de compositor de Ry está presente em "Across the Borderline" e "Going Back to Okinawa" - nesta com a nítida influência do lendário Robert Johnson. A tendência do mercado de blues é crescer, tanto é que os irmãos Mauro, 28, e Fábio Zanetti, 26, donos de um bar de música ao vivo em Santo André, e também do selo Jazz and Blues, depois dos dois elepês de Buddy Guy (que já fez duas temporadas no Maksoud "15"), acabam de lançar um disco de John Lee Hooker.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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02/10/1988

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