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Aramis

Biografias para todos os gostos

Quando repórter político do Diário do Paraná, de saudosa memória o jornalista Gilberto Larssem chegou a planejar uma biografia de Ney Braga. Achava um absurdo que o ex-governador do Paraná, que há quatro décadas é, direta ou indiretamente uma presença maior na política paranaense, não tivesse ainda um estudo de maior profundidade - capaz de explicar muitas coisas do Paraná. Hoje, poderoso assessor-chefe de comunicação de Rede Ferroviária Federal S/A - cargo para o qual foi levado pelo ex-presidente da empresa, Osires Stenguel Guimarães, Larssem, evidentemente, abandonou o projeto. Um jornalista de Brasília retomou a idéia e já fez várias entrevistas com Ney Braga, mas o livro ainda não deslanchou. Como Ney - que continua ativo, presidindo a Itaipu Binacional e influindo na política - dezenas de outros paranaenses que já mereciam estudos biográficos, também permanecem esquecidos - a começar por Manoel Ribas (1873-1946), interventor do Paraná por 13 anos. O editor Roberto Gomes, da Criar, há pelo menos três anos tenta viabilizar uma coleção de pequenos ensaios biográficos - ao estilo da série "Esse Gaúchos", que a editora Tchê, de Porto ALegre, fez entre 1985/87, por ocasião dos festejos do Sesquicentenário da Revolução Farroupilha. Infelizmente, não conseguiu até agora nem patrocínio da iniciativa privada - e seria uma excelente forma de canalizar recursos da lei Sarney -, nem sensibilizar a Secretaria da Cultura, apesar desta estar abrindo seus cofres para publicar livros de poesia em co-edições com casas de outros Estados. xxx O gênero biográfico tem crescido no Brasil e mensalmente muitos títulos aparecem - tanto na abordagem de personalidades brasileiras como nomes internacionais - que podem, assim, serem melhor conhecidos. Só para dar alguns exemplos. Os 50 anos da morte do cangaceiro Lampião (Virgulino Ferreira da Silva, Vila Bela - 1900 - Angicos, Sergipe - 28 de julho de 1938), motivaram a reeedição de "Bandoleiros das Caatingas", que Melchiades da Rocha, havia publicado em 1942 - e que agora sai pela Francisco Alves Editora (212 páginas, Cz$ 2.500,00). Sergipano da cidade de Sertãozinho (hoje Major Izidoro), Melchiades da Rocha (10/11/1899), filho de um patriarca sertanejo, o Major Izidoro Jerônimo da Rocha, é advogado e jornalista - e acompanhou o ciclo do cangaço, como repórter. Assim, pôde, há 46 anos passados, oferecer não só uma biografia correta de Lampião, mas também uma análise das condições sócio-econômicas da época, que possibilitaram o surgimento do ciclo do cangaço - que apesar de ter vários estudos publicados, ainda justifica novos livros. xxx Do clima de aventuras e da miséria do Nordeste do início do século, na época dos cangaceiros, se passa para o mundo introspectivo e intelectual do escritor Lúcio Cardoso (1912-1968), em "Corcel de Fogo" de Mário Carelli (Editora Guanabara, 266 páginas tradução de Julio Castanon Guimarães). Neste ano em que há a efeméride do 20º aniversário da morte do autor de "Crônica da Casa Assassinada" - a transcorrer no próximo dia 23 de setembro - não poderia ser mais oportuna a publicação de instigante análise de sua vida e obra, desenvolvida pelo estudioso francês Carelli e que permite que se reveja, com clareza, os espaços fundamental ocupado por Lúcio Cardoso numa literatura brasileira. Mais do que uma biografia, Mário vasculhou todas as artes e gêneros experimentados por Lúcio e para tanto chegou a ordenar, antes de mais nada, o arquivo cardosiano, existente na Fundação Casa de Ruy Barbosa, revelando inéditos e empenhando-os em oferecer uma visão de conjunto do artista, não restrita apenas ao seu universo romanesco. Assim, o ensaio examina as diversas manifestações Lúcio, da pintura ao cinema, ao teatro e a poesia, tratando depois do conto e da novela, para chegar ao romance e finalmente a "Crônica da Casa Assassinada", o mais importante título legado pelo escritor. xxx Outro indispensável estudo é "Virgonia Woolf - uma Biografia" (1882-1941, de Quentin Bell) Editora Gunanabara, 614 páginas, tradução de Lya Luft). Fala-se muito em Viginia Woolf, já foi título até da mais famosa peça do americano Edward Albee ("Quem tem medo de Virgina Woolf?"), que, levada em 1966-1965 ao cinema por Mike Nichols, teve 10 indicações ao Oscar - levando quatro deles, inclusive de melhor atriz principal (Elizabeth Taylor) e coadjuvante (Sandy Dennis). Entretanto, poucos leram a sua obra e menos ainda os que conhecem a sua vida. Virginia Woolf está entre as grandes criadoras que revolucionaram a literatura contemporânea, inaugurando novas dimensões para a arte da narrativa. Romances como "Orlando", "Mrs. Dalloway" ou "As Ondas" foram reveladores de novas concepções estéticas e desde então vêm tendo papel significativo no desenvolvimento da literatura. Ao lado de sua atividade criadora, Virginia teve importante atuação na vida intelectual inglesa chegando a fundar, com seu marido uma editora, a Hogarth Press (até hoje uma das mais respeitadas editoras inglesas). No plano pessoal, teve uma vida conturbada, tanto no nível familiar quanto nas relações afetivas. E é esse universo que Quentin Bell, seu sobrinho, reconstitui neste livro de leitura fascinante. O título lembra a opereta musical que Vinícius de Moraes/ Carlos Lyra produziram em 1962, no ápice da Bossa Nova: "Pobre Menina Rica". Mas "Poor Little Rich Girl" foi o feliz título que David Heymann deu em 1983 para "The Life and Legend of Barbara Hutton", que agora está sindo no Brasil ( "Pobre Menina Rica", coleção Presença/ Editora Francico Alves, tradução de Aurea Weissenberg, 494 páginas). Personalidade fascinante de um estilo de vida inacreditavelmente grandioso, Barbara Hutton (14/11/1912-11/5/1979), representou um estilo de vida praticamente impossível de se repetir. De seu avô materno, Frank Winfield Woolsworth (13/4/1852-8/4/1919), que ao morrer deixou uma fortuna avaliada em US$ 65 milhões, Barbara herdaria uma fortuna fabulosa - mas ao morrer, há 9 anos, tinha apenas US$ 3.500 em sua conta bancária. Nome maior do jet set por mais de três décadas, mulher de muitos amores (e escândalos), a vida de Barbara Hutton tem momentos de grandiosidade e decadência e, mesmo sem ter sido atriz, esteve sempre ligada ao cinema, com casos com o produtor Howard Hughes ou o ator James Dean (mantidos em segredo por anos, revelados agora nesta biografia) e seus casamentos com o ator Cary Grant e o playboy Porfirio Rubirosa. Hoje, com a maioria dos personagens envolvidos ao longo de suas vida trepidante já morreram, C.David Heymann - que já havia escrito biografias de Ezra Pound, James Russel e Robert Lowell - tem este livro colocado no Brasil. Para quem gosta de saber sobre "a vida das pessoas muito ricas" é uma leitura recomendável - como diz Dianna Vreeland. Afinal, como o brasileiro fica cada vez mais pobre, uma vida como a de Barbara Hutton parece cada vez mais uma ficção-científica (ou seria financeira?).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
05/10/1988

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