Bianchi, nosso grande cineasta
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de março de 1989
Afinal, o Paraná tem um cineasta internacional. Nascido em Ponta Grossa, de formação curitibana, honesto, sem narcisismos e esquemas de autopromoção - ao contrário, relativamente esquecido localmente - Sérgio Bianchi, 38 anos, é hoje um dos grandes nomes do cinema brasileiro em projeção internacional.
Seu segundo longa-metragem, "Romance" - considerado pela crítica como um dos 10 melhores filmes de 1988 - continua sua carreira: após ter representado o Brasil em festivais de Toronto, Munique, Roterdam e Berlim, Sérgio no último dia 23, esteve no Museum of Modern Art, em Nova Iorque, representando o nosso país dentro do festival "New Directors, New Films".
Katia Canton, do "Jornal da Tarde" - um dos veículos nacionais que abriu o espaço que Bianchi merece, recordou em seu comentário o que aqui registramos no último dia 21: no dia 12, o programa televisivo "Sixty Minutes" da CBS, discutiu a inflação e a subvida dos favelados. No domingo, 19, o The New York Times, em sua revista dominical, publicou uma matéria cáustica sobre o Rio de Janeiro ("O Carnaval acabou?"). No dia 17, a Universidade de Harvard já havia patrocinado um simpósio sobre a morte de Chico Mendes e o desrespeito aos direitos humanos no Brasil.
"Romance", de Bianchi, não deixa de ter a linha crítica de um Brasil pessimista, mostrando a corrupção, a ingenuidade dos movimentos de esquerda, o empreguismo nos órgãos públicos. Falando após a projeção no auditório do Moma, Bianchi foi sincero como sempre:
- "Romance" é uma ironia, é anarquista, uma pedrada infantil.
Muita gente ficou para os debates. Queriam saber se Bianchi via o Brasil de maneira tão pessimista quanto mostra o filme. Serjão não teve mais palavras: pensa assim. Sérgio falou do desmatamento da Amazônia, da crise do cinema brasileiro, da burocracia.
A crítica americana lhe deu um grande espaço, com elogios.
Sérgio Bianchi tem um novo filme em pré-produção. Na crise do cinema brasileiro, não tem idéia de quando poderá iniciar a rodagem. Em compensação, no Museu da Imagem e do Som (desde segunda-feira, em sua nova sede) há uma cópia de "Entojo", visceral documentário de tema ecológico, rodado há 3 anos, em Guaraqueçaba, que permanece inédito. Agora, de volta de Nova Iorque, Bianchi anima-se a autorizar sua exibição.
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