Login do usuário

Aramis

A bendita Operação França vem atualizar os cinéfilos

Para quem nasceu no meio cinematográfico - filho de um dos mais famosos diretores de fotografia dos anos 40, Quinto Albicoco, e que aos 13 anos já fazia seu primeiro curta-metragem inspirado num poema de Rimbaud - participando depois da Nouvelle Vague, com ao menos um filme que os cinéfilos curtiram muito nos anos 60 ("A Garota dos Olhos de Ouro"), com Marie Laforet, Jean Gabriel Albicoco conhece, como ninguém, a cinematografia internacional. Por isto mesmo é que ao longo dos últimos 20 anos vem sabendo escolher o que há de mais importante para ser mostrado no Brasil - inicialmente na experiência do Cine Clube Meredian, depois através da Gaummont - que dirigiu por quase uma década no Brasil - foi um dos idealizadores do FestRio e, agora, pela Belas Artes Cinematográfica. Portanto, os 24 filmes que constituem o primeiro lote da programação que significará um ressurgimento do cinema francês em 1991, agrupa produções das mais significativas, realizadas nos últimos quatro anos - e que permaneciam desconhecidas no Brasil, apesar de premiações e participações em dezenas de festivais em várias partes do mundo. Através de um habilidoso acordo operacional, a Belas Artes não imobilizará recursos em compra de filmes estrangeiros mas atuará como "parceiros" dos produtores - que receberão seu percentual após o lançamento. Graças a isto, até 60 filmes poderão ser importados anualmente, fazendo com que as 40 salas que inicialmente farão parte do circuito de cinemas de arte possam ter uma programação renovada, a cada semana. Jaime Tavares, do alto de sua experiência como profundo conhecedor do mercado, encarregado da parte operacional, diz: - "Evidentemente que muitos filmes permanecerão semanas em cartaz, enquanto outros terão temporadas mais modestas - pelas suas próprias características". Mas o importante é que todos cheguem ao consumidor. A jornalista Rose Carvalho, competente assessora de imprensa na área cinematográfica, e que anteriormente havia ocupado a mesma função na Gaummont, retoma esta missão - após ter residido por um ano em Cuba, onde desenvolveu um excelente trabalho. Supervisiona o trabalho de promoção regional - em cada cidade haverá um coordenador para dar um tratamento especial aos filmes - Rose estimulará eventos paralelos, buscando público específico que, normalmente precisa ser motivado para certas categorias de filmes. Por exemplo, uma produção como "E a Luz se Fez" (Et la lumiére fuet), realizada pelo cineasta africano Otar Iosseliani, que aliás, esteve na programação da 14º Mostra Internacional de Cinema (em Curitiba, foi projetado em suas sessões no Ritz), exige um trabalho extra - pois se trata de uma obra antropológica, bela, mas de difícil consumo. Já uma nova versão de "La Boheme", ópera de Puccini, com direção de Luigi Comencine, com a soprano Barbara Hendricks, pode permanecer semanas se o (imenso) público que vem prestigiando as montagens operísticas no Teatro Guaíra, for devidamente motivado. Diz Rose: -"O fundamental é que cada filme seja trabalhado para um público direcionado, cumprindo uma real função cultural". xxx O lote inicial de 24 títulos - que estão sendo apresentados agora em pré-estréias no conjunto Belas Artes (seis salas), São Paulo, após terem exibição no Fashion Mail II, no Rio de Janeiro, mostram uma diversificação de temas e podem ser agrupados em três blocos. Há 11 filmes de diretores franceses ainda desconhecidos no Brasil, a maioria surgidos nos últimos 10 anos: 10 de realizadores já familiares a quem acompanha o cinema como arte: dois assinados por nomes famosos junto ao público - Claude Lelouche e o Claude Chabrol - e um superstar, que mesmo junto ao grande público, que nunca "entendeu" seus filmes, é famosíssimo: Jean Luc Godard, que com seu penúltimo longa-metragem, "Nouvelle Vague", está, naturalmente, no bloco desbravador, com os cinco primeiros títulos a terem lançamento normal. "Nikita", de Luc Bresson e "A Vida é Nada Mais", de Bertrand Tavernier - são dois filmes de diretores relativamente conhecidos para este primeiro pacote de lançamentos, complementado por uma produção russa, premiada no último festival de Cannes, "Taxi Blues", de Pavel Louguines. "Nikita", do mesmo diretor de "Subway" e "Imensidão Azul" - filmes que fizeram boa bilheteria no Brasil - é um thrilling movimentado com muita ação, que ao lado de uma nova atriz - Anne Parillaud, belo rosto, uma das integrantes da comitiva que se encontra em São Paulo, e de Jean Hughes Angland ("A Guerra do Fogo", "Subway"), traz numa personagem marcante o maior nome do cinema francês dos anos 60: a divina Jeanne Moreau. Já "A Vida é Nada Mais" (La Vie et Rien D'Autre, 1989), além de uma nova e bela atriz - Sabine Azema - e do já conhecido Philip Noiret (entre outros filmes, "Meus Caros Amigos" e "Cinema Paradiso") significa a oportunidade de se conhecer melhor a obra de um cineasta elogiadíssimo e que fez em 1984 uma obra premiadíssima: "Um sonho de Domingo" (Un Dimanche a la Campagne), que só há pouco chegou ao Brasil - mas que continua inédito em Curitiba. xxx Michel Deville, diretor de "Uma Leitora bem Particular" (La Leatrice), com Miou-Miou - ambos também no Brasil, é conhecido por quem acompanha o cinema francês. Mas mais famoso é Claude Lelouch, o diretor de "Retratos da Vida" - um dos maiores sucessos de bilheteria de todos os tempos. Dele, a Belas Artes lançará "Itinerário de um Garoto Mimado", com o popularíssimo Jean Paul Belmond, ao lado de um novo astro francês - Richard Anconina. Há ainda mais dois Claude significativos nesta reinvestida do cinema francês: Claude Sautet, 64 anos, realizador de filmes como "As Coisas da Vida" (1969, grande sucesso com Michel Picoli e Romy Schneider), "Cesar e Rosalie" (1972, com Yvens Montand / Romy Schneider) e o belíssimo "Vicente, Francisco, Paulo e os Outros" (1974), e o diretor de "Alguns Dias Comigo" (Quelques Jours Avec Moi). Já Claude Chabrol, 60, terá o seu elogiadíssimo "Um Assunto de Mulheres" (com Isabelle Hupert, Françoise Cluzet e Marie Trintignant) lançado comercialmente - após ter sido uma das atrações do FestRio, há 3 anos passados. A mais bela atriz da França, Catherine Deneuve, é a dramática personagem de "Local do Crime" (Le Lieu du Crime), de André Techine, 47 anos, que teve até agora apenas um filme, "Barroco", exibido no Brasil. Dois ternos filmes, voltados ao mundo das crianças, são "A Glória de meu Pai" (La Gloire de mon Pére, de Yves Robert, o mesmo diretor de "A Guerra dos Botões", 1961) - já visto na Mostra Internacional de Cinema no Cine Ritz (foi um dos melhores programas) e o emocionante "Quando Acaba a Guerra", de Jean Loup Hupert, entre os diretores ainda desconhecidos que agora se tornarão conhecidos, ao menos dos cinéfilos, com a exibição de seus filmes no novo circuito. LEGENDA FOTO 1 - Miou-Miou, atriz francesa de expressiva filmografia, esteve até ontem no Brasil, na promoção de seu filme "Uma Leitora bem Particular", apresentado em pré-estréia no Rio e São Paulo. LEGENDA FOTO 2 - Claude Chabrol dirigindo Isabelle Hupert em "Um Assunto de Mulheres", uma das fitas mais comentadas nos últimos meses e que em 1991 estará no circuito de arte criado por Albicoco.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
23/12/1990

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br