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Aramis

A bênção de Abril (II)

São múltiplos os aspectos que justificam destaque para << A Bênção de Abril - Memória e Engajamento Católico 1963/64 >> (Editora Vozes, Cr$ 4.000,00), que somente no próximo dia 17 terá seu lançamento oficial. Ao lado de resgatar para a história contemporânea detalhes de um período dos mais importantes na vida política brasileira - e que permanecia ignorado por uma nova geração - o trabalho de Paulo Cesar Loureiro Botas, 39 anos, paranaense de Jacarezinho, comprova, mais uma vez, a importância de um jornal como fonte documental. Estudando a coleção de << Brasil, Urgente >>, Paulo Cesar teve condições de mostrar, em linguagem clara e didática - conforme preocupação do orientador de sua tese, o francês Claude Lefort - a evolução da crise brasileira que desaguaria, há 19 anos, no golpe que derrubou o governo do presidente João Goulart. Passados 20 anos, muitas das causas que provocam tanta polêmica, greve, discussões, atritos, crises entre os vários poderes - continuam as mesmas, o que dá a este livro-tese impressionante atualidade - motivo pelo qual deverá ter grande repercussão e, como espera, naturalmente, o autor e a editora, ingressar na relação dos mais vendidos na área da não-ficção. xxx Paulo Cezar situa, com objetividade, o papel da Igreja brasileira no início dos anos 60 na batalha pelas transformações sociais - num programa que resistiria aos anos mais duros da repressão e que prossegue, saudavelmente, até nossos dias. Por isto, é importante fazer algumas colocações para entender melhor sua análise. a partir da revolução cubana (1959), a Igreja Latino-Americano (que também havia participado do desafio representado pela revolução de Sierra Maestro) passou a ter maior identificação com as revoluções sociais. Muitos católicos mostravam-se favoráveis à Revolução de Field Castro contra a ditadura de batista. Quando, porém, em 1960, Fidel se declarava marxista-lenista, os grupos católicos se afastaram do movimento de 26 de julho e passaram a criticá-lo negativamente. Dada a situação de subdesenvolvimento da América latina e de possibilidade real de uma revolução social no continental começou a se falar de uma revolução não-comunistas. Em março de 1961, o presidente Kennedy propunha a Aliança para o Progresso, programa assistencial para a América Latina que mobilizaria os esforços e recursos das nações americanas contra as injustiças e desigualdades sociais do continente. Em agosto/61, a Carta da Aliança para o Progresso era assinada em Punta del Este, Uruguai, por todos os membros da OEA, exceto Cuba. No ano seguinte, a Federation Onternationale des Institudes Catholiques de Recherches Sociales et Socio-Religeuses concluía um estudo sobre a América Latina que serviria aos bispos do continente para a melhor compreensão dos problemas. No Chile era lançada a revista >>Mensaje >>, editada pelos jesuítas liderados pelos padres Vekemans - voltada ao exame dos problemas sociais e propunha uma << revolução em liberdade >>, que deveria ser iniciada e dirigida pela << classe mais rica >> e << melhor preparada culturalmente >>. Propunha o Jesuíta Vekemans, que a mesma deveria ser << de cima para baixo, econômica e tecnologicamente >>. Esta tese exerceu grande influência na formação do ideário da Revolução Cristã. No Brasil, no início da década de 60, a idéia de participação dos cristãos na Revolução nascera no interior da JUC (Juventude Universitária Católica), do MEB (Movimento de Educação de Base) e encontrara no movimento da AP (Ação Popular) a sua expressão política mais precisa. Naquele momento a Ação Católica brasileira estava fortemente influenciada pelo pensamento de Maritain, de Mournier, de Teilhard de Chardin e pelo movimento << Economia e Humanismo >> do padre Lebret. Os textos do padre Henrique Vaz, SJ, sobre << Consciência Histórica >> eram o fundamento teórico da Ação Popular, Herbert José de Souza - irmão do chargista Henfil e que viria a ser o inspirador de << O Bêbado e o Equilibrista >> (João Bosco/Aldor Blanc), durante seu exílio na França -, foi um dos fundadores da AP no Brasil. Outra entidade importante neste período era o Instituto Superior de Estudos Brasileiros, criado em 14 de julho de 1955 por Café Filho, que assusmira a presidência após o suicídio de Vargas em agosto de 1954. Segundo seus fundadores o ISEB nascera << de um imposição decorrente das condições entre o imperialismo e a burguesia nacional >>. No Iseb os intelectuais estavam encarregados de realizar as aspirações de sobrevivência e fortalecimento da burguesia nacional e serem todos << uma cidadela respeitada na luta antiimperista >>. Os mentores do Iseb pretendiam elaborar uma ideologia verídica e autêntica fornecendo subsídios para que << as classes dominantes viessem a se tornar realmente dirigentes >>. E esta ideologia do nacionalismo desenvolvimentista elaborada para justificar a > do Plano de Metas do governo Juscelino Kubischek culminava numa proposta de alianças das classes sociais sob a hegemonia da burguesia indústria << autóctone >>. Nos seus intelectuais como Osny Duarte Pereira, Álvaro Vieira Pinto, Hélio Jaguaribe, Rolando Corbisier, Cândido Mendes etc. O nacionalismo aparece como a << ideologia nacional >> que exigia até medidas autoritárias para reprimir todas aquelas forças e movimentos que ameaçassem romper << com nossa vocação ocidental e democrática >> ou seja , capitalista. Para o Iseb a revolução brasileira denominava-se << Reformas de Base >> e o Plano Trienal de João Goulart seria << uma farsa e um insulto à miséria se o latifúndio e o imperalismo permanecerem intocáveis >>. No plano nacional o tema dominante era o das reformas de base. Os bispos brasileiros o assumiam e com o seu apoio, nascia a Sudene. O espectro de uma possível comunista conduzia os católicos apoiarem a política das reformas pelo governo. Estas reformas substituiriam a necessidade da Revolução e Obteriam os mesmos resultados com menores gastos. Já está se tornando rotina para o esforçado Antenor Santos, radialista, publicitário e relações públicas do escritório da Embrafilmes, receber a comunicação da vinda de um diretor ou atriz de um filme brasileiro que está sendo lançado, marcar entrevista coletiva e, na hora da chegada, ficar inutilmente à espera da vedete no Aeroporto Afonso Pena. Ontem pela manhã, o bom antenor amargou algumas horas de espera do vôo Cruzeiro do Sul, que saindo cedo do Galeão deveria trazer a atriz Tânia Alves, que já no sábado passado havia dado o cano na pré-estréia de << Parahyba, Mulher Macho >>. Tânia, que interpreta Anayde Beiriz no filme de Tizuka Yamasaki, acabou não vindo- e nem deu maiores explicações. Se Tânia não veio, em compensação, no sábado à noite, após a exibição do filme no Cine São João, houve positivo debate com a presença de Tizuka e do escritor José Jofilly, autor de << Anayde Beiriz >> (editora Record, 12.ª edição), primeiro historiador que localizou a importância do romance entre o advogado João Dantas e a professora Anayde e a relação deste envolvimento com o assassinato de João Pessoa, governador da Paraíba, em julho de 1930 - gota d`água para o início da revolução que levaria Getúlio Vargas ao Catete - ali permanecendo por 15 anos. Há mais de um mês que os vôos no período da manhã do aeroporto Afonso Pena estão saindo com atrasos de uma a cinco horas. É que a aparelhagem ILS - que permite a aterrissagem e decolagem por instrumentos, está estragada, sem que haja uma preocupação de recuperá-la em pouco tempo. O resultado são prejuízos das empresas e irritação dos passageiros, obrigados a permanecerem horas no aeroporto. Na sexta-feira, alguns dirigentes locais de empresas aéreas procuraram a administração do aeroporto indagando quando o problema será solucionado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
11/10/1983

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