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Avaré mostrou como se faz um evento musical

O mais importante festival de música popular do Paraná - o Fercapo - realiza-se no próximo fim-de-semana, mas até agora o bom amigo Vermelho, presidente do Tuiuti E.C., que promove e organiza o evento, ainda não divulgou detalhes importantes - músicas inscritas (quantas foram?), composição do júri e, especialmente, os artistas que farão os shows na três noites do Festival. "Vermelho" tem uma boa equipe, gente dedicada e entusiasta, que em mais de uma década e meia conseguiu fazer um festival modesto a partir do próprio nome fosse o único a se consolidar no estado, melhorando de ano para ano. Infelizmente, o Festival ainda não conseguiu expandir-se como um núcleo de atividades culturais paralelas, apesar de toda boa vontade dos organizadores. No ano passado o secretário Renê Dotti - na primeira vez que um titular da pasta da Cultura ali esteve presente - deu condições para que fosse realizado um ciclo de curtas e médias metragens sobre MPB e estimulou a promoção de uma mesa-redonda em que compositores, instrumentistas e jurados - incluindo os nomes nacionais, que Cascavel tem conseguido reunir - discutiram problemas relacionados a festivais, a música e mesmo direitos autorais. Os resultados foram frustrantes: pouquíssimas pessoas apareceram nas sessões em que eram exibidos filmes interessantíssimos e a mesa-redonda nem aconteceu, por falta de interesse fos principais interessados - os próprios participantes do Festival. xxx Uma comparação é inevitável: em sua sexta edição, a Feira Avarense da Música Popular (8 a 10 de julho) consolidou-se não só como o mais importante evento de música popular de São Paulo como, crescendo em organização e no valor de prêmios (este ano foram Cz$ 1.500.000,00 em várias categorias), hoje só perde para o Musicanto, em Santa Rosa, que continua a ter o maior prêmio - traduzido num Ford Del Rey, zero quilômetro, oferecido pelo concessionário local, ao autor (es) da canção classificada em primeiro lugar. No ano passado, o grande homenageado da Feira Avarense da Música Popular foi Edu Lobo que, naturalmente, fez o show de encerramento. Este ano, o homenageado foi Gilberto Gil, 47 anos, que apesar de seus compromissos administrativos - presidente da Fundação Cultural Gregório de Mattos, político (é candidato a prefeitura de Salvador) e, especialmente musicais - não recusou o convite e teve uma participação tão simpática em Avaré, que o júri, por unanimidade, o considerou como "Destaque Avaré", pela decidida contribuição ao pensamento e à realização da MPB num momento chave de nossa história, onde ele une a forma artística à questão política, na defesa do Conjunto Arquitetônico do Pelourinho. xxx Idealizado pelo músico compositor (e advogado) José de Araújo Novaes, o estimado Juca, com apoio de seu pai, o prefeito de Avaré, Paulo Dias Novaes, a Fampop, mesmo tendo patrocínio da prefeitura, tem-se conseguido manter desvinculada de grupos políticos. "É antes de tudo e acima de qualquer coisa, um movimento musical e uma das maiores atrações que Avaré dispõe no seu calendário cultural", diz Juca, esperançoso que mesmo com a mudança na prefeitura, nas próximas eleições, a Feira não venha a sofrer interrupções (nos anos 60, quando o irmão do deputado Paulo Pimentel, que nasceu em Avaré, ocupava a prefeitura, já havia um festival de MPB, mas que foi desativado após sua administração - como aconteceria, também no Paraná, no qual os sucessores de Paulo, não souberam manter os eventos culturais criados em seu governo). A promoção chama-se Feira por transpor as limitações de um simples festival competitivo. Assim, na semana que acontece sua realização, há toda uma programação com debates, mostras da carreira do homenageado do ano (Edu em 87; Gil neste), sobre as feiras anteriores (fotos, vídeos, publicações, etc), além de teatro, dança, manifestações folclóricas e ecológicas - eventos paralelos que se espalham por vários espaços da cidade, incluindo o belo Horto Municipal. Algo que, em Cascavel, poderia fazer do Fercapo um grande acontecimento cultural - no momento em que mais do que apoio oficial, existir interesse da própria comunidade. Talvez dentro de alguns anos, isto venha acontecer...
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
20/07/1988

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