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Aramis

Astrid, a Joana que deixou nosso teatro

Por onde andará Astrid Rudneger, aquela jovem atriz que, no verão de 1958, emocionava os espectadores do auditório Salvador de Ferrante, interpretando com garra e amor a Donzela de Orleans em "Seu Nome Era Joana", uma das primeiras peças escritas pelo jovem Eddy Antônio Franciosi? No dia seguinte ao sepultamento de Eddy, em Guarapuava - cidade para qual sua família mudou-se quando era ainda criança - aqui fazíamos esta indagação. Mesmo os veteranos colegas de Eddy, desconheciam o paradeiro de Astrid, que como outras atrizes do idealista teatro que se fazia em Curitiba nos anos 50 - Aracy Pedroso, a bela Rosinha Azevedo (com seu tipo Marilyn Monroe, sexy e sensível) desapareceram dos meios artísticos, recolhendo-se a prosaicas vidas domésticas. Um simpático e longo telefonema na noite de sábado, revela que Astrid continua em Curitiba, embora há muito - como tantos outros talentos (Oracy Gemba, por exemplo) tenha se afastado dos palcos, por não aceitar as regras do jogo de concorrência que se estabeleceram nestes últimos anos. Na tranquilidade de seu belo confortável apartamento, acompanhando a programação via televisão, Astrid não deixa, entretanto, de sonhar em voltar ao teatro ou televisão, "mas em nível maior, como numa telenovela da Rede Sílvio Santos" brinca, dizendo que já até pensou em escrever para a "Porta da Esperança" com seu desejo de retornar a televisão. Experiência não lhe falta, adquirida nos tempos pioneiros da TV Paranaense, quando com seu grupo Chapéu de Palha ali apresentou várias telepeças, uma delas, escrita por Valêncio Xavier, tão "ousado" para a época, que no dia seguinte a transmissão (ao vivo, naturalmente), o Dr. Nagib Chede a chamou e disse que ela era uma excelente atriz e até o (então) arcebispo D. Manoel da Silveira Delbroux havia lhe telefonado impressionado por seu talento. Só que "um talento tão corajoso", que se via obrigado a suspender o programa, "pois as famílias curitibanas vão se chocar". Afinal, o que Astrid havia apresentado? - Uma simples seqüência em que, interpretando uma prostituta, a câmera focalizava minhas pernas e passava, rapidamente, sobre meu bumbum. Vestido, naturalmente. Como Eddy Franciosi e Glauco Sá Brito, Astrid foi também uma gaúcha que veio para Curitiba e aqui paralelamente aos seus estudos - formou-se cirurgiã-dentista em 1952 - participaria do movimento teatral. Sua atuação como a menina Maribel de "Pluft, o fantasminha", com direção de Armando Maranhão, foi elogiada pela própria autora Maria Clara Machado. Em concurso realizado no auditório da Biblioteca Pública, concorrendo com dezenas de outras jovens, seria escolhida por Telmo Faria para fazer "Seu Nome Era Joana". Quando Rubem Valdurga, então estudante de direito - mais tarde deputado estadual, secretário do Trabalho e Assistência Social, falecido há 3 anos - ganhava o papel de Rei Carlos. Na ficha técnica deste espetáculo estão muitos nomes que hoje ocupam cargos de destaque em vários setores. Um dos guardas da peça era o outro estudante de direito, Edésio Passos - com quem Valdurga dividia o apartamento. Brilhante estudante de direito, apaixonado por teatro - sobre o que escreveu durante anos em seus tempos de jornalistas de O Estado do Paraná e já com profunda consciência política, Edésio foi também um dos idealizadores do Festival de Teatro Amador que, por um bom período o Centro Acadêmico Hugo Simas promoveu naqueles anos 50. Advogado trabalhista e líder do PT, Edésio esteve como um dos candidatos do parido dos Trabalhadores com energia para ser eleito à Assembléia Legislativa. Anteriormente, já foi candidato ao governo do Paraná pelo mesmo PT. Astrid Rudneger, imerecidamente esquecida quando se fala no teatro paranaense, teve sempre uma personalidade forte e ficou famosa a sua briga cênica com José Maria Santos nos bastidores de "Uma Mulher e Três Palhaços" - "Isto, entretanto, não impediria que a peça fosse apresentada. O que impediu foi a confusão política, pois o incidente ocorreu justamente no dia em que Jânio Quadros renunciou - 24 de agosto de 1962 e com isto o teatro não deu espetáculo". Na televisão, Ary Fontoura, então o nome mais popular de nosso meio artístico da época (quando também dirigia a Sociedade Paranaense de Teatro), a convidou para a série "Histórias Que a Vida Conta", o que lhe deu uma boa experiência para, tempos, depois, com seu grupo Chapéu de Palha, passar a direção nos improvisados estúdios da TV-Paranaense. Com memórias afetuosas de uma época risonha e franca de nossa vida artística, Astrid Rudneger contempla com tranquilidade aqueles anos dourados. Embora muita coisa tenha mudado - especialmente o comportamento dos artistas (ficou chocadíssima ao saber que há artistas que são drogadas), ela tem muitas estórias para serem contadas - necessárias de uma gravação para a memória artística do Paraná.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
04/10/1990

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