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Aramis

Artigo em 13.08.1977

Quando um brigadeiro que gostava de boa música, assumiu o comando da Escola de Oficiais Especialistas e de Infantaria de Guarda, há 18 anos, decidiu fazer da banda daquela corporação uma das melhores do país. E para tanto estimulou a incorporação de excelentes instrumentistas - embora nem sempre disciplinados militares na condição de sargentos-músicos. Um deles foi Raul de Souza - o Raulzinho, trombonista de vara, que se destacaria como um dos mais criativos músicos que já passaram por Curitiba. Aqui apesar de suas obrigações matinais na Eoeig, atravessava madrugadas, tocando em bailes ou nas boites de Curitiba dos anos 50 - menos vazia em termos de roteiro depois da meia-noite, do que em nossos dias. Se no "Grafesul", ("Marrocos"(, "La Vie En Rose" ou "Tropical" este último onde hoje funciona o Bar do Pasquale, no Passeio Público, a platéia raramente aceitava as improvisações jazzisticas de Raulzinho, acompanhado, muitas vezes, de Airto Guimorvan Moreira, então baterista no King's Clube - eles saiam tocando pelas ruas, fazendo jazzisticas serenatas na Praça Sório ou mesmo no Passeio Público, tocando para um casal de búfalos na ilha de nosso zoo. O jornalista Roberto Muggiatti, hoje diretor da revista Manchete, que morava em Curitiba era um dos poucos "expertos" em jazz a reconhecer já os méritos extraordinários de Raulzinho e Guimorvam, obviamente deslocados na cidade, na época - ainda condicionada musicalmente a padrões dançantes e bem comportados - e que tinha em Genésio e Osval os líderes das duas "big bands" mais populares. O tempo passou, Guimorvan foi para São Paulo, trabalhou com o grupo de Guimarães, formou o "Quarteto Novo" (com Hermeto, heraldo do Monte e Theo de Barros) e, em 1967, acabou seguindo para os EUA, junto com sua mulher, a cantora Elora Purim. Depois de passar fome e frio em Nova Iorque, Guimorvan conseguiu o lugar que merecia, como um dos mais fortes percussionistas (contemporâneos( e pôde, então, dar condições para Raulzinho se fixar definitivamente nos EUA. Pois Raulzinho, desde que deixou Curitiba - em 1964, trilhou muitos caminhos: integrou o comercial conjunto de Roberto Carlos, trabalhou em inferninhos do Rio e São Paulo, mas também foi ouvido pelo pianista alemão Friedrich Gulda, que chegou a convidá-lo para atuar na Alemanha. Nos EUA, há anos, Raulzinho fez o seu primeiro lp, "Colours", até hoje inédito no Brasil, produção de Airto Moreira. Agora, Raulzinho fez um novo lp, produção de George Duke, na Capitol Records - e este, felizmente, agora sai no Brasil. Para quem conheceu Raulzinho em Curitiba, tentando, há 15 anos passados, aqui mostrar o seu som moderno, criativo, e uma grande alegria poder ouvi-lo, num álbum em que teve amplas condições de mostrar suas boas imagens, executando temas próprios - "Wild And Shy", "At Will" e "Botton Heat", ao lado de composições do produtor do lp, George Duke - "Sweet Lucy", "Wires", além de composições de amigos, como João Donato ("Banana Tree") ou Silveiro-Medeiros - a belíssima "Canção do Nosso Amor", por sinal, que sola não só no trombone mas também vocalmente.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
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13/08/1977

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