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Aramis

Artigo em 05.07.1991

1) Na sala Villa-Lobos do Teatro Nacional, na noite de terça-feira, solenemente como tudo que havia sido planejado, a sessão de abertura com uma cópia restaurada de "Limite", em comemoração aos 60 anos do filme de Mário Peixoto - com direito a um belíssimo acompanhamento da Sinfônica do TNCS, com regência do maestro Sílvio Barbato. Presença do governador Joaquim Roriz - que garantiu os Cr$ 190 milhões para esta 24a. edição do mais antigo festival de cinema brasileiro ter realização tranqüila, confortável, com mais de 200 convidados e generosas premiações - além de Cr$ 30 milhões e os "fandangos" em mais de 20 categorias, aluguel de Cr$ 5 milhões para os longas e Cr$ 500 mil aos curtas. xxx 2) No intervalo da sessão, uma atriz brasileira, Isabela Brochado, subiu ao palco e leu um manifesto escrito pelo jornalista José Pereira que há dois anos foi produtor executivo de "Brasília - A Última Utopia" (5 episódios realizados por cineastas desta capital, ainda inédito em circuito [nacional]). Amigo e admirador de Glauber Rocha - cujo 10o. ano de morte transcorre em agosto, Pereira fez um apocalíptico manifesto-apelo no estilo do linguajar debochado do cineasta de "Terra em Transe", dizendo a certa altura: "O Brasil, felizmente, conquistou regional e universalmente a linguagem do áudio-visual na sua compreensão histórica e antropológica. Sem isto, não haverá pensamento fértil e civilizatório. Inclusive é mister que todas as nações tenham acesso, de forma igualitária, à indústria e a linguagem do áudio-visual para o planeta ter seu espelho holonístico revelado e projetado em definitivo". xxx 3) No tripítico programa de curtas-metragens desta noite no cine Brasília - agora com equipamento Dolby, oferecendo uma creperia (Chez Michou) e uma banca de publicações (nos quais estão as remanescentes edições da Embrafilme) - além da curitibana "Loira Fantasma", de Fernanda Montini - concorrem dois outros interessantes curtas: "Rota ABC", no qual Francisco César Filho registra as manifestações da juventude que habita a região industrial do ABC paulista e "Numa beira de estrada", de Marcos Guttman e Luís Eduardo, sobre um homem cuja única ocupação é colocar pregos sobre o asfalto, furando os pneus dos carros que por ali trafegam - e ganhando trocados para substituí-los. 4) Nelson Pereira dos Santos, o mais respeitado cineasta brasileiro, presidente do júri, tem mantido reuniões com Sérgio Paulo Rouanet, secretário da Cultura, sobre projetos que permitam a retomada da produção cinematográfica brasileira. Dizendo que, por enquanto, "estamos num plano ainda de idéias, sem projetos específicos", o diretor de "Memórias do Cárcere" - há seis nos sem filmar (o projeto de "A Terceira Imagem", baseado em Guimarães Rosa, continua congelado) é otimista: "Agora acenderam-se luzes no final do túnel". 5) Pela manhã, no cine Brasília, além da antecipação dos filmes em disputa para a imprensa, acontece o Festivalzinho, destinado a crianças e adolescentes, com filmes nacionais e estrangeiros (cedidos especialmente por embaixadas de vários países) e também do acervo herdado pelo Instituto Brasileiro de Arte e Cultura da extinta Fundação do Cinema Brasileiro, entre eles "Tem Boi no Trilho", de Marcos Magalhães.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
05/07/1991

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