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Aramis

Artigo em 01.12.1985

Aramis Millarch, do Rio de Janeiro - Não foi apenas "Aleksanderplazt", de Fassbinder, com suas quinze horas de projeção, que se constituiu num dos mastodônticos desafios paralelos nete II Festival Internacional de Cinema, Video e Televisão, oficialmente encerrado sábado, mas que prossegue ainda com muitos programas. No Gaumont Copacabana haverá hoje a partir das 15horas, a exibição de um filme enorme , que há 22 semanas faz sucesso em Paris e que acaba de estrear em Nova Iorque : "Shooh". O cineata Claude Lazmam, seu realizador, está no Rio - como tantos outros nomes famosos (diretores, produtores, artistas etc.) e como a Alvorada Filmes (ex-Gaumont), adquiriu os direitos deste super-filme que, exibido em Cannes, em maio último, foi celebrado por críticos, historiadores, sociológos e até mesmo único da não ficção-cinematográfica)). "Shoah" é um filme que ocorre durante quase dez horas de projeção como um depoimento sobre o proesso [processo] de genocídios dos judeus da europa Oriental, recorrendo apenas ao testemunho de pessoas que viveram na fronteira do extermínio. Não há cenas de arquivo , nenhuma violência física retirada de fotos ou de imagens animadas da época : tudo se passa hoje, como uma longa história revivida através de palavras e nos lugares em que os fatos aconteceram. Lanzmann recusa a facilidade, porém sua obra, pela sinceridade, pela forma, estrutura e processo adotados, ganha uma dramaticidade incomun. O cineata começou a trabalhar neste projeto em 1974. Sua pesquisa preparatória durou 3 anos e meio, em 14 países. Firmou 350 horas de película para uma metragem de 561 minutos. Lanzmann, autor de outro importante documentário (" Porque Israel?") é um veterano jornalista, com um longo passado de atividade política, tendo lutado na resistência durante a ocupação alemã. Foi amigo pessoal de Sartre e ainda é um ativo editor do "Les Temps Modernes". Simone de Beauvoir, escritora e que foi mulher de Sartre escreveu a respeito do filme "Shoah"("Holocauto", título que terá no Brasil): - "Não é facil falar de Shoah". Há magia neste filme e a magia não pode ser explicada. Lemos, depois da guerra, inúmerostestemunhos sobre os guetos, sobre os campos de extermínio: ficamos emocionados. Mas vendo hoje o estraordinário filme de Claude Lanzmann, nós nos apercebemos que não tínhamos sabido de nada". TANGOS NO FINAL Depois de um porre audiovisual de mais de 700 títulos - entre quase 500 filmes e cerca de 200 teipes, em dez dias de intensa vibração, no qual nomes famosos do cinema nacional e internacional convivem com anônimos espectadores, o FestRio, nesra sua segunda edição, chegada ao final. Até o seu quinto dia, nenhum grande filme havia sido apresentado, sendo a maioria das produções em competição pouco representativas - o que tornava difícil, quase impossível, antecipar os resultados anunciados somente na noite de ontem, sábado. E para o encerramento, foi escolhido um filme que fará a delícia dos milongueiros como Sérgio Mercer, publicitário, ex-presidente da Fundação Cultural, (Cargo, para o qual voltaria, com certeza , se o seu amigo Jaime Lerner tivesse sido eleito prefeito): "Tangos - o Exílio de Gardel". O Grande prêmio especial do júri em veneza-85, mais os prêmios da Unicef, do Sindicato dos Críticos Italianos dos Cinemas de Arte e de Ensaio e o Grande Prêmio Especial do júri do Festival de Biarritz, "Tangos - O Exílio de Gardel", de Fernando Solanas, a exemplo de "Ram", de Akira Kurosawa (que abriu o Festival) e "Shoak" terá lançamento comercial no Brasil, já que teve seus direitos adquiridos pela Alvorada (a mesma distribuidora do "Je Vous Salue, Marie", de godard, que tanta polêmica provocou por ter sido suspensão sua exibição no Festival). Através da história humana que conta "Tangos - O Exílio de Gardel", com seu cortejo de peripécias amorosas, cômicas e dramáticas, tenta abordar três principais temas. Em primeiro lugar, o exílio latino-americano no seu desenrolar - suas dificuldades de inserção seus sofrimentos, suas solidões, os direitos humanos - as personagens forçadas ao exílio simplesmente por ter desejado a "democrácia" na Argentina descobrem a solidariedade francesa. A terra de asilo que a França sempre representou para muitos povos. Dá-lhes a possibilidade de crer no valor essencial dos direitos humanos. Por último, o filme aborda a intenção cultural. Em Paris, capital cultural do mundo, duas culturas encontram-se através do prisma do tango que ali sempre foi prezados. Co-produção franco-argentina "Tangos - O Exílio de Gardel" tem direção de Fernando Solnas, música original de cAstor Piazzolla e um elenco internacional: Marie Laforet, bela atriz , há anos ausente das telas, assim como Marina Vlady (musa de cinema francês dos anos 50), aparecem ao lado de Philippe Leotard, Miguel Angel Sola, George Wilson, Ana Maria Picchio, Claude Melki e outros. O Núcleo Danza, notável grupo de danças, participa também com destaque neste filme belíssimo que, se espera, não demore muito a ter o seu lançamento comercial. Se "Esperando a Carroça", filme que representou oficialmente a Argentina no FestRio, na parte competitiva, decepcionou por se tratar de uma comédia meio rpimitiva, excessivamente gritada em linguagem teatral, houve dois momentos gloriosos mostrando o vigor deste novo cinema que acontece no vizinho País: o emocionante "Político a História Oficial"(premiado em Cannes, em maio último) e esta co-produção com a França "Tangos - O Exílio de Gardel". Como está havendo uma mostra paralela de vários filmes argentinos. (que a embaixada daquele país levará a Porto Alegre, graças aos esforços de Romeu Grimaldi, diretor da Casa Mário Quintana) está na hora de Francisco Alves dos Santos, nosso homem do cinema cultural, movimentar-se para lutar em favor de que o novo cinema argentino chegue também às nossas telas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Cinema
38
01/12/1985

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