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Aramis

A Arte da Phonogram

Entre as gravadoras internacionais que funcionam no Brasil, não há dúvida de que uma das mais bem organizadas é a Phonogram. A multinacional holandesa atravessou na última década uma fase de prosperidade, graças a uma administração dinâmica, capitaneada pelo franco-brasileiro André Midani, de forma que hoje disputa, sempre (e com vantagens) os primeiros lugares em sucesso e, obviamente, faturamento. Obedecendo as regras do marketing, buscando dar as diversas faixas de público aquilo que exige, a política fonográfica da Phonogram é estabelecer um determinado número de artistas, capazes de atingirem os pontos estabelecidos pelos seus departamentos de venda. Assim, seu elenco pode não ser o maior da [emepebê], mas é, seguramente, o que mais vende, em termos globais para alegria de seus representantes regionais, como o estimado Roberto Berro, do escritório do Paraná e Santa Catarina, que, tranquilamente, mensalmente ultrapassa as quotas de Cr$ 500 mil de faturamento. Essa digressão econômica é importante a ser feita, pois ajuda a entender o critério dos lançamentos da antiga CBD. Por exemplo, ao lado de seus catálogos internacional e erudito (temas para outros comentários), sua produção nacional vem se concentrando atualmente, em duas frentes: o lançamento de discos novos - desde os luxuosos e excelentes álbuns como Vinicius/Toquinho, Chico Buarque, Maria Bethania etc. até produções classe "c", como Odair José, (estes geralmente sobre a égide da Polydor, uma das etiquetas subsidiárias), não esquecendo, também, a fábrica, alguns "discos de prestígio", como o experimental [elepê] do vanguardista Walter Smetack, um dos que menos vendeu (tentem encontrá-lo em qualquer da cidade, nenhuma sequer comprou), mas que está entre os lançamentos mais importantes do ano. A segunda faixa a que a Phonogram vem dedicando especial atenção é a de relançamentos. Como as outras gravadoras, a direção da fábrica percebeu que existem novas gerações sequiosas de adquirirem elepês importantes, editados há 6, 7 ou 10 anos, mas que já foram retirados de catálogo. E mesmo sendo uma fábrica jovem, sem portanto o acervo histórico de uma RCA ou Odeon, a Phonogram [detém] matrizes importantes, de várias pequenas etiquetas que ao longo das décadas de 50 e 60 foram se aglutinando para formar a hoje poderosa gravadora (Sinter, Elenco, Forma[,] etc.). Assim, há quatro anos, o notável Maurício Quadrio, que embora mais dedicado ao setor erudito internacional e clássico, não deixa de ser também um esforçado pesquisador da [emepebê], produziu a coleção "No Tempo dos Bons Tempos", com matrizes da Sinter, entre 1954/57, apresentadas numa coleção muito bem organizada. No ano passado, foi iniciada a "Série Histórica", pela qual estão reaparecendo as melhores produções de Aloysio de Oliveira, na Elenco, entre 1962/66, além de elepês avulsos, mas de boa qualidade. Recentemente, foram reunidos trechos mais significativos de uma dezena de produções, para a coleção-caixa "Encontros", com 3 elepês, que infelizmente não mereceu divulgação regional, mas apesar disso está vendendo bem, pois contem trechos antológicos de apresentações em duplas de alguns dos maiores nomes da [emepebê] na década de 60. Finalmente, agora, ao mesmo tempo que o setor erudito apresenta uma nova coleção chamada "A Arte de..." (onde foi [incluído], inclusive, um álbum com as obras do brasileiro Marlos Nobre), também o setor nacional/popular da Phonogram, decidiu aproveitar a dica, e foi iniciada a coleção de reedições "A Arte de...". Os cinco primeiros lançamentos homenageiam, naturalmente, 5 dos maiores campeões de vendagem da Phonogram: Elis Regina, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Ben e Baden Powell. Álbuns com 2 elepês cada, trazendo todas as letras das músicas [incluídas] (mas infelizmente deixando de constar alguns dados mais específicos a respeito da época e importância de cada intérprete), esta coleção da Phonogram, lançada pela econômica série Fontana Special, vem oferecer ao público que, por motivos diversos, não acompanhou a fonografia de cada um destes artistas, lançamento a lançamento, a oportunidade de numa só vez, adquirir a síntese de seu trabalho, é bem verdade, a seleção procurou ser criteriosa, equilibrando o aspecto de sucesso comercial com o de critério artístico. Sem detalharmos a importância de cada artista, vamos aqui registrar os cinco primeiros álbuns desta coleção, que deverá ter sequência, pois há outros nomes merecedores que apareceu com sua "Arte". BADEN POWELL - Particularmente, apontariamos o álbum duplo "A Arte de Baden Powell" (Fontana Special 6470533/4, outubro/75), como o mais importante da coleção. Não só pelo que significa o violonista e compositor Baden Powell D'Aquino (fluminense de Varre-E-Sai, 38 anos, mais de 20 de carreira), infelizmente hoje emigrado do Brasil (há um ano está na Alemanha e não tem planos de retornar) dentro da evolução da MPB nos anos 60, mas pela inclusão aqui, na primeira face do disco um, três das mais antológicas gravações de Baden Powell, feitas com solos de Maurício Einhorn, na harmônica, do elepê "Tempo Feliz" (gravado em 24 e 25 de janeiro de 1966, edição da Forma 100 VDL/CBD). Daquele elepê histórico, que há muito estava fora de catálogo, temos aqui, "Apelo" e "Tempo Feliz" (ambas Baden/Vinicius) e "A Chuva" (Durval Ferreira/Pedro Camargo), esta uma música-marco na MPB, e que teve neste registro a sua melhor gravação. Definitivamente, uma obra-prima, que por si só já justifica a compra deste álbum, mas que vale por todas as faixas, significativas das diferentes fases e parcerias de Baden, além de composições de outros autores. Assim, no disco 1, temos de sua parceria com Vinicius, "Canto de Ossanha", "Deve Ser Amor" "Deixa" (também com a participação de Maurício Einhorn), e "Berimbau", mais "Samba Triste" (em parceria com Billy Blanco), "Valsa de Euridice" (Vinicius), e o clássico "Lamento" (Pixinguinha/Vinicius). No disco dois estão "Garota de Ipanema" (Tom/Vinicius), "Samba de Uma Nota Só" (Tom/Newto Mendonça), neste com a participação de Jimmy Pratt (gravação feita nos EUA) "Carinhoso" (Pixinguinha/João de Barro), "A Lenda do Abaeté" (Caymmi), "Manhã de Carnaval" (Luiz Bonfá-Antonio Maria) ["]Serenata do Adeus" (Vinicius) e "Chão de Estrelas" (Silvio Caldas/Orestes Barbosa), das músicas que não são de sua autoria. Seis faixas são de sua autoria: "Choro Para Metrônomo", "O Astronauta" (com Vinicius), "Consolocação" (c/Vinicius), "Marcha Escocesa", "O Cego Aderaldo (... Do Nordeste) e "É de Lei" (com Paulo Cesar Pinheiro). A ARTE DE CAETANO VELOSO - A arte (musical) de Caetano Veloso é cíclica e uma tentativa de síntese, como esta em concentrar em 23 faixas uma década de mutações, é interessante para que o público possa sentir a inquietação criativa do baiano que, junto com alguns amigos, balançou o coreto da [emepebê] a partir de 1964. Cada faixa destes 2 elepês, tem em si uma história e um significado maior ou menor, independente do sucesso que alcançou: "Coração Vagabundo" e "Avarandado" (com Gal, de seu elepê de estréia, "Domingo" 1966), depois a fase revolucionária de 1967/68: "Alegria, Alegria", "Tropicália", "Super Bacana", "Soy Loco Por Ti América" (Gil/Capinam/Torquato Neto) e, encerrando a primeira face do lado A, "Ambiente de Festival", isso é o som do público (vaias), Mutantes e mais Caetano, tentando cantar "É Proibido Proibir". No lado 2, temos "Baby" (também com Os Mutantes), "Irene", "Marinheiro Só", "Atrás do Trio Elétrico", "Charles, Anjo 45" (c/Jorge Ben) e "Não Identificado"). No disco 2, lado A, três composições da fase inglesa: "London, London", "Maria Bethânia" e "It's A Long Way", mais a homenagem a um de seus autores favoritos: "Asa Branca" (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira). Finalmente, a última face, traz "Chuva, Suor e Cerveja", "Você Não Entende Nada" (em interpretação ao lado de Chico, da apresentação que fizeram no Teatro Castro Alves, em Salvador, há quase 2 anos), "Julia/Moreno" e "Épic", de suas composições mais recentes, para encerrar com a sua demolidora interpretação de "Coração Materno" ([Vicente] Celestino), uma das faixas-marcos do antológico "Tropicália" (Philips, 1967), divisor das águas da [emepebê] na década passada. A ARTE DE GILBERTO GIL - As mesmas palavras ditas em relação a Caetano podem ser estendidas a Gilberto Gil, seu companheiro de geração, parceiro por algum tempo e igualmente de uma inquietante criatividade, como ainda registramos no domingo passado, ao comentarmos o seu último lp ("Refazenda"). Dos vários elepês gravados por Gil nestes últimos 10 anos, foram extraídas para este álbum-antalogia, as seguintes faixas: "Louvação" (c/Torquato Neto), "Lunik 9" (em nossa opinião, sua melhor música), "Ensaio Geral", "Roda" (com João Augusto, diretor do Teatro Vila Velha), "Frevo Rasgado" (com Bruno Ferreira), "Domingo no Parque", "Procissão", "Marginália III" (com Torquato Neto), "Bat Macumba" (c/Caetano), "Geléia Geral" (c/Torquato Neto), "Misere Nobis", "Parque Industrial" (Tom Zé com Caetano, Gal e Mutantes) "Nega" (Photograph Blues), "Aquele Abraço", "Vitrines", "Cérebro Eletrônico", "Volkswagem Blue", "Crazy Pop Rock" (c/Jorge Mautner), "Back In Bahia", "Chiclete com Banana" (Gordurinha/Almira Castilho), "Espresso 2222" "Oriente" e "Só Quero Um Xodó" (Dominguinhos/Anastácia). A ARTE DE JORGE BEN - Desta primeira fornada de reedições dos campeões em vendagem da Phonogram, o mais dispensável, em nossa opinião, é justamente Jorge Ben. Mas, que afinal tem seu público seguro que agora, pode adquirir um único álbum com 24 de suas músicas, êxitos comerciais de uma década de atividades: "Mas Que Nada", "Chove Chuva", "Por Causa de Você Menina", "Vamos Embora["] "Uau", "Descalço no Parque", "Bicho do Mato", "Vou de Samba Com Você" (a única faixa de autoria de outro compositor: João Melo), "Agora Ninguém Chora Mais", "Crioula", "Domingas", "Caramba!... Galileu da Galiléia", "Take It Easy My Brother Charlie" "Pais Tropical", "Que Pena", "Charles, Anjo 45", "Oba, Lá Vem Ela", "O Telefone Tocou Novamente", "Rita Jeep", "Paz e Arroz", "O Circo Chegou", "Fio Maravilha", "A Minha Menina", "Que Maravilha" (com Toquinho) e "Zagueira". A ARTE DE ELIS REGINA - Frescura e neurose à parte, a antiga "Pimentinha" é uma senhora cantora nos dias atuais. A garotinha que começou gravando bolerões na Continental, evoluiu bastante também em uma década de atividades e isso é provado, amplamente neste álbum duplo, quase uma síntese de sua presença na Philips, desde os longos pot-pourri com Jair Rodrigues, da época do "Fino da Bossa", até Tom Jobim ("Águas de Março"). Para quem não possui os primeiros discos de Elis, é um álbum absolutamente indispensável.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
36
19/10/1975

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