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Aramis

Arrau, Zoltan, Vladimir com o melhor da obra pianística

A Polygram, detendo catálogos de primeira linha como os Philips, Deutsch Grammophon e London, vem tendo uma aceitação impressionante em sua produção, inclusive com resultados excelentes que o seu eficiente representante territorial, o estimado Wilson Berro, desde 1969 no Paraná, coadjuvado pelo divulgador Emilson Pohl, garantem a estes novos produtos. Só nas últimas semanas, quatro importantes lançamentos duplos da área clássica - sem falar nos jazz - como o antológico "A Portrait of Duke Ellington" com Dizzy Gillespie e orquestra - mostram a liderança da multinacional holandesa. OS GRANDES PIANISTAS - Três CDs duplos para fazer o encerramento de quem aprecia mestres dos teclados. Produções de primeira linha, com públicos certos e selecionados, num engrandecimento cultural especial. BARTOK - AS OBRAS PARA PIANO & ORQUESTRAS - Com um os grandes pianistas da atualidade, acompanhado pela Orquestra do Festival de Budapeste, sob a regência de Ivan Fischer, temos esta produção da Philips e Hungaroton, registrada entre dezembro de 1984 a fevereiro de 1987, num total de 155:40' para apresentar a maior parte da obra pianística do compositor húngaro Béla Bartock (1881-1945). Conforme ensina o musicólogo Andras Wilhelm, Bartock sonhava em se tornar um pianista-concertista. Apesar da execução ter se colocado como terceira prioridade, atrás da composição e da pesquisa e etno-musicológica - que ele considerava mais importante para a sua carreira, constituindo-se os concertos mais em um modo de ganhar a vida - não há dúvida de que ele continuou sendo um dos maiores pianistas de sua época e um intérprete incomparável de suas próprias obra. Assim, Bartock compôs obras para ele próprio executar em seus concertos e essas obras, apesar de poderem ser as mais pessoais e informais do compositor, são também as mais complexas teóricas. Nesta produção com o pianista Zoltan Kocsis com solista - mostrando porque este jovem artista conquistou os dois maiores prêmios de piano em seu país - o concurso Beethoven (1970) e o Liszt, três anos depois - temos seis obras fantásticas: os três concertos para piano, escritos entre agosto e novembro de 1926 (número um), outubro de 1930 e na primavera de 1945 (três). Aos 39 anos, pianista desde os cinco anos, Zoltan Kocsis incluiu nestas gravações inclusive uma peça originalmente escrita (em setembro de 1936) para cordas, percussão e celesta. Já em "Rapsódia", opus 1, temos toda a dimensão de uma obra originalmente escrita para piano solo, no outono de 1904 e que teve várias versões publicadas. No mesmo ano de 1904, Bartock criaria o "Scherzo", opus 2, mas cuja estréia só deveria acontecer em 15 de março de 1905. Entretanto, a experiência do primeiro ensaio, com uma orquestra despreparada e recalcitrante, levou Bartock a suspender a obra. Assim, ela não chegou a ser executada em vida pelo compositor, apesar de existir evidência, originária de várias fontes, de que o compositor não abandonou a idéia de apresentá-la até a década de 1910. O manuscrito fez parte do legado de Bartock e só viria a ser publicado em 1961, editado por Donjis Dille e até hoje a transcrição para dois pianos continua inédita. CLAUDIO ARRAU - 21 NOTURNOS DE CHOPIN - Chileno de Chillan, 88 anos completados no último dia 6 de fevereiro, Claudio já esteve em Curitiba: há mais de 15 anos, quando um dos discípulos mais talentosos, Luís Carlos Thomaszeck, estava gravemente doente, Arrau - em temporada pelo Brasil mas que não incluía nossa Capital, fez questão de aqui chegar, particularmente, para visitar o jovem virtuoso, que tinha admitido como um de seus pouquíssimos alunos e que, se não tivesse sido vítima de uma terrível doença, estaria hoje entre os maiores pianistas do mundo. Comparado aos grandes monstros do teclado - como Rubinstein, que também tocou até o final de sua vida - Arrau não para de fazer concertos e gravações, como esta série de 21 noturnos para piano de Fréderic Chopin (1810-1849), registrados há 13 anos e agora, reunidas em dois CDs absolutamente indispensáveis a quem ama a música pianística. De Arrau não é preciso falar muito: menino prodígio, aos 6 anos já dava recitais e ao longo deste século tem merecido os maiores elogios, aplausos e distinções possíveis de serem dadas a um artista de sua dimensão. Residindo desde 1941 em Nova York, até há poucos ainda cumpria pesadas agendas de compromisso internacionais. Obviamente, numa carreira que se projetou por mais de 70 anos, o envelhecimento é um problema potencial. Mas, há algum tempo, dizia o mestre chileno: - "No momento em que eu encontrava qualquer sugestão de rotina em minha interpretação de uma determinada obra, eu colocava de lado... Depois, quando voltava a uma peça que eu havia deixado, eu a estudava novamente do princípio". Trabalhando dessa maneira, Arrau pode afirmar, com toda justiça que, "cada concerto deveria de ser sempre um acontecimento". Por outro lado, as gravações são documentos. - "As apresentações ao vivo são mais espontâneas e mudam de um dia para o outro. Baseado em todas essas experiências você tenta, no estúdio, destilar a essência... para apresentar algo que possa ser válido por muito tempo". A audição destes 21 noturnos de Chopin chegam mesmo ao ouvidos menos acostumados com a música dos mestres como um acontecimento muito especial - de um artista que, com 78 anos de carreira, retoma sempre cada partitura como um novo desafio. Não é sem razão que ao lado do russo Horowitz é considerado o maior pianista vivo do mundo. VLADIMIR ASHKENAZY não é ainda um monstro sagrado entre os pianistas internacionais, embora seu curriculum seja também dos mais ilustres. Entretanto é impossível ficar insensível a força que este russo deu aos concertos do Sergei Prokofiev (1891-1953), acompanhado pela Sinfônica de Londres, regida por André Previn, no registro que chega agora ao Brasil. Afinal, como tão bem escreveu Hugh Ottaway, se um compositor encarnou o espírito da eterna juventude, esse compositor foi Prokofiev. Mesmo, em seus últimos anos, quando estava doente crônico e freqüentemente impossibilitado de trabalhar, ele reteve esse espírito essencial, olhos brilhantes, alegre, claro e direto em suas respostas. Quando era fisicamente jovem, esbanjando energia, pleno de espírito e de deslumbramento ele parecia a muitos ser naturalmente brilhante em tudo o que fazia. É claro que estas mesmas qualidades lhe trouxeram inimigos - o brilho pode ser sentido amargamente pela mediocridade esforçada... Esta visão simbólica que Ottawa dá de Prokofiev ajuda a entender a dimensão dos cinco concertos interpretados por Vladimir Ashkenazy. Os dois primeiros concertos para piano refletem o Prokofiev estudante no Conservatório de São Petersburgo, quando era visto como um enfant terrible. Mas Prokofiev foi também um dos primeiros compositores a restaurar ao piano sua natureza estritamente percussiva, embora sempre deixasse um espaço para suas qualidades líricas. Há, assim, muito, tanto em seu brilhante pianismo quanto em seu modo de expressar-se, que se liga ao passado Romântico. Esse Romantismo, no entanto, mesmo quando é elaborado na aparência, é adelgado e atenuado: a ardente expressividade parece mais destacada, menos devorada, e tais passagens líricas são com certa freqüência "contraditas" por contrastes súbitos e acentuados. A "nova simplicidade" que Prokofiev descreve como sendo seu objetivo no Quinto Concerto, é, na realidade, uma nova fugalidade: simples ela não é, seja para o executante ou para o ouvinte, mas essa música acentua uma tendência já evidente no primeiro concerto.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
12/05/1991

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