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Aramis

A Arca de Ary traz o que o povo gosta

É sempre estimulante registrar o aparecimento de uma nova gravadora. Dentro de um mercado de altos e baixos, como o fonográfico, não deixa de ser um ato de coragem criar uma etiqueta e disputar uma fatia dessa área. É o que acontece com o empresário (e ex-jornalista) Ary de Carvalho (que, há 21 anos passado, veio a Curitiba, para aqui dirigir, alguns meses, a Sucursal da "Ultima Hora") ao estender seu império das comunicações também a área do disco. Fundador da "Zero Hora", em Porto Alegre, que vendeu ao grupo Siroski, quando se transferiu para o Rio de Janeiro, Ary comprou a "Última Hora" carioca e, há 2 anos, adquiriu também "O Dia", do ex-governador Chagas Freitas. Este ano, antes mesmo da transformação gráfica que fez na UH - deixando a cor azul e o sensacionalismo que a caracterizava, desde o dia 20 de novembro - Ary passou também a ter uma respeitável editora Salamandra, título que pertencia a Geraldo de Mello Jordão) e uma gravadora - a Arca. Preocupado em cercar-se de gente competente, Ary levou para a Salamandra o publisher José Paulo Madureira, enquanto que para a Arca contratou um dos mais experientes record-men do Brasil, Helcio do Carmo. Ex-diretor artístico da RCA, Helcio conhece o mundo do disco a ao começar esta nova etiqueta decidiu beliscar o mercado popular - bem povão. Isto está presente no primeiro suplemento que em Curitiba o atuante Carlos Eduardo (ex-Poligram) vem divulgando com entusiasmo. O carro-chefe da chegada da Arca nas lojas é o folclórico Waldick Soriano - o Frank Sinatra do Nordeste - que aos 51 anos, em seu 72o elepê, fez um disco em homenagem a Roberto Carlos. São 16 sucessos do "rei" pinçados ao longo de sua carreira e com arranjos de Eduardo Lages ao estilo de Waldick - para um público bem definido. Junto a este interprete bregue mas de imensa popularidade, Helcio do Carmo promove também o retorno ao disco de Moacyr Franco, cantor de grande sucesso nos anos 60, eclipsado no final da década de 70 mas que por sua atuação na televisão ainda tem popularidade. Tanto é que foi eleito deputado federal há 2 anos - embora sua presença em Brasília seja bastante discreta. Agora, Moacyr reaparece cantando música sertaneja: "O Milagre da Flecha" (ou "Milagre de São Sebastião"), que em poucas semanas conseguiu o primeiro lugar de execução em emissoras paulistas. A sua letra não poderia ser mais piegas - embora de grande apelo popular: a história de um homem que é assaltado e implora clemência, dizendo-se arrimo de família. Quando começa a ser agredido pelo ladrão uma flecha misteriosa transpassa o coração do bandido. Na Igreja, agradecendo a graça recebida, nota que está faltando uma flecha na imagem de São Sebastião. Ao lado de nomes conhecidos (Maria Creusa, cantora baiana, também foi contratada pela Arca), obviamente que novos artistas estão sendo lançados: é o caso de Caú (Claudia Politano Larangeira (com "g" mesmo), uma baiana que aparece cantando "Girassóis". Já a menina Gabriela, participante ativa de coros infantis, vem com um compacto simples com "E Quem Pensou em Mim" e "Em Algum Lugar da América do Sul". Entre os contratados da Arca, também Leno - que nos anos 60 formava dupla com Lilian - e que reaparece com a música "Rosa de Maio", já incluída na trilha sonora da novela "Livre Para Voar", que sonoriza as agruras da personagem Maria Isabel, interpretada por Carla Camurati. Num negócio (como do disco) que caiu no Brasil em 226% nos últimos cinco anos (e o número médio de artistas contratados pelas gravadoras é hoje de 10% em relação ao que era há 8 anos) a decisão de colocar mais uma etiqueta no mercado não deixa de ser uma prova de coragem. Mas Ary de Carvalho é um empresário de peito e, em múltiplas iniciativas, está pagando para ver ... Vamos torcer para que dê certo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
27
23/12/1984

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