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Aramis

Angela Maria segura o Conde prejudicado

Como Nelson Gonçalves, também Angela Maria há muito já passou da gravação do 100º elepê. Eles são cantores populares, da época em que o artista entrava no estúdio e fazia o disco praticamente numa única sessão. Substituindo a sofisticação que tornou a produção fonográfica cada vez mais cara, Nelson e Angela tem a segurança de gravarem um disco de grande aceitação em poucas horas. Enquanto a RCA está lançando uma caixa com cinco elepês de Nelson Gonçalves - uma espécie de resposta tupiniquim ao álbum-caixa de Bruce Springsteen (CBS, caixa com 5 elepês), Angela Maria (Abelim Maria da Cunha), 59 anos - completados na última quarta-feiras, 13 de maio, 40 de carreira artística considerando que por volta de 1947 já freqüentava programas de calouros em busca de sua oportunidade, é uma cantora que não pode ser subestimada. Naturalmente, que ao longo de sua carreira fonográfica, gravando com tanta intensidade, registrou muitas músicas medíocres - do que hoje se arrepende. Angela continua a ter um público fiel e sua voz, apesar da idade, continua firme. Aliás, muitos defendem que ela é uma das cantoras mais afinadas do Brasil, no que, inclusive, concordamos. Hoje contratada da RGE, espaçando mais suas gravações, Angela tem procurado um repertório melhor - sem, entretanto, fugir ao estilo dor-de-cotovelo, amores frustrados & solidão amorosa que sempre marcaram a carreira da intérprete de "Bailarina". Seu último elepê, produção de José Milton, com arranjos distribuídos entre Daniel Salinas e Eduardo Lages, é uma amostra de uma versatilidade popular que Angela sempre perseguiu. Por exemplo, ao lado de músicas de Evaldo Gouveia/ Jair Amorim ("Arrogância"), Carlos Paraná ("Queria"), "A Grande Verdade" (Marlene/ Luiz Bittencourt) e um pout pourri que inclui "Não Tenho Você" (Paulo Marques/ Ary Monteiro), "Nem Eu" (Caymmi) e "Ninguém Me Ama" (Fernando Lobo/ Antonio Maria), gravou uma experiência brega do roqueiro Cazuza ("Tapas na Cara") e da dupla Dalton/ Cláudio Rabello acrescentou ao "Velho Bolero", como música incidental, "La Mentira" (Álvaro Carrilo). Outro brega, encerrando o lado A: Odair José, autor de "Até Parece um Sonho". Angela talvez seja uma das poucas cantoras a conseguir dar dignidade e equilíbrio a um repertório diversificado e basicamente comercial. Afinal, não é sem razão que seu público se mantém fiel há pelo menos três décadas, quando a Sapoti gravou, justamente "Não Tenho Você", que agora regravou, com um arranjo mais sofisticado. Em 1973, quando o empresário-diretor Altair Lima fez a produção brasileira de "Jesus Cristo-Superstar", escolheu como personagem-título um cantor pouco conhecido: Eduardo Conde. Ele havia gravado um elepê na Polygram e apesar da bonita voz, não tinha feito maior sucesso. Nos últimos 14 anos, a carreira de Conde tem sido de altos e baixos, intercalando trabalhos musicais com os de ator, inclusive na televisão. Agora, gravado ao vivo, temos o elepê "Certas Canções" (3M), do show dirigido por Anselmo Vasconcelos e no qual Conde se apresenta com Luiz Alves (baixo), Pena Café (bateria) e Luiz Aguilar (piano). O disco sofre, intrinsecamente, do mal de uma gravação ao vivo. Conde tem bonita voz, o repertório é excelente, mas a insistência em intercalar as músicas com muito papo acaba cansando o ouvinte após os primeiros minutos. De qualquer forma, há boas canções, como "Dentro de Mim Mora Um Anjo" (Sueli Costa/ Cacaso), "Valsa do Maracanã" (Paulo Emílo/ Aldir Blanc), "Demais" (Tom), "Folha Morta", ao lado de outras dispensáveis - como "Mulher de Trinta" (Luiz Antonio) - que está sempre associada a Miltinho - e até um pout pourri reunindo "Lili Marlene" e "As Times Goes By".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
17/05/1987

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