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Aramis

Alzira, Zeza e a volta de Ivon

ALZIRA ESPÍNDOLA (3M) - Chega com uma boa linhagem. Compositora-violinista, esta sul mato-grossense de Campo Grande, 37 anos, 14 de carreira, irmã de Tetê (hoje um nome nacional), Geraldo e Marcelo - que já formaram o Lírio Selvagem, traz na doce voz e composições aquela brasilidade do Brasil central. Experiente em muitos shows de teatro (infelizmente nunca veio a Curitiba), Alzira estréia em um elepê solo com o pé direito: outro mato-grossense que sabe das coisas musicais, Almir Sater, cuidou da produção, reuniu excepcionais instrumentistas como André Gereissati, Papete, Capenga, Luiz Brasil, Zé Gomes e Carlão de Souza. Resultado: um disco que lava a alma em termos de canto brasileiro, incluindo uma parceria de Alzira com o londrinense Arrigo Barnabé ("Vejo a Vida"), composições de Capenga, Almir Sater e Renato Teixeira ("Ave Marinha"), Guilherme Rondon / Paulo Simões ("Geração"), mais "Fluir", "Luzmarina", "Rio Fatal", onde mostra seu lado de compositora. Uma ótima estréia. ZEZÉ AMARAL ("Clareia", 3M) - Que agradável surpresa! Um compositor-intérprete da maior força, trazendo em dez faixas aquelas músicas com influências que os remetem a sua infância em Atibaia, SP, com reizados e congadas. Pandeirista aos 13 anos, Zezé Amaral fez aquilo que outro bom paulista, Oswald de Andrade, ensinava: a antropofagia cultural. Ouviu muito rock, integrou conjuntos de bailes, mas se voltou a linha nacional (em 1970, com Luiz Ceará / Laércio de Freitas) e o resultado é este som rural, suave, romântico e extremamente comunicativo que estão em faixas belíssimas como "Lampião do Céu", "Sino de Couro", "O Rio", "Domador do Ar", "Olho de Boi" e outras belas músicas deste álbum, um dos melhores lançamentos da 3M - até que enfim melhorando seu elenco. IVON CURI / ONTEM E HOJE (3M) - Quando se fala no humor na MPB, não se poderá jamais esquecer o nome de Ivon Curi. Legítimo "chanssonier", com seu estilo personalíssimo, foi ídolo dos anos dourados da Era do Rádio e até hoje mostra-se afinado, seguro e ótimo cantor - embora há 14 anos estivesse sem gravar. Volta num elepê dos mais interessantes, nos quais acoplou seus vários estilos - o humor de "Bicho Home" (Ceceu), "Esse Samba é do Carvalho" (Paulinho Soares), um novo forró, para tocar nas rádios, mas ao lado de clássicos como "O Xote das Meninas" (Gonzaga / Dantas), e, especialmente, "Farinhada" (Zé Dantas), seu maior êxito na década de 50. Mas há também o Ivon chanssonier, melodramático, de "João Bobo", e, especialmente, "Retrato de Maria", composições próprias - nas quais mostra o seu lado de intérprete dramático. Este "Ontem e Hoje", com aproveitamento inclusive de arranjos originais de suas antigas canções, feitas na EMI/Odeon, tem mais do que o sabor de nostalgia: é a prova de como um artista pode se manter em sua dignidade criativa, com um estilo personalíssimo - mas que, infelizmente, auto-interrompe sua carreira - que, a julgar por esta mostra de talento gravado, não mereceria ter sofrido tão longo hiato. ACCIOLY NETO ("Forró Sexual", Continental) - Também vem na linha forró, temperada com o erotismo bem explícito, que se não atingiu a faixa título faz com que "Reggae-Meregue" e "Engano Seu" tivesse sua divulgação pública devidamente interditada. Discos como de Accioly Neto (por favor, não confundam com o ilustre professor e jurista, seu homônimo curitibano), valem como registros daquele humor sensual brasileiro, que tem uma imensa musicografia para ser pesquisada.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
21
30/08/1987

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