A alma da cidade na menina Maria
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de fevereiro de 1985
Quem foi John Elliot? Porque José Alcides de Lima tem o nome perpetuado numa rua? Dezenas de perguntas como essas seriam praticamente impossíveis de terem respostas se não fosse o idealismo, empenho e entusiasmo de uma das mais admiráveis curitibanas, em resgatar os dados biográficos de todos os patronos de ruas e logradouros de Curitiba.
Aos 85 anos, dona Maria Nicolas continua a ser aquela personalidade admirável, que merece respeito e admiração de todos que sabem reconhecer os valores humanos. Com entusiasmo juvenil, dona Maria não para de trabalhar e, na galeria de arte Arco-Íris, já vem se autografar, agora, seu novo livro - o quarto volume da série "Almas das Ruas". Na mesma ocasião, também autografava dois outros livros - "Noções de Moral, Civismo e Civilidades" e "Viveiro Infantil", este editado no ano passado.
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Foi em 1969 que o então diretor da Imprensa Oficial do Estado, jornalista João Dedeus Freitas Neto, possibilitou que dona Maria Nicolas publicasse o primeiro volume de "Almas das Ruas", básico referencial de quem foi quem dos homens e mulheres com nomes perpetuados nas ruas da cidade. Passaram-se mais de vinte anos para que dona Maria chegasse ao quarto volume dessa série, um modesto livro de 102 páginas, cuja edição foi apenas financiada em parte pela Fundação Cultural. Apesar da tiragem mínima (apenas 500 exemplares), na hora final faltaram Cr$ 350 mi, generosamente cobertos pelo neto da autora, o economista Antônio Carlos Zotto, funcionário do BRDE, que assim possibilitou que o livro saísse. Nas gavetas de algum burocrata da Fundação Cultural, estão os originais do quinto volume de "Almas das Ruas", enquanto dona Maria revisa um sexto, este apenas com nomes ligados à religião - sacerdotes, religiosos, santos etc., que também dão nomes às ruas da cidade.
Num trabalho de formiguinha, saindo no garimpo de dados de pessoas já falecidas e que foram transformadas em nomes de ruas, dona Maria tem sido a grande historiadora desta cidade. São milhares de minibiografias que busca em seus detalhes e transforma nos verbetes redigidos com segurança, mestra que foi, de tantas gerações, de Português e História. É uma pena que, pelo espaço que separa a publicação de cada volume, a série "Almas das Ruas" não chegue nem a formar uma coleção completa. Agora que o governo do Estado dispõe de recursos sobrando para financiar caríssimas revistas em cores, como discutível publicação lançada pela Secretaria da Cultura, é de se perguntar se não seria mais importante reunir, em volumes ordenados, essas pesquisas que dona Maria vem fazendo, praticamente sem maior ajuda oficial.
Só com as comemorações do centenário da Assembléia Legislativa foi possível conseguir, que, finalmente, outra obra básica de dona Maria - "Cem Anos de Vida Parlamentar" - fosse reeditada, preenchendo-se, assim, grande vazio na biblioteca de referência sobre o Paraná.
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Nesses pequenos (grandes) livros de dona Maria Nicolas, com as biografias daqueles que mereceram virar placas nas ruas, avenidas, alamedas, praças, jardinetes, becos etc., de nossa cidade, estão informações interessantes, refletindo muito da vida de cada um. Da simplicidade de um José Alcides de Lima (1917-1964), que foi servente de pedreiro e policial (morreu num acidente, quando atendia um chamado de urgência) ou a colaboração que o norte-americano John Elliot (1809-?) deu à documentação do Paraná, no início do século XIX, são milhares de nomes que dão colorido memorialístico e especial a "Almas das Ruas", dessa menina inquieta sempre a registrar a história de sua cidade - Maria Nicolas.
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