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Aramis

Alemanha, anos 80 através do cinema

EM nove filmes produzidos nos últimos 5 anos, uma visão da República Federal da Alemanha, em diferentes aspectos. Independentemente dos méritos de cada um dos filmes programados da mostra "Cine Alemão - Anos 80" (Cine Groff, até sexta-feira, sessões às 20 e 22 horas), o importante é a possibilidade que o espectador interessado tem em conhecer realizadores de uma nova safra e que procuram transmitir, em imagens vigorosas, os aspectos mais diversos da realidade alemã. Graças ao Instituto Goethe, o cinema alemão, mesmo não tendo uma grande distribuição nos circuitos comerciais, tem sido bastante divulgado no Brasil. Uma cinematografia vigorosa, que nos últimos 15 anos ressurgiu com força em festivais internacionais, revelando nomes como Werner Fassbinder, Werner Herzog, Margaret von Trotta, Volker Schlondorff, Wim Winders, entre outros, tem chegado a um público qualitativamente importante através da iniciativa do Goethe, a mais atuante instituição cultural internacional. No Paraná, o Goethe teve sua implantação no início dos anos 70, graças ao casal Helmut-Heided Lied (hoje residindo em Toronto, Canadá) e que prossegue com orientação do professor Heinrich Heimer. xx A mostra "Cine Alemão - Anos 80", iniciada há uma semana no Groff, traz trabalhos dos mais interessantes, de uma geração de cineastas ainda inédita, em termos de consumo popular, mas que refletem, em suas obras, diferentes aspectos da realidade alemã. " O Inimigo da Classe" ("Class Enemy ") - e que abriu a mostra - é uma espécie de "Sementes da Violência " (Blackboard Jungle, 54, de Richard Brooks) dos anos 80. Num único cenário - uma destruída sala de aula - um grupo de violentos alunos-problemas aguardam a chegada do professor, a quem pretendem hostilizar de todas as formas. O professor não chega, a inquietação dos alunos aumenta e há um crescendo de violência - refletindo-se em duros diálogos muitos problemas da Alemanha contemporânea. Já "Prova de Força" (Kratprobel), que a cineasta Heidi Genée realizou entre 1981/82, com base no romance de Dagmar Kekulé ("Eu Sou Uma Nuvem") é um sincero enfoque sobre uma adolescente, cuja mãe encontra-se num sanatório para alcoólatras - e que vivendo sozinha tem que enfrentar os problemas do dia-a-dia. Interpretado por uma linguagem inteligente, sensível - sendo lamentável que fique restrita apenas a um circuito especial, quando poderia ter lançamento comercial. Alexandre Kruge, 52 anos, há 20 anos atuando na cinematografia alemã, já com vários longas-metragens, em "O Poder dos Sentimentos" mostra que é um cineasta inovador, procurando uma narrativa atomizada em vários segmentos paralelos, chegando a lembrar mesmo os mais políticos momentos da obra de Godard. Kluge divide com Volker Schlondorff e Stefan Aust a direção de "Guerra e Paz", filme em 4 episódios sobre a corrida armamentista na Europa, que será exibido sexta-feira, 24, encerrando esta mostra, na qual tivemos ontem um filme que Peter Lilienthal rodou em Nova Iorque ("Dear Mr. Wonderful") e que hoje inclui "Fogo e Espada - A Lenda de Tristão e Isolda", de Veith von Furstenberg. xxx Tankred Dorst, 57 anos, cineasta, dramaturgo e romancista alemão, estará na cidade no final do mês, falando sobre sua obra. Uma oportunidade para quem assistiu ao seu filme "João de Ferro" (Eisenhans, 1982), exibido na última sexta-feira, poder discutir as propostas que teve ao realizar uma obra amargurada, pesada e triste como a história de Schroth, musculoso motorista de caminhão de uma cervejaria, seus conflitos familiares e, especialmente, a relação com Marga, sua filha, retardada mental. Dorst iniciou no último domingo, 19, um roteiro por dez Estados brasileiros, participando de eventos relacionados à sua obra e o lançamento da edição brasileira do texto de sua peça "Merlin", traduzido pela gaúcha Lya Luft. Como acentuou a revista "Isto É", que está nas bancas, Dorst hoje voltou-se ao cinema, como roteirista e diretor, sendo para muitos," a voz mais respeitada da intellingentsia alemã". Intelectual de múltiplas facetas, ele é, antes de mais nada, um humanista no velho e amplo sentido da palavra, cuja preocupação básica é o homem, com suas contradições, seus medos, suas paixões e seus sonhos. Essa preocupação é particularmente evidente em "Merlin" - um épico com oito horas de duração - considerada a sua obra prima, em que através das milenares personagens da Távola Redonda, chega a pungentes imagens do mundo atual. No Rio, houve uma leitura dramática resumida de Nelson Xavier e do grupo Tapa da peça "Merlin", que apesar de suas cores medievais "é uma história do nosso tempo, a história do fracasso das utopias". Em Curitiba, o Goethe financiou uma (discutível) montagem de outra peça de Dorst. "A Gritaria nas Portas da Cidade", que terá sua estréia nacional no dia 5 de setembro, quando retorna de Porto Alegre. "Merlin" estreou há 3 anos passados, enquanto "A Gritaria nas Portas da Cidade" ( que teve até a contribuição de Paulo Leminski para adaptação do texto) é bem mais antiga: 1961.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
8
22/08/1984

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