Alecir levou fandango ao I Canto das Águas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de outubro de 1989
"Louvação à Chimarrita", um fandango de Alecir de Antonina - de todos os compositores-intépretes paranaenses, o que mais se preocupa com a preservação e divulgação do folclore paranaense - foi a canção representativa de nosso Estado no I Canto das Águas do Mel, realizado no último fim-de-semana na cidade de Iraí (479 km de Porto Alegre).
Idealizado por Hermes Garcia dos Santos, há três anos - quando da realização do I Acorde Brasileiro, ocorrido na praia de Tramandaí, também no Rio Grande do Sul, o evento não teve caráter competitivo mas, basicamente, uma amostragem dos ritmos das diferentes regiões brasileiras. Para tanto, Hermes Santos percorreu todo o Brasil, num esforço tão grande que, há três semanas, sofreu um enfarte - o que o impossibilitou de ver de perto sua realização.
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A exemplo do Acorde Brasileiro, que teve organização do pesquisador, cantor e compositor Edson Otto, ex-diretor do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, o I Canto das Águas do Mel proporcionou também um encontro de vários integrantes da Associação dos Pesquisadores de Música Popular Brasileira. Reunidos durante três dias, pesquisadores como Paulo Tapajós e Roberto Moura do Rio de Janeiro; Leonardo Dantas Silva, de Recife; Maria Augusta Calado, de Goiás, João Carlos Botezelli, Inezita Barroso e José Wanderlei Corsini, de São Paulo, e os gaúchos Glênio Fagundes, Paixão Côrtes, Gilberto Carvalho e Edson Otto - entre outros, expuseram e discutiram teses como o Arquipélago Cultural Brasileiro: o Colonialismo Cultural; Recuperação e fortalecimento dos valores culturais como preservação da memória cultural brasileira e a importância dos meios de comunicação como força motivadora e difusora da autenticidade cultural.
Também participante ativo, levando, inclusive, uma comunicação sobre o desenvolvimento da cultura nativista no Paraná, o radialista e pesquisador César Setti, editor da página Galpão da Estância (edições dominicais de O Estado do Paraná), teve destacada atuação. Além de sua presença nas exposições e debates, César transmitiu pela Rádio Clube Paranaense o show de encerramento - com a participação de Paixão Côrtes, grupo Os Farrapos e o cantor Adauto Santos, de São Paulo.
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Aliás, dentro da preocupação de mostrar um painel musical brasileiro, foram selecionados 12 composições regionalistas que fazem parte de um elepê, produzido por Gilberto Carvalho, da etiqueta Quero-Quero, já prensado mas que ainda não circulou devido a capa não ter ficado pronta a tempo.
Alecir de Antonina participa desta gravação com sua "Louvação à Chimarrita". As demais faixas, mostrando diferentes ritmos brasileiros, são as seguintes: "O Ver-o-peso", carimbó de Nazaré e João Ribeiro, interpretado pelo grupo Vaianga, de Belém do Pará; "Nas Caatingas do Sertão", xaxado de Amazam e Marco Antônio, interpretado pelo grupo Tropeiros da Borburema, de Campina Grande, Paraíba; "Coisa Pernambucana", frevo de Nascimento do Passado, interpretado pela Orquestra de Frevo da cidade de Recife e grupo de passistas da Escola de Frevo Nascimento Passo, de Olinda, Pernambuco; "Morrendo de Saudade", forró de Genésio Tocantins e José Medeiros, de Maceió, Alagoas; "O Luar, o amor e uma viola", seresta de André Castro e Jaime Hasse, interpretado pelo grupo de seresta musical Terra Verde, de Belo Horizonte, MG; "Fazenda Bebedouro", catira de Marreco e Tião Aleixo, interpretada pelo grupo Catireiros e Americano do Brasil, de Goiás; "Coração Cuiabano", rasqueado de Zuleika Arruda e Vera Baggeti, interpretado pelo grupo Sarã, de Cuiabá, MT; "Arrebento de um Príncipe", indígena/sacro de Moacir, Chico Lacerda e Jairo Lacerda, interpretado pelo grupo Acaba, de Campo Grande, Museu da Imagem e do Som; "Sinherê", samba/partido/alto de Nei Lopes, interpretado pelo autor e grupo do Rio de Janeiro e "Chasque para Dom Munhoz", milonga de Airton Pimentel e Gasper Machado, interpretado por José Cláudio Machado, de Porto Alegre.
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Reunida informalmente, a diretoria da Associação de Pesquisadores da MPB, aprovou uma revisão dos estatutos, adequação a lei Sarney e criou um prêmio especial a ser concedido em eventos de finalidades culturais como a realização em Iraí. Assim, entre os grupos que ali se apresentaram, o distinguido foi o Acaba, de Campo Grande, já com elepê gravado - e que traduz em suas músicas as raízes daquele Estado, conforme destacou o pesquisador José Octávio Guizzo. Autor de um livro sobre a música popular em Mato Grosso, Guizzo, 51 anos, advogado da turma de 1962 da Universidade Federal do Paraná - o que o faz ter profundos vínculos com Curitiba (onde esteve, de passagem, nesta semana), apresentou robusto estudo sobre a música de Mato Grosso, que tem uma nova geração de compositores-intérpretes como Almir Sater, Geraldo Espíndola, Paulinho Simões, Carlos Coman, Celito e Tetê Espíndola, Guilherme Rondon e grupo Acabba que "vem marcando a história de nossa recente MPB e o som que produzem começa a adquirir contornos próprios, fisionomia própria, enfim uma linguagem regional emergente".
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