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Aramis

Álamo, uma etiqueta para nossos músicos

Álamo - Eis um nome da etiqueta musical que poderá identificar, a curto prazo, algo que sempre se esperou entre nós: uma atuante marca fonográfica, prestigiando basicamente os compositores, intérpretes e instrumentistas paranaenses. A iniciativa é de um catarinense, Romário José Borelli, 41 anos, desde 1986 radicado em Curitiba, dramaturgo, pesquisador, compositor, que após quase um ano de pesados investimentos implantou às margens do lago do Barigui (Rua Lúcia Razeira, 1035) um moderno estúdio de gravação). Os dois primeiros elepês já estão em fase de produção - um com o talentoso Alecir de Antonina, que desenvolve trabalho de maiores raízes no Paraná (na linha de pesquisa de fandango) e outro com músicas de João Romano (Cabelo), compositor urbano, que há 5 anos dividiu um elepê com João Gilberto Tatára. A intenção de Borelli é produzir 12 discos neste ano, numa linha diversificada - do rurbano ao instrumental erudito, "pois o importante é ter um catálogo capaz de atingir vários segmentos". Autor de "O Contestado", peça sobre conflitos ocorridos na região de União da Vitória no início do século, Borelli teve as músicas de seu espetáculo registradas num elepê produzido por César Ribeiro da Fonseca e Marcelo Marchioro, diretor do Museu da Imagem e do Som, em 1981, simultaneamente à montagem da peça pelo Teatro de Comédia do Paraná, direção de Emílio di Biase. O disco ficou como registro de um dos últimos espetáculos tentados pelo TCP então na administração de Aldo Almeida (hoje secretário municipal das Finanças) e Luiz Esmanhoto (hoje superexecutivo em São Paulo) quando diretores da Fundação Teatro Guaíra, na administração Ney Braga. Na época Borelli morava em São Paulo mas acabou vindo para Curitiba. Enquanto sua esposa, socióloga, assessora de projetos técnicos, [?] ele se voltou à área de gravação montando um estúdio moderno e que embora já esteja disputando o lucrativo mercado de spots, jingles, trilhas sonoras etc., vai também investir em gravações musicais. Isto porque há muito que Percy Tamplim, dono do Sir Laboratório de Som & Imagem - hoje um dos maiores do país - praticamente nem aceita fazer gravações de elepês preferindo concentrar seu (caríssimo) equipamento e (competente) equipe, na produção de vídeos, filmes e outras peças encomendadas pelas maiores agências do Brasil. Reinaldo Camargo, da Audisom - também entrando na área do vídeo - não levou adiante o projeto que tinha de bancar gravações de discos. Tanto é que em seus arquivos estão sete faixas inéditas, de composições do Claudionor, 79 anos a serem completados no próximo dia 1º de abril, gravemente doente e que apesar de uma imensa contribuição à MPB (autor de clássicos como "Eu Brinco", "Sei que é Covardia", "A Felicidade Perdeu o Endereço", com diferentes parceiros) nunca mereceu um elepê solo. Aliás, a conclusão e edição deste disco é um projeto que Cláudio Ribeiro, seu amigo e parceiro, sonha em realizar - mas para tanto falta um patrocínio generoso. Bem que a Secretaria da Cultura poderia viabilizar esta produção, já que ao menos 50% das gravações estão prontas. Na história musical do Paraná, a crônica das gravações é uma página de lamentação. Basta dizer que mesmo somando-se todos os registros aqui feitos - de 78 rpm aos elepês - por intérpretes dos mais diversos gêneros, não se passaria de 150 títulos. No Rio Grande do Sul, a discografia passa hoje de 6 mil títulos, mil dos quais somente nos últimos dois meses. Um projeto que há muito já encaminhamos à Secretaria da Cultura, para ser executado pelo MIS-PR, seria inventarialmente de quem, quando e o que gravou no Paraná - acompanhado de uma pequena história de tentativas de organizar a produção local. Idealista, com o entusiasmo de quem vem de uma realidade diferente - São Paulo, no qual a Álamo tem uma das maiores estruturas técnicas (dedicando-se especialmente a gravações de trilhas sonoras de filmes e vídeos), Romário Borelli está repleto de bons projetos. Quer prestigiar os artistas paranaenses e, ao contrário da maioria, não pensa em mamar em tetas oficiais - embora, por uma questão de justiça, mereça apoio. Vamos torcer para que não seja mais um desiludido com nossa vida artístico-cultural. LEGENDA FOTO: Alecir de Antonina: afinal fazendo seu primeiro LP.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
21/01/1989

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