Acabou a Copa e começa boa temporada nas telas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de junho de 1986
Como a Copa do Mundo acaba hoje, a programação cinematográfica já melhorou. Além da estréia de "Cotton Club" (Astor), temos mais dois outros importantes lançamentos para a faixa adulta e atrações para a platéia infantil.
Cinebiografia da cantora country Patsy Cline, falecida em 1956, num acidente de aviação, "Um Sonho, Uma Lenda" (Sweet Dreams), dirigido pelo inglês Karel Reiz ("Tudo Começou num Sábado", "A Mulher do Tenente Francês", etc.), tem um clima semelhante a "O Destino Mudou Sua Vida", que, há 4 anos, deu o Oscar de melhor atriz a Sissy Spacek. Este ano, Jessica Lange, como a cantora Patsy, concorreu ao Oscar de melhor atriz mas perdeu para Genevieve Page. E graças a esta indicação a UIP decidiu lançar "Sweet Dreams" no Brasil, pois caso contrário o filme ficaria inédito. No elenco, Ed Harris, o bom ator que desde "Cavaleiros de Aço" vem fazendo sólida carreira (há pouco foi visto em "A Baila do Ódio", de Louis Malle).
SEXO & FANATISMO - Se o inglês Karel Reiz, da geração Angry Young Men, dirigiu a cinebiografia da americana Patsy Cline, outro inglês, especialista em cinebiografias (Tschaikowisky em "Delírio de Amor", "Mahler", "Litzmania", etc.), Ken Russel, é o diretor de "Crimes da Paixão" (cine Ritz, 5 sessões), drama de sexo e fanatismo.
Com a sensual Kathleen Turner ("Corpos Ardentes", "Tudo Por Uma Esmeralda", etc.) num papel duplo e fascinante - durante o dia, estilista de moda Joanna Crane, a noite a prostituta China Blue - "Crimes of Passion" envolve muitas cenas eróticas com conotações psicológicas, nas quais o ponto central é um fanático religioso, Shayne - interpretação de Anthony Pekins, ator feito sob medida para este tipo de personagem. O terceiro nome do elenco é o ótimo John Laughlin ("A Força do Destino", "Footloose", etc.), cujo prestígio tem crescido nos últimos cinco anos. Um filme denso, de visão obrigatória.
PARA A GAROTADA - Como as férias chegaram, há necessidade de filmes de censura livre. E dois lançamentos - em 3 salas - trazem programação para a garotada.
Concluído a toque de caixa, esperando aproveitar a motivação da Copa - e se o Brasil não tivesse sido desclassificado, por certo o marketing promocional seria maior - "Os Trapalhões e o Rei do Futebol" (cines São João e Lido I) reúne a turma de Renato Aragão ao hoje próspero empresário Edson Arantes do Nascimento, que no passado já foi o jogador Pelé. Co-produção de Aragão com Pelé e o grupo Saad (tanto é que Luiza Brunnet, na época manequim daquela griffe, é a "mocinha" da fita), esta comédia marca também o retorno a direção do veterano Carlos Manga, 58 anos, diretor de dezenas de chanchadas na Atlântica, mas que em 1974 realizou um bom thriller policial ("O Marginal").
Dedicando-se a televisão e ao cinema publicitário nos últimos 10 anos, Manga ressurge agora, tentando fazer em ritmo de comédia com os mais populares artistas do horário vespertino da Globo, aos domingos, uma crítica aos Cartolas do futebol. E como o futebol raramente é enfocado no cinema, eis aí um gancho para que se volte a este filme, nas próximas semanas, com maiores detalhes.
Também impulsionado pela televisão, "O Segredo da Espada" (cine Palace Itália) é o primeiro longa mentragem do mais novo super-herói dos desenhos, He-Man, ao lado de sua irmã gêmea, She-Ra. Juntos, aparecem ao lado de outros personagens já familiares pela televisão. O roteiro para esta primeira aventura na tela foi criado por Larry Ditillo e Bob Forward e a direção foi dividida entre Ed Friedman, Lou Kachivas, Marsh Lamore, Bill Reed e Gwen Wetzler.
Há 3 anos, He-Man encabeça a lista dos heróis preferidos das crianças e hoje seus desenhos chegam a 36 países. Agora, começa a sua jornada também na tela ampla.
REPRISES & CONTINUAÇÕES - Como está enfrentando dificuldades para conseguir lançamentos, Francisco Alves dos Santos apela para boas reprises. Assim, no Luz, foi relançado "1984" de Orwell, com Suzanna Hamilton, John Hurt e Richar Burton (seu último trabalho no cinema). Uma transposição honesta e séria do romance de George Orwell e que representou a Inglaterra no I FestRio.
No Groff, mais um filme de Carlos Saura - cineasta de grande público na cidade. Desta vez "Mamãe Faz 100 Anos", no qual Geraldine Chaplin retorna a mansão na qual passou maus momentos em "Cria Cuervos". Um filme denso, com toques psicológicos, que merece ser (re)visto. Hoje ainda, às 10h30min um cult movie no mesmo Groff: "The Rocky Horror Picture Show", de Jim Sharman. No Luz, também em matinada a comédia "O Clã dos Seis", de Daniel Petrie, com Kenny Rogers - cantor country - e a então ainda desconhecida Diane Lane (a atriz de "Cotton Club").
"Eu Sei Que Vou Te Amar", de Arnaldo Jabor, passou agora para o Cinema I, onde deve continuar por mais algumas semanas. E também continua em cartaz o maior sucesso de bilheteria da temporada: "A Hora do Espanto" (Fright Night), de Tom Holland, no Vitória.
ARTE & NOSTALGIA - Como a programação do cine Itália é dividida entre a Fama e a Paris Filmes, de quatro em quatro meses muda a orientação da casa. Agora, reassumindo a sala, João Aracheski bolou uma excelente programação para este mês: filmes-nostalgia e de arte. Começa com o clássico dos clássicos - "Casablanca", 1942, de Michael Curtiz (1988-1962), com Ingrid Bergman, Humpfrey Bogart, Paul Henreid e Petr Lorre. Apesar das constantes reprises na televisão e estar a disposição em vídeo, nada suplanta o prazer de rever em tela ampla, com boa projeção (a cópia é nova), este antológico filme que reuniu, há 44 anos passados, todos os elementos para fazê-lo o mais famoso cult movie da história do cinema. O roteiro preciso de Julius Epstein/Howard Koch, a antológica trilha sonora de Max Steiner - com o pianista Dooley Wilson imortalizando "As Time Goes By" e "It Had to Be You" - a fotografia de Arthur Edeson - captando todo um clima de uma época. Enfim, um filme que emociona sempre. Em seqüência, a "Casablanca", João programou duas outras importantes reprises: "Roma", 1972, de Frederico Fellini - documentário-invenção pouco entendido na época em que foi lançado o maravilhoso "Quanto Mais Quente Melhor" (Some Like It Hot), 1959, de Billy Wilder, com Marilyn Monroe, Tony Curtis e Jack Lemmon). No final de julho, a estréia de "Perenome: Carmen", delirante visão que Jean Luc Godard fez sobre a cigana espanhola que tem sido revisitada por vários cineastas nos últimos 4 anos.
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