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Aramis

Abertura (Opus 4)

Apesar da imparcialidade com que a Rede Globo de Televisão organizou "Abertura" (Festival da Nova Música Brasileira), a quarta eliminatória (TV Iguaçú, terça-feira, 21 às 22,45 horas) foi, sem favor nenhum, o espetáculo mais vigoroso das quatro sessões em que se dividiram as apresentações das quarenta concorrentes. Mesmo as propostas mais vanguardistas em termos de criação musical - como "Bem Te Viu" de Jorge Mautner e Nelson Jacobina (classificada para a finalíssima) "Bananeiras", dos pernambucanos Luiz Diniz, Walter da Silva e Adelmo Tenório (um longo poema declamado por Mario Lago, ao som de uma perfeita orquestração de Radamés Gnatalli, e solo de viola do paranaense Walter Branco) - mostraram alto nível. Sem dúvida, o ponto alto da noite foi Hermetto Paschoal, anunciando a primeira eliminatória, mas que, acabou ficando para a última sessão. Com "Porco na Festa", Hermetto Paschoal confirma aquilo que não nos cansamos de escrever a seu respeito: é um dos mais criativos músicos já nascidos no Brasil e capaz de fazer um tema tão internacional quanto "Igrejinha" (roubado pelo pistonista de jazz Miles Davis, que o gravou com o nome de "Little Church", como de sua autoria), como uma música tão brasileira quanto esta composição, que no arranjo de Leonardo Bruno - um início vanguardista e bem ao estilo de Paschoal acabou merecendo os 119 pontos a maior nota da noite. Outra confirmação de talento foi de Ednardo (Costa Souza), cearense, há 3 anos em São Paulo, que após um trabalho coletivo (lp "O Pessoal do Ceará", Continental, 1973), no ano passado fez o seu primeiro lp individual ("O Romance do Povão Mysterioso", RCA Victor), citado por respeitados críticos como sendo um dos melhores discos do ano. Ednardo apresentou "Vailá", em parceria com Antonio José Soares Brandão, que no perfeito arranjo de Harelton Salvanini - maestro revelação de 73 e hoje um importante nome da nossa música contemporânea traduziu realmente toda a beleza das novas imagens procurada pelo inteligente cearense. Uma letra aparentemente estranha e hermética, mas que na voz bonita de Ednardo adquire grande sentimento: "Belo este corpo belo/ Nu com entretelas/ e de metal levas/ Conscansado/ Febre esta febre solta/ Vobe turno savadale/ Cascansada levas/ Cabelos turvos/ Lirica esta orgia lenta/ Lenta humus e cristal/ Zir "ZSH/ sisudo tort/ Bão não/ Sisudo morno/ Torto impecável/ Mão e gesto/ Lá vai/ Lá vai lá/ Vai lá/ Baila/ Baila". Parceiro de Carlinhos Lyra em algumas boas músicas, o mineiro Jesus Rocha, mostrou na voz perfeita de Cesar Costa Filho (que fez em 74 o segundo melhor disco do ano: "... E Os Sambas Viverão") uma bonita composição em parceria com seu irmão, Fernando Rocha: "Massa Falida". Apesar de bonita e facilmente assimilavel em seu refrão "Voce pensa que é a dona da Vida/ No entanto é massa falida, " Dos velhos tempos de paz"), não alcançou com seus 71 pontos a media para ir a finalíssima, na próxima semana. Igualmente, o bonito samba do já conhecido e respeitado Paulo Vanzolini, "Balbina", definido pelo limitado Germano Batista, como um dois pontos a mais, também não chegará ao grande final. O ingênuo Baianinho (Eladio Gomes dos Santos), com "Zueira", em que teve acompanhamento do Baiafro, foi uma grande decepção: uma letra cheia de lugares comuns, que não poderia ter mesmo mais do que os 50 pontos obtidos. Outra decepção: "Pirulito da Paz", de Daniel Talquino e Pedro Frutuosa, defendido pelo androgeno Edy Star. Em compensação, Alceu Paiva Valença advogado e sociologo recifense, que Sergio Ricardo lançou como ator no papel-título de "A Noite do Espantalho" (o melhor filme nacional de 74) tem razão de não ser nem um pouco modesto, como demonstrou nas declarações que fez antes de mostrar sua música: além de estar a caminho das paradas com o lp "molhado de Suor" (Sigla/ Som Livre, 74), "Vou Danado Pra Catende", onde aproveitou inclusive um trecho do poema "O Trem de Ferro" de Ascendo Ferreira, foi um das mais solidas músicas apresentadas em todo este Festival. Não há duvida, de que o gabaritado juri presidido pelo admiravel Aloysio de Oliveira terá dificuldades de escolher os vencedores na próxima terça-feira. Afinal, os 12 classificados são ótimos. Ou quase ótimos. LEGENDA FOTO 1 - Paschoal.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
4
30/01/1975

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