Abertura (Opus 2)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 16 de janeiro de 1975
Confirmando as expectativas, a segunda eliminatória de "Abertura"(Canal 4, terça-feira, das 21 às 23,45 horas) apresentou um nível de candidatos bem melhor do que na estréia. Não só o fato de pelo menos três músicas defendidas serem de compositores que já gravaram discos em 1974, mas também o sentido de brasilidade presente na maioria das dez concorrentes fizeram com que as esperanças em torno desta oportuna mostra da MPB nesta metade da década crescem muito em torno de uma nova fase para o nosso cancioneiro - tão necessitado de iniciativas sérias e honestas para maior difusão e promoção. Após o show de abertura, com a música densa e pastosa de Ivan Lins - que busca também uma nova abertura para o seu hermético Soul/Samba, o primeiro candidato da noite já mostrava bom nível, valorizando os oitenta pontos que o lúcido júri, presidido pelo admirável Aloysio de Oliveira, lhe concedeu: "Mudanças" do baterista gaúcho Gil Gerson Lopes Dornelles. Carlos de Campos Vergueiro, paulista, já com dois compactos e um lp gravados na Continental - e que na página dos melhores da MPB em 74 ( O ESTADO, 29/12/74), entrou em alguma das relações como "revelação de compositor", foi realmente a grande presença desta segunda eliminatória. "Como Um Ladrão", com melodia de imensa beleza e uma letra muito bem construída ("Como um ladrão roubei/Rostos, restos, riso/ Como um ladrão com/ Riscos, mares medos/ E fui deixando/Rastros, marcas, mortes/E carregando/Pedras, presas, peso/E me entregando/Sempre, sempre/sempre/Pelo prazer de ter /As sensações totais/E desprezar /O tempo, o tédio, o certo") obteve a maior nota (101 pontos) e delirantes aplausos do público presente ao Teatro Municipal de São Paulo, sendo já uma das favoritas para a finalíssima. Com apenas um ponto a menos, "A Morte de Chico Preto", do sambista Geraldo Filme de Souza, o Gerardão da Barra Funda, foi também uma das boas musicas selecionadas na noite, embora a vigorosa interpretação da grande Clementina de Jesus tenha sido prejudicada pelo arranjo glamorizado do maestro Guio de Moraes, que utilizou cordas e metais (principalmente) em excesso, para um samba que exigiria um acompanhamento menos sofisticado. Como fez a inteligente Leci Brandão, que para acompanha-la no seu delicioso "Antes Que Eu Volte a Ser Nada" trouxe Os Originais do Samba e obtendo 91 pontos - quando, na verdade merecia bem mais. Uma nova dupla de compositores-interpretes de São Paulo, Luiz Octavio Burnier e Cláudio B> Cartier, - lançados em lp pela RCA Victor no final do ano passado - defenderam uma bonita música de conotações sociais ("Ficaram Nus", 89 pontos), que foi a quarta classificada. Tendo feito apenas 87 pontos "Morena, Moreninha", do jornalista Valgênio Rangel, repórter setorista da "Folha de São Paulo" no Aeroporto de Congonhas, não vai para a final, mas pelo seu balanço e estilo apropriado a grupo vocal (defendido por um conjunto chamado O Quarteto) não será surpresa se em breve for gravado pelo MPB-4, "Agonia de Uma Chama" (Dionisio Lopes Moreno, 35 pontos) "Carcaça" (Raimundo Marques Costa, 46 pontos) e "Farofa-fá" (Mauro Celso Semenzatto, 23 pontos) foram os momentos mais fracos da noite, enquanto "Cidade Americana", de Carlos Walker Soares Luna (Walker) e Luiz José de Lima e Souza (Piry) com 80 pontos não se classificou mas mereceu aplausos. Ao final, houve Gal Costa e João Donato - o instrumentista do ano - valorizando esta segunda etapa de "Abertura", a boa proposta musical da Rede Globo de Televisão para este inicio de temporada.
LEGENDA FOTO 1 - Gal.
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