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Aramis

Abertura (Opus 1)

Após um intermezzo de 3 anos, a realização de um festival de música popular, em novos esquemas, propostos pela Rede Globo de Televisão, já demonstrou na 1a eliminatória de "Abertura" (Canal 4, terça-feira, 21 às 22,45 horas) que esta mostra, em suas quatro fases permitirá um imparcial balanço do comportamento geral de nossa MPB, nesta metade de década. Embora sem a aguardada participação do criativo Hermetto Paschoal, com seu "O Porco na Festa", a primeira eliminatória teve na presença de Walter Franco, com seu "Muito Tudo", a presença vanguardista. Bem menos hermético e contestador do que "A Cabeça" - que no ultimo FIC (Guanabara, outubro/72), por ter sido classificada na fase nacional acabou levando todo o júri a destituição, inclusive a presidente Nara Leão, esta nova musica de Franco tem uma leveza - em letra e harmonia, e uma pastoral beleza - com uma leve homenagem a mais ingênua e pura fase da Bossa Nova - que justifica, plenamente, os 105 pontos atribuídos pelo júri - nota máxima entre todos os quatro selecionados para finalíssima. Com a execução baseada no violão - voz-flauta, "Muito Tudo", estrutura-se numa letra de uma simplicidade franciscina: "Apesar de tudo/É muito leve/ Existe João/ Existe John/Meat City/Apesar de muito/É tudo leve/ Penso que eu acredito/Pena que eu acredito/Apesar de tudo/É muito leve/Existe...". Outra das melhores surpresas da noite de terça-feira foi "Dança Espanhola Sobre a Cabeça" de José Márcio Pereira, professor de português, literatura e francês na PUC, ex-Tuca, com letra e musica de muita beleza - valorizada na interpretação do autor com apoio do grupo vocal Missão M. Raimundo Monte Santo, lançado em fins de 74 pelos discos Marcus Pereira, foi outro candidato que partiu para uma temática interessante: um baião chamado "Trabalhadores do Metrô" em parceria com Walter Marques, que mesmo que não fique entre os premiados, é valido pelas raízes brasileiras e homenagem aos homens que trabalham anonimamente na grande obra. Finalmente, da dupla Tom & Dito (Expedito Machado de Carvalho e Antônio Carlos Santos Pereira), "Tamanco Malandrinho", possui refrães na melhor linha de Antônio Carlos & Jocafe (que por sinal fizeram a abertura do Festival), facilmente assimiláveis pelo público e que justificou os aplausos aos 87 pontos dados pela comissão julgadora a esta composição - enquanto a votação maior ao experimental "Muito Tudo" não teve o mesmo apoio dos espectadores presentes no Teatro Municipal de São Paulo. Após musicas na base da guarania (Muzenza, Paulo Roberto de Oliveira Costa e José Luiz de França Penido, baianos), tango ("Que venha el Tango") dos goianos Silvio Pieres Barbosa e Carlos Antônio Brandão) e rock ("Súdito do Rei", dos paulistas Flávio Siqueira e Lúcia Taques Bittencourt) - felizmente desclassificadas - foi salutar ouvir, no final, antes de Nelson Gonçalves e Jorge Bem, um notável número reunindo Quinteto Viola, Banda de Pifanos de Caruaru e o acordeonista Dominguinhos, mostrando que ainda há (muita e de boa qualidade) musica brasileira - em suas raízes simples e autenticas, mais universal do que todas as importações e "pesquisas" pretendidas pelos cabeludos jovens da geração pop/eletrônica. LEGENDA FOTO 1 - Quinteto Violado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
09/01/1975

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