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Aramis

38 projetos estão a procura de Mecenas

Começou a circular na segunda feira, 23, uma publicação muito especial: "38 Projetos Culturais". É um volume sofisticadíssimo, 98 páginas, papel couchê, excelente apresentação gráfica - méritos à designer Teresa Cristina Montecelli - destinado a tentar sensibilizar executivos de empresas médias, grandes e mesmo multinacionais a financiarem a cultura no Paraná. O secretário René Dotti entendeu que se deveria fazer um volume enfeixando as mais variadas propostas em busca de financiamento e encarregou seu assessor especial Sebastião De França, a organizar o trabalho. Para as sras. Idete Frischmann e Herlene Taques, da Assessoria de Investimentos Culturais, o volume é uma alavanca capaz de fazer com que neste ano, com todas as indecisões advindas do Plano Verão, a participação do empresariado nos patrocínios culturais não seja tão tímida como foi nos últimos dois anos. Em 1987, apenas 45 doadores se estimularam a usar os benefícios da Lei Sarney - sendo seis pessoas físicas. No ano passado, este número pouco cresceu: apenas 51, onze dos quais pessoas físicas. Entre empresas estatais, apenas cinco participações - Banestado S/A - Corretora de Seguros e Crédito Financiamentos e Investimentos, Copel, Mineropar (extinta agora) e Badep. Em valores, não há informações na publicação. Antes mesmo de sair esta publicação, algumas cópias, xerocadas, já haviam sido enviadas aos possíveis mecenas que possam viabilizar ao menos 10% dos projetos pretendidos. O leque de opções é grande: através de sugestões de todas as coordenadorias, o analista Sebastião De França, ex-jornalista, assessor da Embrafilme que, por amizade a Renê Dotti, veio há oito meses para Curitiba, procurou agrupar os projetos que dependem de financiamento externo para serem realizados. Isto porque dentro da realidade econômica do Paraná - e da disposição do governador Álvaro Dias em concentrar recursos, o orçamento da Secretaria da Cultura continuará a ser o menor do Estado. Atualmente, enquanto não forem liberados os primeiros recursos, esta pasta está sem condições de arcar com qualquer compromisso financeiro. Verba no papel existe mas no Banestado, em sua conta, a situação é de penúria. Claro que é uma situação temporária, pois os primeiros recursos - mínimos, é claro - serão liberados já nas próximas semanas. xxx Há projetos caros e pretensiosos, com longínquas chances de conseguirem patrocínio, até idéias simples, capazes de serem viabilizadas com esquemas baratos. Por exemplo, Valêncio Xavier, do Museu da Imagem e do Som, propôs um projeto para resgatar a memória de pessoas de 80 anos ou mais, moradores em todo o Estado, "cujos testemunhos, ricos em passagens, históricas e vivências, serão decisivos para o encontro da verdadeira identidade do Paraná". O custo previsto para desenvolvimento do projeto é de 3.000 OTNs (todos os cálculos foram feitos com base neste valor, que agora terá que ser substituído frente às novas regras do jogo econômico). Outro projeto econômico (1.100 OTNs) parece meio deslocado - e caberia mais apropriado à Secretaria Municipal da Cultura: uma pesquisa de campo junto à população a respeito da Rua das Flores, "de forma a conscientizá-la sobre a importância de reconhecer e valorizar seu patrimônio cultural, representando pelo conjunto de bens móveis e imóveis". Como o prefeito Jaime Lerner tem a Rua das Flores como menina dos olhos - e o arquiteto Abrão Assad já estuda um projeto para fazer a sua recuperação - este projeto caberia muito ao município do que ao Estado. Mas consta do elenco de proposta da Secretaria da Cultura. xxx A Casa João Turin também entrou entre os projetos a procura de financiamento (5.800 OTNs). Só que a Casa (Rua Mateus Leme, 38) já foi inaugurada. Apesar de concretizar uma lei estadual (nº 1538) de 35 anos passados (02/12/53), muitos indagam se não teria sido mais lógico concentrar o acervo do escultor João Turin (1880/1949) no Museu de Arte Paranaense - criado a toque de caixa no final da administração João Elísio, e que até hoje está às moscas, sem acervo maior, do que ter estabelecido mais uma unidade cultural para a cidade? xxx Há programas interessantes que precisam de bons recursos para serem realizados. Por exemplo, se alguma empresa se dispor a investir 5.000 OTNs será possível desenvolver pesquisas, divulgar e estimular um turismo ecológico em trechos dos antigos caminhos coloniais (Arraial, Itupava, Graciosa, Conceição) que ligavam Curitiba ao Litoral. Outro projeto de custo viável (1.500 OTNs) é "História do Paraná, Gravando", que consiste na gravação em áudio de cursos sobre os mais variados aspectos da nossa história, a ser desenvolvido por especialistas e com transmissão dos programas pela Rádio Estadual do Paraná. Para atingir o interior, inicialmente nos municípios de Antonina, Palmeira, Castro, Santa Helena e São Mateus do Sul - há o programa de organização, acondicionamento, restauro e divulgação/produção de documentos dos Arquivos Municipais, com um custo de 416 OTNs por município. Um projeto sólido e que poderia encontrar em alguma empresa do setor de mineração o apoio necessário: cadastramento de sítios arqueológicos (custo de 4.136 OTNs). Trata-se de identificação de sítios arqueológicos, em uma operação urgente de salvamento daqueles ameaçados pela intervenção do homem, uma vez que estão concentrados dentro das baías de Antonina, Paranaguá e Guaratuba. LEGENDA FOTO - Ampliação da Biblioteca Pública: só com mecenas doando 200 mil OTNs.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
26/01/1989

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