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Aramis

A visão da mulher com o talento de Marília

Há dois anos acontece algo muito interessante no teatro brasileiro: um espetáculo formado por vários sketches de um mesmo autor - o italiano Dario Fó (em colaboração com sua esposa, Franca Rame) - vem sendo encenado, com sucesso, por duas diferentes (e excelentes) atrizes: a paranaense Denise Stocklos e a carioca Marília Pêra. Denise, paranaense de Irati, hoje considerada a melhor mímica do País, já internacionalizando sua carreira, escolheu cinco sketches de Dario Fó e montou "Um Orgasmo Adulto Escapa do Zoo", que teve longas temporadas em São Paulo e Rio de Janeiro, foi levada a dezenas de outras cidades, mas, em Curitiba, só teve duas solitárias apresentações no Teatro do Paiol. Marília Pêra, partindo dos mesmos textos - mas com uma outra leitura, sob direção de Roberto Vigna, escolheu também cinco sketches (três idênticos aos de Denise) e desde julho de 1984 faz sucesso com "Brincando em Cima Daquilo", que agora terá uma temporada em Curitiba (auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, a partir do dia 10, quinta-feira). xxx Excelente atriz de palco e cinema (vide suas atuações em "O Rei da Noite" e "Pixote", de Hector Babenco), Marília Pêra está magnífica nos sketches de Fó e Franca que, basicamente, têm uma unidade temática: a situação da mulher na sociedade moderna. Afinal, desde os anos 50, Fó e Franca trabalham em textos de humor cáustico e aguda crítica social. O reconhecimento da crítica nacional tanto ao espetáculo de Denise, quanto à encenação de Marília, dirigida por Vignati, comprova a empatia destes textos contundentes, que por trás de um humor amargo, oferecem momentos de profunda reflexão. Marília Pêra inicia o espetáculo como a dona-de-casa da classe média, neurótica e amargurada, que cria as condições da própria opressão. Faz a seguir a mãe obsessiva que, na tentativa de vigiar um filho em passeatas no mundo das drogas, chega à descoberta de si mesma. Em "O Estupro", a seqüência mais dramática, ela interpreta em silêncio, enquanto ouve, numa gravação, sua própria narração das violências que sofreu. "O Despertar" traz a operária que, apesar de seus problemas, ainda busca o amor e uma qualidade de vida superior no casamento. Enfim, no monólogo final, "Temos Todas a Mesma História Para Contar", Marília é a mulher que discute de igual para igual com o companheiro, e depois de uma tentativa de aborto e de um parto, conta à filha uma história delirante e escatológica. xxx Ótimo que "Brincando em Cima Daquilo" tenha uma temporada curitibana. Afinal a mediocridade da programação artística da Fundação Teatro Guaíra, neste início de ano, estava a desanimar a quem exige um pouco mais de qualidade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
09/04/1986

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