A vida (e morte) de Joe, o dramaturgo, no cinema
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de fevereiro de 1989
Enquanto "Dangerous Liaisons", a segunda versão à tela do clássico romance de Pierre Chordelos de Laclos (1741-1803) abriu no último dia 10 o 39o. Festival Internacional de Cinema de Berlim - numa confirmação do talento do inglês Stephen Frears, finalmente reconhecido nos EUA, chega à Curitiba o seu polêmico "O Amor Não Tem Sexo" (Prick Up Your Ears), realizado em 1987 e que vem causando discussões em vários países - ao mesmo tempo que promove uma redescoberta da obra do dramaturgo inglês Joe Orton (1933-1967), biografado neste filme.
Em 1986, com "Minha Querida Lavadeira" (My Beautiful Laundrette), há meses em vídeo selado, mas inédito em 35mm em Curitiba, Frears era a revelação do III Festival Internacional de Cinema, Vídeo e Televisão, levando o Tucano de Ouro. Mas nem com esta importante premiação os distribuidores apressaram-se em trazer seus filmes.
"O Amor Não Tem Sexo", de Frears, estréia nesta semana (Bristol, cinco sessões), cortando a carreira de "Um Robô em Curto Circuito" que, se fosse mantido em cartaz, poderia atingir maior parcela de público.
Em São Paulo, o lançamento de "O Amor Não Tem Sexo" coincidiu com a estréia de "Olho Azul da Falecida" (Loot), peça escrita por Joe Orton em 1964, e que numa segunda encenação feita agora no Brasil (a primeira é de 1976, direção de Maurice Vaneau), confirmou o talento do curitibano Marcelo Marchioro como diretor (no elenco estão Paulo Goulart e sua filha Barbara Bruno). Obviamente que a coincidência do filme sobre Joe Orton estrear paralelamente à montagem da peça (que continua em cartaz no Teatro Paiol, Rua Amaral Gurgel, 164, São Paulo; temporada para Curitiba ainda sem data) ajudou com que o filme de Stephen Frears tivesse bom público. Em Curitiba, se não houver um interesse ao menos da comunidade gay e da classe teatral "Prick Up Your Ears" passará despercebido.
José Carlos Camargo, da Folha de São Paulo, escreveu que "com a participação sempre importante de Vanessa Redgrave no papel de amiga e agente do escritor, Peggy Hamsey, "O Amor Não Tem Sexo", apesar de não mentir em nenhum momento sobre sua vida - foi baseado na biografia feita por John Lahr, com o mesmo nome - suaviza a promiscuidade à qual Orton - o incrivelmente semelhante Gary Oldman (Sid Vicious em "Sid and Nancy/O Amor Mata, de Alex Cord) - e explica apenas de maneira superficial a complexa relação entre ele e eu namorado Kenneth Hallwell (Alfred Molina)". E foi justamente seu amante, Hallwell, que assassinou, a marteladas, Joe Orton, há 21 anos - depois de um relacionamento doentio e difícil - do qual se saberá vendo o filme.
A semana tem boas reprises: "Nunca Fomos Tão Felizes", de Murilo Salles, com Cláudio Marzo, Roberto Bataglia e Suzana Vieira (Groff), "Feliz Ano Velho, de Roberto Gervitz (Guarani); "Camila", da argentina Maria Luiza Bamberg, com a ótima Susu Pecoraro (estrela de "El Sur", último filme de Fernando Solanas) (Cine Luz).
Há também uma estréia - misto de science-fiction e terror com eletricidade - "Choque Mortal" (Pulse), de Paul Golding, com Cliff de Young, Roxanne Hart e Joe Lawrence (São João, cinco sessões). No mais, a programação se mantém inalterável.
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