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Aramis

Uma homenagem ao antigo Gymnásio

A história do antigo Gymnásio está diretamente associada à da própria comunidade paranaense, sobretudo a curitibana, já que seus ex-alunos conseguiram - em sua grande maioria - projetar-se nas diversas carreiras profissionais que escolheram e se dedicaram. Assim como os mais renomados professores ditavam a formação intermediária no exigente colégio da época, seus estudantes souberam assimilar tal experiência para ajudar a ilustrar a história do Estado. Nomes de maior relevância nos meios jurídicos, médicos, políticos e culturais, dentre outras atividades, integram as listas de ginasianos do Paranaense, agora homenageados pela Secretaria de Estado da Cultura, cujo prédio-sede recém restaurado pertenceu ao Gymnásio Paranaense na primeira metade deste século. A solenidade acontece na próxima quarta-feira, às 11 horas, e dela faz parte a benção das dependências da Secretaria, que procurou resgatar suas características originais. O ato será conduzido por Dom Jerônimo Mazzarotto, único dos antigos professores ainda vivo. Durante a cerimônia no prédio da Secretaria, será inaugurada mostra de fotos e documentos do Gymnásio, denominada "Reminiscências"; haverá lançamento oficial do livro "Gymnásio Paranaense 1903-1990", do professor Ernani da Costa Straube, também ex-aluno; e apresentação do coral do Colégio Estadual do Paraná, sob regência da professora Else Maria Pacheco de Carvalho. O médico Moyses Paciornick, formando de 1933, foi convidado para ser o orador em nome dos ex-alunos, não escondendo sua satisfação pelo evento, principalmente porque ele praticamente coincide com o tradicional festejo promovido por sua turma, desde 1933, sem nunca ter falhado sequer um ano. A metade dos 120 alunos daquela turma, que ainda está viva, promove, na segunda-feira, em Santa Felicidade, o jantar de confraternização que envolve familiares, inclusive netos e bisnetos. Integram o grupo de formandos, dentre outros, os médicos Sady Pizzato e Arnoldo Boscardin, o psicólogo Orlando Mello, os cirurgiões dentistas Arquimedes Bocchino e José Ferreira e o desembargador Alceste Ribas de Macedo. Paciornick, profissional de renome internacional, não deixa de rememorar a imponência que representava o Gymnásio, onde não apenas os professores mais privilegiados tinham acesso, como também os alunos enfrentavam os rigorosos critérios para ter acesso à escola, que era gratuita, mas comparável aos estabelecimentos mais exigentes existentes nos EUA e Europa, hoje. Ginasianos famosos A homenagem a ser feita pela Secretaria da Cultura é extensiva a todos os ginasianos, anônimos ou não. São centenas de pessoas que estudaram e se formaram na atual sede da Secretaria ou nos demais prédios que abrigaram o Gymnásio. Ao relacionar seus alunos, conforme registros das várias épocas, a Secretaria detectou nomes expressivos da comunidade paranaense, do passado e do presente. Formam o corpo de ex-alunos os desembargadores Ildefonso Marques, Alceste de Macedo, Ariel Ferreira do Amaral, Eros Nascimento Gradowski e Henrique Lenz César; professores Emílio Leão de Mattos Sounis, Osvaldo Arns, Luís Pilotto, Ernani Straube, Eloir Blanck e Lauro Esmanhoto (recém falecido); artistas e escritores Fernando Perneta Vellozo, Vasco Taborda Ribas, Poty Lazarotto e Dalton Trevisan; ex-prefeito de Curitiba Saul Raiz; e vice-prefeito Adhail Sprenger; senador Afonso Camargo; general Luiz Carlos Tourinho; e Valfrido Pilotto, dentre inúmeros outros. Ligação afetiva Para Ernani Straube, escrever sobre "O Prédio do Gymnásio" foi emocionante. "Entre 1932 à 1937, meu pai, Guido Straube, foi diretor do colégio e nessa época - ainda criança - não tinha onde ficar porque minha mãe trabalhava num consultório dentário e não podia me levar; então eu vinha com meu pai e ficava no gabinete, desenhando, brincando ou passeando pelo prédio. Mais tarde estudei e concluí meus estudos nesse mesmo colégio. As emoções, as lembranças dessa época foram marcantes para mim", narra Ernani. Sempre às voltas com o meio escolar, Straube já publicou um outro livro sobre Manoel da Fonseca Lima e Silva - o Barão do Suruí - fundador do Colégio Estadual (da Avenida João Gualberto). Foi ainda professor, diretor-geral e diretor auxiliar do Colégio Estadual. Atuou também como primeiro inspetor regional de Curitiba, mais tarde, foi convidado pelo então secretário de Educação, Véspero Mendes, para ser diretor-geral. O prédio Em 1903 foi iniciada a construção do prédio por uma planta do engenheiro e professor de trigonometria e geometria, Afonso Teixeira de Freitas. O projeto do professor foi muito admirado porque continha uma estrutura arquitetônica bem diferente dos demais prédios daquela época. O prédio seria de dois andares, janelas amplas em forma de arcos romanos, além de detalhes nas grades da sacada de símbolos republicanos. Inaugurado oficialmente em 1904, pelo então presidente da República Francisco Xavier da Silva, o "Gymnásio Paranaense" passou a ser uma espécie de ponto de referência para a população. "Quem passava pelo colégio, exclamava: Olha o prédio do Gymnásio! Era de um orgulho imenso exibir o uniforme do colégio", conta Ernani Straube. Ele relata também que uma vez o presidente da República, Afonso Pena, esteve em Curitiba e veio conhecer o estabelecimento, e disse: "Mas isso aqui é um palacete!", admirando-se. Entre 1933 e 1934, foi criado o cinema educativo, fato importante que até o professor Straube narra em seu livro. Era o único colégio do Paraná que exibia filmes com som e imagem sincronizados - foi um furor na cidade - todos os jornais publicaram fartamente a notícia pelo fato do colégio fazer sessões noturnas no Salão do prédio (hoje Auditório Brasílio Itiberê). As sessões educativas eram dirigidas ao público em geral e aos alunos. As exibições eram variadas e tratavam sobre tuberculose, higiene, comportamento, entre outros temas. Um dos primeiros estabelecimentos de ensino do Brasil a usar o recurso - cinema educativo - foi o " Gymnásio Paranaense" que tinha como objetivo ampliar todos os conhecimentos didáticos dos alunos para que não ficassem restritos apenas às informações dos livros e professores. Em 1943 foi criado o curso de madureza que atendia no período da noite os alunos que trabalhavam durante o dia no comércio. Foi um grande avanço para a época. No Paraná o curso foi pioneiro. Dois anos depois, foi criado o curso complementar que era constituído dos cinco anos do curso fundamental mais dois anos do complementar. Esse era subdividido em pré-jurídico (direito), pré-médico (medicina, odontologia e farmácia) e o pré-engenheiro (engenharia). Houve grande concentração de pessoas interessadas em fazer os cursos principalmente para pré-médico e pré-engenheiro. Em 1942, o " Gymnásio Paranaense" passou a "Colégio Paranaense" devido a reforma de ensino (Capanema), permanecendo no mesmo prédio por mais algum tempo. O colégio permaneceu ali com todos os anexos até que chegou um momento em que o número de alunos começou a triplicar surgindo então a necessidade de retirar aquelas unidades que estavam ali instaladas. Uma das primeiras a sair foi a Escola Normal e a Biblioteca. Em 1950, o colégio passa a funcionar na Avenida João Gualberto, atual Colégio Estadual. Único professor Curitibano de Santa Felicidade, Dom Jerônimo Mazzarotto, hoje com 93 anos, foi padre, educador e primeiro Reitor da Universidade Católica do Paraná. É o único professor vivo do antigo "Gymnásio Paranaense". Atualmente como Bispo Emérito de Curitiba, Dom Jerônimo guarda bons "episódios" como ele mesmo diz, da época em que foi professor de filosofia. "Os alunos eram muito esforçados, tinham capacidade e valor para aprender, por outro lado, outras vezes insultavam os padres com provocações e brincadeiras marotas. Mas era divertido", recorda. Para ele, o Colégio Paranaense - desde sua fundação - foi considerado um colégio de padrão para o Estado, equiparado ao Colégio D. Pedro II, no Rio de Janeiro, no qual se modelavam todos os outros. "O Gymnásio era o único que preparava alunos para a universidade. Por ele, passaram uma ou mais gerações de jovens que depois cursando a universidade fora do Estado ou aqui mesmo, ocuparam cargos de grande responsabilidade à sociedade nos altos cargos políticos, administrativos, culturais, científicos. Esses alunos souberam honrar e perpetuar seus nomes através da geração atual, servindo de estímulo e modelo para a mocidade de hoje", valoriza Dom Jerônimo. Na década de 30 quando ingressou no ginásio para lecionar filosofia e história da filosofia, Dom Jerônimo atuou ao lado de professores como Lysimaco Ferreira da Costa, Guido Straube, Valdomiro de Freitas, Dario Vellozo e Algacyr Munhoz Mader (autor de uma série de livros de matemática). Atualmente, ele ainda atende à alguns compromissos religiosos, apesar de estar aposentado como Bispo. Um dos seus maiores empenhos foi em idealizar e construir a Igreja Santa Terezinha (na Visconde de Guarapuava), depois de ter recebido uma graça da santa. Foi também fundador da Ação Social Teresiana. LEGENDA FOTO - O salão nobre do então Gymnásio Paranaense: instalação em 1933.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
2
09/12/1990

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