Login do usuário

Aramis

As rosas da praça do poeta Cartola

Além de ter sido um dos organizadores da mostra << A Benção, Quelé >>, reunindo óleos, desenhos e gravuras de nomes famosos sobre Clementina de Jesus (inauguração dia 16, na galeria Rodrigo Andrade, Rio), o poeta Hermínio Belo de Carvalho, consultor de projetos especiais da Fundação Nacional das Artes, se empenhou num belo movimento: dar o nome de << As Rosas Não Falam >> à praça localizada na Rua Edgard Werneck, em Jacarepaguá, onde reside Cartola (Agenor de Oliveira). O movimento de Hermínio foi iniciado em abril do ano passado e terminou somente há poucos dias, quando a Câmara do Rio aprovou, em segunda discussão, o projeto do vereador Fleming Furtado (PDS), prestando esta homenagem ao autor da << Alvorada >> aliás, parceria com Hermínio e Carlos cachaça. Em 10 de abril de 1979 Hermínio encaminhava a Mário Ferreira Sophia, diretor de Parques e Jardins do Rio, uma carta que merece ser transcrita: << Prezado Senhor/ a gente (nós, marginais poetas) fica idealizado que as praças e ruas deveria ter nomes líricos, que fossem arbonizadas e que proporcionassem aos seus moradores qualquer coisa parecida com aquele Rio de Janeiro que a gente ouviu falar, e que mesmo não sendo nostálgicos, nos provoca uma certa nostalgia... Isto tudo tem a ver com a Rua Edgard Werneck habitada pelo poeta Cartola e que nós, seus admiradores, gostariamos de ver com uma praça que tivesse as silenciosas rosas que ele canta em seu samba imortal. Seria uma forma de se retribuir ao poeta (assim como fizeram com Pixinguinha, ainda em vida) pelo muito que ele nos deu nestes 70 anos de vida: uma praça com seu nome, diante de sua varanda, onde ele é Zica poderão saber a cada novo dia que ainda não nos desumanizamos a ponto de desconhecer que << As Rosas Não Falam >>, mas que traduzem muita coisa mais. Peço deferimento, o mais poético possível. *** Passaram se seis meses e como a mensagem de Hermínio não teve o resultado esperado, o poeta voltou à carga. Escreveu ao escritor José Rubens Fonseca, diretor do Departamento Geral de Cultura do Rio de Janeiro, a seguinte carta: << José Rubens, falei hoje com o Carlos Alberto, e ele me informou que há um decreto proibido nomes de pessoas vivas em ruas, praças públicas - você deve estar por dentro, não é? Tudo isso vem a propósito de uma praça que sugerimos à Diretoria de Parques e Jardins construir em frente à casa de Cartola, em Jacarepaguá. Queriamos que a chamassem de << As Rosas Não Falam >>, como aliás, devidamente perguntado, o meu parceiro e afilhado sugeriu. Não pode, tudo bem, Carlos Alberto sugeriu que se homenageasse Cartola com uma placa (ele faz 71 anos dia 10 de outubro); é coisa pro velho não ficar frustado em não ver sua praça com o nome que sonhou. Há nisso tudo detalhes que a gente só pode conversar pessoalmente. Um abraço do Hermínio >>. *** Afinal, a praça ganhou o nome. e se fez justiça a uma boa idéia. *** Como em Curitiba, o próprio prefeito Jaime Lerner toma inicativas simpáticas - como designar denominar de Vinícius de Moraes e auditório do Teatro do Paiol, não é sem razão que Hermínio se transformou em (mais um) admirados nacional de Lerner. A quem, aliás, fez uma série de oportunas, inteligentes e poéticas sugestões que, agora, com os novos tempos que podem advir, poderão se transformar em realidade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
18/07/1980

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br